Com_traste

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pé ante Pé


Shiuuuuuuuuuuuuuuuuuu
Pé ante pé
Desceu as escadas silenciosa
Passou pelas divisões onde já dormiam todos os pensamentos do dia
E as coisas vivas e quotidianas que de noite ficam inanimadas.
E ela mesmo assim ia descalça
Não fosse a noite ter-se esquecido de anoitecer a sério e o que pensava adormecido estivesse apenas a fingir-se ausente.
No corredor que liga estes dois espaços, ficava a estante do Entretanto..
Do que acontece Depois De… e Antes De…
Sentou-se no chão e percorreu com os olhos tudo o que ela continha
E num movimento brusco tomou a decisão!
Deitou pelo chão os entretantoS todos..e eram Tantos!
E deixou-se ficar a saborear o momento em que não se espera nada a não ser…o mel que ela escondia no fundo de um entre..tantoS…
Doce..
Pegajoso…
Escorria-lhe por entre os dedos enquanto o tentava saborear vagarosamente…querendo prolongar o momento Depois De..e Antes De..
E é assim que passaram a ser todos os seus entretantoS…doces e melosos…
Pé ante pé, voltou a passar pelas divisões das coisas que dormiam, subiu as escadas e deitou-se de novo..
Lambias os lábios doces e… EntreTanto amanheceu sorrindo…ela e o Depois De!


domingo, 29 de agosto de 2010

Não me peçam para acordar...


Sorrias assim daquele jeito que te faz menino
E eu rendia-me a cada gesto teu
Sentada na cadeira de baloiço olhava-te de longe
Eu e tu no alpendre com buganvílias roxas.
E a lua, iluminava-te o rosto como se fosse o único em terra
Não sei se existiram noites de verão tão quentes como aquela
Mas nem a brisa conseguia disfarçar o calor dos nossos corpos. Este, salpicava-nos a pele morena como o orvalho faz pela manhã às rosas…bebíamos apenas de nós com a certeza que nos bastávamos.
Sorria-te em cada palavra que lia nos teus olhos,
E tu não deixavas de falar tudo que já sonhara antes
Inventaste-me na letra de uma canção de momento
Eu, sem saber como, dançava em cada uma das cordas da guitarra que abraçavas.
A letra falava de homens e mulheres imaginários, das vidas, das mortes, dos sonhos feitos e desfeitos, do amor dado, do vendido, do esperado…e na tua voz tudo me parecia tão bonito!!
Sorria até nas frases triste…por saber minha a tua canção.
Amanheceu sem darmos conta…e ao acordar, na cadeira já sem baloiço, foi como se nunca tivesse adormecido antes.
Tive um sonho num alpendre com buganvílias roxas…sonhar deve ser assim!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Era uma vez...ainda!


