Com_traste

Com_traste

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Antídoto





Talvez num beijo encantado
Ou um qualquer liquido incolor
Traga o remédio
Para o tédio
Com ou sem dor
E mate
A agonia
A coisa escura e fria
Que em todos nós foi semeada
Nada justifica este fado
A não ser a própria condição
Do ser
Eternamente insatisfeito
E consciente
Deveria ser proibido
E matar à nascença a cria
Inadaptada desde o ventre
Que chorou só pra fingir ser gente
E depois passa a vida a negar a evidencia
Que se é igual ao reflexo
E que a sombra é um sonho nocturno
Ou uma leve lembrança intra-uterina




Caracol caracol põe os corninhos ao sol



Por vezes perdemos a noção de nós
Vamos ali num até já
Num bafo de vinho
Num som profundo
Num olhar vazio
Umas vezes…crescemos em verdade
Outras há que nos descobrimos ridículos
Pequenos
Contraditórios
Exagerados
Arrogantes
Ventríloquos
Descontrolados
Depois?
Há o sol a nascer e um acordar para…
Aquilo a que chamamos realidade
Sem nunca chegarmos a descobrir
Porque teimamos em fazer como o caracol
E o que faríamos se o sol não teimasse em nascer
Tenho um fascínio especial
Pelo marginal que nem se incomoda com a luz do dia
E é tão constante e sábio!







Mais olhos que barriga


Não me perguntem o que tenho
Perguntem o que vos falta
Não me dêem o ombro
Levantem o vosso braço
Não vos doa a minha dor
Se eu grito há tanto
E nunca me ouviram
Não desgosto do facto da empatia
Que embora fictícia surja
Traz nela a possibilidade de ser genuína
Mas eu
Eu já nem sou uma menina
E aprendi há muito a viver sozinha
E com aqueles que me basta olhar…
Nas memórias
E em gestos oportunos
Silenciados
E verdadeiros
E não há nada melhor
Que abraçar um amigo
Sincero
Não os preciso escolher
São eles que sobressaem no meio da multidão







A forma dos sonhos

O bicho de conta contou-me um dia
O conto do sonho humano
E naquela bola pequena que prendi nos dedos
Tive um mundo
E um brilhos nos olhos
Que gostaria de poder ainda ver no meu menino
Quando que lhe conto que o Rei era bom
E a fada deu o condão aos homens
De serem iguais
E ele ri
Há muito que só me aparecem bichos do mato
Que não fazem de conta
Não criam
Não sonham
E por isso não acreditam
E não consegue
Contar
Do que somos capazes
Quando ousamos usar a magia do poder humano
Para o bem
Sem precisar de culpar um Deus ou um Diabo
Que desde sempre lutam
Mas só nós é que perdemos
Por nos faltar alguma coisa
Talvez
Que seguremos entre dois dedos
E que tenha o tamanho de um mundo





Cântico Negro

Canto-vos
O desencanto
A agonia
A magoa
A dor
Do amor e desamor
De quem quer tanto
E crê
Na existência una
Que possui a capacidade de gerar um ser
Um mundo
Mas que em agonia
Vem ao cimo do nível
Pedindo mais ar
Mais vontade
Mais luta
Mais capacidade e consciência
Mais gente em forma de multidão
Menos umbigo
Menos beija mão
Menos resignação
Menos paciência
Eu que me desconheço
Não quero morrer em vão
Mas hoje
Ou ontem
Já nem sei
Tomei na minha mão
Esta vontade
Este dom
Esta determinação
De ousar não temer a dor
Não temer a contradição
Da classe
Que fiz ainda inconsciente
Mas que mesmo sem ela saberia existir em mim
Esta vontade
De gritar em alta voz
NÂO
E dizer basta
Mais uma vez não nos erguemos
Enquanto seres
E se deixarmos que outros nos subjuguem
Nos menosprezem
Nos tirem a voz
A vontade e o pão
Então
Nada mais resta
E nós
Ou morremos à fome pedido migalhas
Ou nos fazemos maiores
Pela indignação
E nada de dizer em voz baixinha
Que me dói a alma
Que sofro
E não consigo mais
BASTA
Basta de ladainhas
E agora
Se alguém chorar
Se alguém gritar
Se alguém perder
Que não sejamos mais nós
E em choros erguemos a espada
Da ultima e derradeira opção
Que em cada homem
Depois do nada
Como por milagre surge na mão
A espada
Que dilacera
Que magoa
Que fere
Mas que o faz com razão
Há limites
Há limites para a nossa humilhação
E façamos dos cravos a cor rubra
Da razão
Mudemos a cor dos olhos
E deixemos o sangue sair das veias
Não
Não e Não
Já tenho mais nada a perder
Depois de me levarem a alma











quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Calibre 38


Era na meia de liga que escondia a arma
De um calibre ainda não classificado
Mulher de armas
Ou mulher armada em...
Determinação!
Fazia do uso da mesma
A única forma de conseguir viver em paz
Contradição
Dirão as vozes da esquina
Mas só ela sabia a arma que usava
E de balas da própria consciência
Enchia o canhão
Não era Deus nem Virgem Pura
Mas do mal sentia o cheiro ao longe
Quase tão rápida como a sombra
Puxava da arma
Tomava posição
Queimava mais que os dedos
Não receando consequências
Nada queria
Nada jogava
A não ser as balas
Que lançava sem temer o efeito boomerang
Por saber que não se morre do mal que não se tem


Bang Bang
Pum Pum
Calibre 38

Incompreensão




Não é humor
Porque até o riso parece plástico
Não é nada concreto
Palpável
Justificável
Objectivo
É uma sensação obscura
Que se entranha no ar que respiramos
E causa náuseas
A inteligência usada para fins pouco claros
Que no fundo é pura burrice
Parecem hienas
Bichos irritantes
Apenas porque se riem do nada
Terão consciência do ridículo e do contraditório de tal postura?
Quando olhos nos olhos são quase invisíveis
Crescem em postura com uma arrogância injustificada
Uma ironia de mau gosto
E quase aposto que se consolam mutuamente
Afagando egos maldizentes
Masturbação assistida
Pediria eu a Eutanásia
Para tais seres em decadência
Clemencia
Não fosse o perigo que tais criaturas transportam
E ao matar, ressurgissem iguais criaturas numa outra vida
Condenada desde logo à mesma condição
De viver com o negativo do ser humano
Num ar de gozo em decomposição
Impossível de definir

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Pecado final...


Há em mim um desdém
Por tudo que admiro e quero
Que me faz ser um ser em decadência
Consciente
Desta capacidade de “desgostar” o que se tem
Por talvez saber o que se é
Incapaz de gerir o misto
Do bicho
Que de uma maçã se fez
O dono do bem e do mal
E numa cruz artesanal
Num toque rústico e original
Me crucifico
E puno
Antes que um outro me dê a dentada
Que por ordem divina disfarçada
Fez do que se é
Um não ser
E dum osso que se roí desde as origem
Criou-se o mito da outra metade citrina
Da gente
Meio doce meio fel
Que em gomos repartimos
Em acto complacente fingimos
Doar as partes do ser que não gerimos
Apenas por temer o que se é
E eu
Tenho em mim este desdém
De uma costela que sem carne me alimenta
E mal pensa
Que sou carne da carne
De quem me fez
E a base que me sustenta
É espinha
Direita
E a ossada
Ao cão dou para que roa
E um dia
Devolvo em cova para que se cumpra
O mito
Do misto bicho que me contem


Crónicas Marcianas...


Dói-me as costas
O peito
E o dedo mindinho
Sofro de dores crónicas
Femininas que nunca li
Faço contas e não bate certo
Dizem que tenho mais anos dos que conto
E olhando para o BI
Assumo
Desconhecer o que fiz aos que não lembro
Mas em declaração oficial de contas
Decido aceitar o facto
E tenho eu tantos que nem lembro
Confirmo e assino em baixo
O facto comprovado por um parto
Que alguém me contou
Queria ser grande
E o tempo exagerado que me dão não chega
Limito-me a aceitar a limitação
Em redundância
Porque nada mais me resta que ser honesta
Não importa se me vejo petiz
Se choro e rio por vergonha
Se lambo os dedos gulosa
Se como a sopa contando cada colher
O corpo mente
A mente brinca
Eu
Envelheço obrigatoriamente
E mal desfiz o enxoval
Fazem-me a mortalha
Nem dei conta
Das contas que fazem para mim
E algo me foge a sete pés
Centopeia venenosa
Talvez idosa
A bicha
Feia e mal cheirosa
Levando as contas feitas e desfeitas
Como migalhas agarradas em patas
A contagem do tempo
Exageradamente contado
Que nego
E assumo
Por ser meu e confirmado
Desejando voltar atrás
Apenas por pena
Das aves que não voam
Em migrações interiores
Sonham
Com o que poderia fazer
Se pudesse voltar a renascer
Algures
Num tempo ido
Que desse origem à vida
Fecundada em aguas límpidas
E eu um peixe
Em metamorfose
Com opção de escolha

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Cama sutra


Vou escrever um manual
Que é como quem diz à mão
De todas as possibilidades de ser feliz
Numa linha…lida na ponta dos dedos
Como quem faz a cama
Destinada…
Talvez amanhã surja o ponto final
E desenhe as cenas
Num Post mortem
Best-seller
E doar os órgãos para a ciência

