
Procuro A palavra que me falta
Não a conheço ainda porque nunca a pronunciei
Mas imagino-a
Como imaginava antes de saber falar, todas as outras palavras que vieram até mim, sem que as procurasse
Sinto-lhe a falta como se ela fosse a única capaz de me tirar deste silêncio
É algo estranho esta minha necessidade, quase doentia, de encontrar A Palavra
É como se ela fosse minha, sem antes me ter sido dada
Como se fosse só minha e de mais ninguém
Sei que existe algures
Em mim…
Fora de mim tantas vezes também
Mas não me surge assim inteira
Repleta das sílabas que sei que a formam bela e verdadeira
Como só ela, A Palavra, pode ser
Persigo-a até a exaustão
Sinto-lhe a presença mas foge-me
Como sombra, quando me viro, ela simplesmente foge para trás de mim
Como se invertesse o jogo do apanha
Não a encontrando debaixo, ou na ponta de língua
Não se cruzando na linha das outras
Faltando-se a si própria
Quando nem como as cerejas consegue ser
Embora rubra
Embora redonda
Embora apetitosa
Foge-me, deixando-me a salivar de boca aberta
Neste desejo que lhe tenho
E é principalmente à noite, que contrariamente ao que seria suposto, ela mais me foge
Não dorme
A palavra nunca dorme, como se vivesse de uma força interior, de sabe-se lá o quê, de que força é feita uma palavra fugidia?
No escuro, volto a pressentir a sua existência
Sem nunca antes a ter escrito, lido ou pronunciado
Ela, A Palavra, existe principalmente na sombra
Do que eu poderia dizer
No que poderia ter escrito
No que desejava tanto ler
E naquele silêncio, quase sepulcral, em que se sente a morte do que poderia ter sido se a tivesse encontrado antes, talvez até na hora mais incerta, talvez no local mais impróprio, talvez num tom de voz quase inaudível ou numa letra indecifrável, sinto a certeza da sua existência quando finalmente, a leio com a ponta dos meus dedos, no teu corpo.
Acredito que cada um de nós viaja nos textos que lê, ajustando as coordenadas do mesmo ao trajecto do seu pulsar. “És um corte minha”, foi o que veio á mente quando li o final do texto, mas este “és um corte minha” nada tem de depreciativo, pelo contrário, foi expressão que saiu, com uma dose de satisfação. O texto levou-me em seu tempo a tentar entender a tua procura da palavra por descobrir, e no final dás aquilo que eu chamo de nó cego. Um estilo muito teu que deixa o que escreves quase sem muita margem a comentários. Mais um texto de eleição com que presenteias. 1Bj e obrigado, pois é um prazer ler-te
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