Há um lago ao fundo do caminho
Era de uma cor incerta, uns dias ao olha-lo parecia azul, de um azul que só existe nos teus olhos quando te ris ( quando te ris, os teus olhos possuem todas as cores do arco-íris)
Outros, era levemente verde, como a brisa da tarde de primavera e nadavam nele as almas nuas das sereias, só podendo ser vistas pelos pescadores de sonhos.
Nos dias em que negro ficava, a chuva caia no sentido das nuvens de tal forma que seria impossível andar com os pés no chão. E era lodo, limos imundos, a tornar o lago num pântano de onde saiam todos os monstros das histórias em que não se é feliz, nem mesmo no fim.
À volta do lago os malmequeres desfilavam vaidosos, mostrando as pétalas coloridas às borboletas sem asas que se arrastavam por ali. Todas elas saberiam que um dia teriam asas das cores dos malmequeres que as cativaram antes.
O caminho que levava ao lago era de terra vermelha, daquele barro com que se fizeram todas as coisas e os homens.
Era raro encontrar pegadas recentes, todas as marcas eram antigas, umas levemente visíveis e outras bem marcadas e exageradamente grandes…havia quem dissesse que dava azar pisar numa pegada de antes, e cada vez que por lá passavam era vê-los saltitar como tolos, apenas para não correr o risco de constatar a mentira.
As pegadas recentes, por não existirem, não tornavam os homens tão tolos como as pegadas antigas..mas havia quem as conseguisse sentir pelo tacto…e só quem andasse descalço saberia ao certo se passara por ali alguém recentemente. Este facto dava aos homens pobres um poder especial e nunca mais quiseram andar calçados, mesmo se o pudessem fazer.
Este caminho que levava ao lago tinha curvas apenas nas subidas, havia quem levasse dias a conseguir chegar ao lago, principalmente se fossem homens calçados.
Nas bermas, as árvores tinham os troncos desproporcionais às copas, levando a crer a quem passava, que não se aguentariam muito na primavera quando chegasse a altura de terem frutos. Mas nessa altura, curvavam-se no sentido oposto a quem passava , como que a abrir caminho ou a evitar dar cuidados desnecessários. E não consta que alguma delas tenha cedido ao peso da vida…desde ai se diz que elas morrem de pé, mas é apenas a ignorância dos homens calçados que o diz, porque os homens descalços, tal como sentem o presente, também sabem que há coisas imortais.
Quando alguém chega ao lago, e dependendo da altura do ano em causa, é quando acontecem os milagres.
Se estiveres a rir, os homens que nadarem nus no lago sentirão o valor do esforço do caminho e morrerão como as árvores..
Se chover na direcção do céu, só os homens descalços saberão que existem sereias e transformam-se em peixes voadores. Os calçados apenas podem ouvir os cânticos mas nunca o dirão a ninguém.
Se houver lodo, dependerá da escolha de cada um a possibilidade de encontrar o caminho de volta.
Contam que desde que o lago é lago, e desde que o barro da estrada deu origem às coisas e aos homens, que nestes dias poucos foram os que conseguiram regressar…mas todos os que o conseguiram vinha mais fortes, caminhavam juntos e cada um trazia apenas um sapato nos pés.
Há um lago no fim do caminho…








terça-feira, 24 de agosto de 2010

Não era bem isto..mas continua a confusão.alguem cala o galo?


A continuação que nem sabia que existia..
A história passava-se na altura em que há a consciência do erro e alguns animais falavam, dizem…
Embora sabendo todas as respostas, eles insistiam em se questionar todos os dias..falo dos animais sem consciência do erro ainda.
Logo pela manhã, era o galo que despertava e assim, meio como quem nem sabe qual é a sua obrigação na terra, cantava do alto do poleiro, abrindo as asas cheio de penas ao mesmo que o bico sem as ditas, deixando o mundo acordado para mais um dia de sol ..mesmo que fosse de Inverno.
E as pessoas acordavam alegres e contentes, lavando os sonhos dos olhos, pintando o tempo do rosto, vestindo a pele que escolheram no dia anterior.
E iam para a rua, seguindo em frente, virando à esquerda na rua da leitaria, descendo a rua da esperança. Subindo a da Fé, alguns paravam na rua da Caridade, mas logo de seguida seguiam em frente, rumo ao destino marcado.
Lá, na rua do destino, encontravam de tudo como nas feiras.
Alguns escolhiam o mesmo de todos os dias e eram trabalhadores de pica ponto, só parando para a bucha e almoço porque tinha mesmo que ser. Depois saiam à tardinha, apanhavam o meio de transporte auto programado pelo sistema, ligavam a RFM ou a Comercial (dependendo da onda de cada um) de regresso ao lar doce lar mesmo, que fossem diabéticos.
Os que iam a pé, paravam no parque ainda a tempo de olhar os pombos, ficavam sem saber se deviam dar milho ou maldizer a falta de ar que lhes causava a alergia às aves…na maioria das vezes faziam as duas coisas, um alérgico também pode ser amigo da natureza. Bastava que a senhora que se senta todas as tardes aquela hora no banco vermelho junto ao lago dos patos, se levantasse para ir gritar ao neto para que este não se sujasse (coisa que acontecia por voltas das 18 h e 47 m) que os nossos amigos, Pessoas com mobilidade reduzida ao tipo de sapato, ou aos calos, e sem FM ou comercial, pudessem puxar do outro que, sem ser criança, têm lá dentro…e quase que voam com as pombas a quem davam o milho que traziam escondido nos bolsos. Quase, só quase porque a Sr.ª voltava a sentar-se no banco passado os 4m e 12 segundos habituais e do bolso do milho saia novamente o lenço de risca azul anil para tapar a boca, enquanto abanando a cabeça se afastavam do local.