Medos I

Era uma vez uma noite
Escura
Fria
E ao longe ouvia-se um uivar estranho
Parecia humano
Parecia gente
Não havia lua
E o vento soprava forte
Um uivo ou um silvo da natureza
Os lobos há muito que desapareceram
E os homens
Os homens começaram a uivar
De forma ainda duvidosa
Por receio
Ou pena
Queriam tanto ser humanos…

solidão


A solidão
Somos nós sem nada
Nem nós mesmos estarmos presentes
Só ai existe a verdadeira solidão
Um vazio que nos ecoa na voz
Um corpo despido do mais intimo
E é ai que entendemos o quanto precisamos de nós
Nós…que não existe sem um outro
Porque ninguém se encontra sozinho

In..sabedoria de trazer por casa

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Chave Mestra


Se eu soubesse o segredo
Que esconde um outro que não eu
E se eu soubesse o meu
Facilitaria a vida e as coisas
Lamento
Lamento-me
Julgo-te
Julgo-me
Faço guerras em lágrimas nos meus olhos
Um mar de incompreensão que sai em soluço
Tantas vezes sufocado
Há tanto que odeio e desconheço
E tanto desconhecido que amo
Sou aquilo de que te acuso
E sou todo o contrário disso
Confuso?
Se eu soubesse o segredo…
Talvez a culpa seja minha
Ou não..
Talvez seja da condição humana
E o cabrão de um Deus sádico ter criado a gente assim
Canso-me a tentar descobrir a chave
E há dias em que todas as chaves abrem as portas por onde entro
Até aquelas por onde não quero entrar
Outros há em que todas as portas se encontram fechadas
E por mais que se procure…não há chave capaz de abrir seja o que for
O caminho deveria ser um corredor sem portas
Ou com portas abertas de par em par
E em todas as janelas poder espreitar segredos
Indiscretamente…




segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reencarnação


Era na mesa fria
Que deitada ela jazia
Mentido à vida
Morrendo um pouco
Num jeito rouco
Gemia
E da boca que gritava
A vida aos poucos embaciava
Toldando a visão
Como no deserto
O quente ao longe era perto
E mal morria surgia
Em boca de ousadia
Corpo de arco em triunfo
E nada mais existia
Era vida e morria
Era morte e vivia
Nua
Inteira
Escorregadia
Olhos em chamas e nada via
Uma e outra vez
ReEncarnava

Crónicas Marcianas- segunda via




O extravio por causa incerta
Da via em linha recta
Origina a desculpa
E a aceitação
Da uma outra condição
Que podendo alterar a rota
Ou simplesmente fazer da linha recta linha torta
Traz também o perdão
Da condenação do fado
E a fuga de um gás tóxico
Ajuda a respirar
O pobre condenado que do crime caducado
Violou a pena
Matou a vergonha
Sufocou o bom senso
Prendeu à cama o refém
Que bem preso como convêm
Calara a vontade de fuga
Pela via de uma outra oportunidade
Que um Deus na boca da humanidade
É todo amor
Todo bondade
E cala a própria razão
Haja dedo que aponte convicto
Na terra dos Homens manetas
Ou então haja o maldito
Do corno e pobre diabo
Que de todo o mal é acusado
E que morra agora ele por nós na cruz
E enquanto há vi(d)a há esperança
Nos Homens de boa vontade
Haja esta em quantidade
Que só existe um Adão
E por via das duvidas
O melhor é assobiar
Quem sabe se confessar
Em uma qualquer ladainha
O reino tenha Rei e Rainha
E nos cartas para dar
Nem que seja em segunda vi(d)a…

Passo a Passo



Não andava, corria
Talvez fosse aquela teimosa ideia de que um dia aprenderia a voar
Que a fazia escalar montanhas em segundos
Rebolar encostas de montes em soltas gargalhadas
Dançar em vez de caminhar
Não, não era pressa
Eram asas nos olhos
Sonhos nos cabelos
Esperanças de todas as cores a correr nas veias
Mas por vezes falta chão
Falta ar
Falta caminho
E ai tal como um pássaro no ninho
Espera que o tempo traga a segurança
Ou amaine o vento
E com tempo surge também a certeza
Que mesmo sendo ela correnteza
Poderá aprender a andar
Devagar
Haja chão
Que se eleve sob os seus pés
E lhe dê a certeza que voa
Passo a passo
Até ali…




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Jaz..digo


Dói-me a alma e o corpo
O cansaço e a consciência
Dói-me a demência
E a normalidade
Precisava de ter a extrema-unção
E depois ser livre para largar a mão da vida
E depois de absolvida
Poder viver sem vida
Em paz