Outros, com menos convicção na máxima de que o trabalho por conta de outrem, honra e dignifica o homem, passam o dia a existir com convicção..digna e honradamente sem se cansarem muito. Uns têm gravatas ou borboleta (dependendo do tipo de fato ou se de facto o são), há os que tem umas grandes pastas, outros só secretária, há os que viajam muito para fora do pais e conhecem o Allgarve. Estes também sofre de alguns males, menores, dirão alguns, porque com os males dos outros…mas não constam que gostem de pombos, embora a columbofilia seja um passatempo considerado com algum interesse. É de bom tom ter alguns Hobbies mas há também quem tenha apenas bobys ou mordomo. Por vezes são olhados como “os outros”, “aqueles” que fazem o IRC e costumam ter médico de família.
Mas já o dia ia a meio quando se levantaram os outros ainda mais outros, os que não precisam de galo, mas de loucura para enfrentar o dia (deve ser assim tipo uma catatua), e esses fazem tudo o que gostam e com prazer. Uns pintam, outros escrevem, uns dançam e dão cambalhotas, outros há que fazem tudo, dançam enquanto pintam e dão cambalhotas enquanto escrevem…mas não constam que tenha grande saúde (suspiram muito e têm perdas de inspiração, mesmo nunca tido algo digno desse nome) nem são vistos por todos com bons olhos, depende muito do tipo de letra e das lentes que se usam..antigamente poderia ser também devido à falta de cultura, hoje pensa-se que não se pode atribuir culpas à dita pois há oportunidades novas. O dia destas pessoas começam geralmente quando não acordam dos sonhos, costuma ser noite e é vê-los como se tivessem a acordar…meio estremunhados e de cabelos sem muito pente. Uns são mais rústicos e passam os dias em bairros sociais, fazem do povo a força de inspiração e dizem-se o povo inspirado. Outros mais requintados, conhecem todas as palavras difíceis chegando mesmo a serem os próprios palavrões. A generalidade não gosta do acordo ortográfico embora gostem muito de invenções.
Um dia, na Rua do destino marcado, entre encontrões, buzinadelas, palavrões e alguma indiferença, cruzaram-se estes espécimes em hora de ponta…
E depois?
Porque raio tem que haver sempre um depois?
Mas consta que os animais já não falam como antes…e as pessoas continuam a errar, com ou sem grande consciência.
Esperemos que o galo cante pela manhã…que ele não gosta muito de Variações…se é para amanhã…que seja!




MATA Borrão


Precisava de mudar
Voltar atrás, fazer de novo.
Lembrava-se de como antigamente, nos bancos da escola em que vestia bibe e usava tranças com dois laçarotes na ponta, podia escrever cem vezes a palavra certa e quase de certezinha que não voltaria a errar.
Agora Sorria, por saber que era mais o peso do castigo, em forma de bruxa má e com uma mão bem pesada, do que o próprio acto de repetir correctamente, que a faziam lembrar que - Não era assim!!
Ou de como podia sempre sujar o vestido novo, ou partir a jarra antiquíssima da mãe, e com aquele olhar de menina assustada, disfarçando a maldade, dizia : foi sem querer!
Mas e agora?
De que vale escrever correctamente as palavras se depois, talvez por não haver outro castigo senão a própria consciência, haveria sempre uma próxima vez em que voltava a errar?
E tendo a noção do erro, erra vezes sem conta!
E se usasse corrector, assim como fazer de novo ou passar por cima?
Rasurava mas ficava sempre a marca, fingia que não doía mas era com tanta força que riscava por cima do erro que por vezes era inevitável o rasgar da pele.
Já usara lápis de carvão, embora fosse mais fácil de apagar deixava sempre a marca cinzenta..assim como sombra a pairar no ar, para que não se esquecesse de que mais uma vez voltara a cair na asneira de agir sem pensar.
Depois lembrou-se de como as cores davam um certo ar de festa a tudo o que fazia e passou a colorir com elas todos os seus dias. Pintou com lápis de cera, guache e aguarelas e fazia do destino uma tela, obra de arte diria, não fosse a técnica de dar ao erro uma outra cor muitos diriam que era um grande pintor! Fazia de qualquer pequeno erro ou da maior asneira , uma flor, um arco-íris, uma árvore, um pássaro ou até um castelo de nuvens… só ela sabia que antes a flor tinha sido um pequeno amor que ficará a meio caminho, ou que o arco-íris começara de uma dor daquelas que só a gente pensa que sente. Mas pintava e sorria, até que um belo dia achou que bastava de disfarçar e resolveu mudar .
Pegou na caneta de tinta permanente e com ar de gente inteligente, começou a escrever com todo o primor. Desenhava as letras como quem fazia sonhos, filhós de mel ou algodão doce, com tanto cuidado e lentidão, não lhe fosse fugir a mão ou algum outro horror…mas em cada hora nada mais surgia do que a primeira linha da sua história. Mal colocava o ponto redondinho com todo jeitinho no fim da linha simplesmente adormecia, e ficava assim como quem cai não cai…na folha pautada como uma princesa encantada.
Ao acordar sentia-se mal, pensou ser vertigens, doença rara ou até simples falta de vista, mas depois de olhar para o lindo ponto final, descobria que o seu mal era querer evitar errar e começava a matutar numa outra forma de poder escrever sem doer ao remediar.
Desta vez foi mesmo com pincel e sem se lembrar do papel, pintou o tecto, o chão, o cabelo, o nariz e as mãos. Estava tão entretida a pintar a própria vida, que nem reparou no boião de tinta que deixara ali pelo chão. Num gesto mais entusiasmado, deu um pontapé no coitado que este, mesmo sem gostar de se derramar sem ser para pintar e ficar, caiu de repelão no umbigo da criatura e assim como se fosse uma loucura, ela sem saber bem porquê, pensou:
- será que posso usar Mata Borrão?

(deve ter continuação…sei lá!!)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dança?



Nos lençóis de tempo feito
Desfazes-te das dor do corpo
Como panos de antigos partos quentes
E dança o corpo ardendo
Da febre que não passa
Contagia do mesmo mal a alma dormente
E pé ante pé
Suave o movimento aparente
Contradança sem par
em passos de um tango ausente.
Assim se enrola na cama de lençóis desfeitos
O tempo de um corpo em dança
Na alma a febre de um outro que sente.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

INQUIETA- QUIETA- MENTE


Inquieta…a mente de gente
Inquieta e faz-nos brincar
Como quem finge que nem pensa
Como quem faz de conta
Inquieta a alma
A voz
O sexo
Inquieta as mãos vazias
A barriga faminta
Inquieta o momento ausente
A escuridão da noite
A rua cheia de nada
A casa sem ti
Inquieta o sorriso que falta
Enquanto chora
E chora e ri
Inquieta a gargalhada nervosa
sorri
E ri e chora
Ri inquieta
Chora inquieta
Cada vez mais inquieta
Sozinha
Perde-se aqui e ali
Pensa que já nem pensa mais assim
Cá dentro, vagueia sem rumo
Lá fora, faz-se pensamento concreto de nada
E aparenta a inquietação que sente
Disfarça
É ausente
Sorri
Sente
Oh como sente!
Inquieta a mente
Inquieta
Perdidamente
Inquieta
E mente assim inquieta
Fingindo não estar assim
quieta mente!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Feira...pode ser uma qualquer, talvez uma terça!


Algodão na cabeça oca
Daquele que se enrola na língua
Sabendo a morango
Pegando as pontas dos dedos como cola.
É assim o pensamento quando te quero
Doce
E quando não te quero
Doce
Ao longe um carrossel
Indica o desnorte com música de realejo
Entro sem pagar
Sei que posso tornar-me invisível
Escolho o cavalo alado
Aquele que enquanto gira também sobe e desce
É aquele!
E deixo-me ficar… tonta
Mais
Mais ainda, digo fechando os olhos
Segura só com uma mão
Na outra as asas…
Mais e mais ainda.
E deixo que se enrole o algodão doce nos meus cabelos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LUTO/A



Fim
Sem pontos finais nos silêncios dos gritos
A urgência da morte que espera dentro de cada um nós
Veste-se de preto
Fingindo-se viúva da dor que não possui
Senta-se na sala de espera do pensamento mais longo
Riscando a sangue a parede com traços em decadência
Aguarda a hora em que nos entra bem dentro
Penetra sorrindo
Vitoriosa
E nós saberemos
Sim, saberemos reconhecer a dor do acto
Feito amor próprio disfarçado de infelicidade
Porque somos vermes que já consumimos a carne em vida
Putrefactos disfarçando o odor
lavando as almas em bacias publicas
Tão puros!
E agora, na hora que marcamos depois de tarde
Sentimos a força bruta da raiva contida nas veias
E palpita ainda, como vermes dentro de nós
Correndo de alto a baixo um corpo
Insensíveis à nossa morte
Dizemos a oração, cobertos com o véu da dança de antes
E em ladainhas sem fé
Pretendemos salvar a alma..pura

Crucifica-te
Ao mesmo tempo que te fazes mártir
Peca
Peca até ao fim…
Por te matares assim antes que a mesma te possua
O castigo, é a eternidade de te saberes tão forte
Que nem na morte que inventaste, te findas.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

YIN e YANG


yin e yang

Para o bem e para o mal
Fui
A luz e a escuridão
Maça com bicho de ilusão
Fruta fresca da paixão
Fui o doce da pele
O fel
O picante no chocolate
A menina das traças em teus olhos
A outra
A santa
A mulher prendada
Suada
usada
A louca
A falta de tempo
A eternidade
Fui
O sabor da tua boca
A constante incerta
Covarde de arma em punho
O sonho realizado
Quimera
A prosa na poesia
A mão dada e largada
A força bruta
A mimada
Fui palavra que não se forma por pudor
A letra soletrada do amor
A dor
Fui o laço de cetim e a corda da forca
Fui a saliva que te afoga
A seca que te alimenta
A contrabandista dos teus olhos
A proposta indecente
A recusa
A dedada do copo
O corpo amarrotado
A pureza do vinho derramado
Fui
Um fio de cabelo
Um brinco de prata
A jóia sem valor
A fortuna
Ingrata
Fui tonta
Criança
Gargalhada no soluço
A droga pura
O veneno sem antídoto
A morte anunciada
O esperma vertido no ventre infértil
Prenhe e parto
Fui
Água em cascata
A montanha e o vale
Fui eu e tu
Num nó(s) sem laços
Fui um Tanto de coisa tão Pouca
Fui Tudo de um Nada que se inventa
Quando o Eu… é uma Outra que a sustenta

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mari_Prosa


Desde sempre que era assim…
Doce como a conversa dos amantes
Livre como as palavras dos sábios.
Ela descia os montes soletrando sílabas
Pequenos sons, que continha ao tentar não cair
Corria pelas encostas das palavras mais bruscas
Dizendo todas as outras que saíam sem medo
Como que desafiando a queda dos palavrões escondidos.
Depois sorrindo aconchegava as palavras sem dono
Dando-lhe guarida no peito
Dando-lhe sentido nos sonhos.
Não passava um dia em que não risse com o vento
Ao ver que ele lhe roubava as palavras logo que saiam da boca.
Depois, ia brincar com eco e redescobria muitas outras que não dizia
Nas noites frias, enrolava-se em frases quentes
Para depois cobrir com ela os bons dias
e passear na rua os poemas sorridentes
Na primavera,
fazia jangadas de versos soltos para atravessar o rio do tempo
Gritando palavras ao vento fazia corar a terra.
Chegava o verão e ela lá ia,
De vestido de rosas bordadas no peito
Na cabeça um laço feito
E na mão, todas palavras das canções de romaria
Que dava depois a quem pedia,
dançavam as palavras que trazia
com todas as outras que ouvia
num baile daquela terra.
Era a moça mais bonita
A cachopa mais airosa
A moçoila mais prendada
Ela fazia do que via
E de tudo o que vivia
Palavras de amor
Palavras dadas.
Chamava-se Maria
E parecia as borboletas no campo.
E sempre que ela sorria ou alguma coisa dizia...

A “Mari…Prosa” voava.