Com_traste

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quarta-feira, 30 de junho de 2010

INVERSA...mente


Controversa…mente
Enrolada em pensamentos dispersos, difusos, divergentes da verdade criada.
Cresce conflituosamente entre o bem e o mal
Disputa a pura realidade com impura fantasia
Mente-se
Confessa-se
Promete-se una
Mais sã, mais ela, mais outra, mais controlada..mente
E no segundo que passa diverge nova..mente da sua anterior postura
Sem dar conta da eterna loucura
Segue inconsciente..mente na procura
Da que confusa pensa ser sua
Soltando-se entre uma e outra revolta
Em lapsos de memória
Em recordações sem tempo
Em factos nunca antes comprovados
Mente capta a contradição
da sua incapacidade de ser
E do seu ser capaz de iludir sem pena
A própria mente que a devora
Como polvo de fálicos tentáculos
Fecundando o corpo desnudo da alma pura
Deixando prenhe todas as que ousam pensar em si
Como donas do corpo que passeia
Sem pagarem o verdadeiro preço do conhecimento da mentira
E sabendo-se só ela a que dá à luz
Rebenta em águas a bolsa protectora
Da sua sanidade temporária
E em períodos mais sangrentos
Derrama o liquido sem represas
Deixando à vista as possíveis dores
Dos partos improváveis
E soluçando vómito
Aparenta agonia dos moribundos
Cuidadosa..mente deitada em leito desfeito
Aguardando um paraíso prometido
Ou o inferno onde passeia vaidosa
O diabo que sabe possuir.

domingo, 27 de junho de 2010

MORD..az


E de repente pousou a enxada.
Encostou o cabo ao tronco do chaparro e ficou-se ali a olhar as coisas como se fosse a primeira vez.
Não entendia o que fazia ali ao sol, cavando a terra ressequida, não fazia sentido deitar a semente à terra, cuidar da planta ainda frágil, ajudar a crescer a árvore, colher o fruto prometido e por fim….deliciar-se na dentada.
Depois voltar a deitar a semente à terra e, de forma estúpida, repetir o ritual.
E se mudasse de vida? Pensou enquanto limpava o suor do rosto e de olhos franzidos, olha o sol que se erguia com altivez.
Nada lhe fazia sentido agora.
Para que se erguia o sol se era mais que sabido que terminaria a pôr-se?
E o rio?
Corria tantas vezes o mesmo leito!
Ao longe ouvia-se o ladrar da Eva, corria para junto de si e, como se adivinhasse algo, lambeu-lhe as mãos e deitou-se aos seus pés ficando a olha-lo com aqueles olhos de gente.
Oh raios!! Pensou.
Sentou-se junto a ela e ficaram ali, a ver as formigas que seguiam num carreiro…sempre tão certas, tão apressadas em ir em frente…como se soubessem todo o sentido da vida.
Anoiteceu sem trazer grande novidade…e na manhã seguinte, logo pela fresca, que é cedo que começa o dia, o homem cavou a terra, regou as árvores e voltou a por fim ao fruto…prometido…numa dentada única…como a primeira, dada ainda no paraíso da ignorância .

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entre-Gostos


Comer lentamente ou degustar com gula?

O apetite voraz que consome as horas em que a digestão demora,
transforma a visão e deixa-nos com pasmos.

Os suores frios banham o corpo febril

Saliva-se só de imaginar o apetite saciado

Em cada novo paladar apuram-se os sentidos

Cresce a vontade de um alimento mais do que um matar a fome

Escolhe-se o vinho certo, não basta beber!

Engorda-se a alma de um corpo anoréctico

E entre-Gostos descobre-se um manjar dos Deuses

Não temeis a gula
O castigo do pecado será apenas o engordar da vontade

O veneno não é da maçã ofertada
É do..Gosto de ti.

Rascunhos de Si (lêncios)


De rosto vazio e de olhar sem sonho
Já há muito que vivia ali no mesmo corpo
Um desenho (in)animado
Simplesmente saberiam que ainda respirava
pelo gesto involuntário que fazia
Desenhando traços numa folha de papel
Amarrotando logo em seguida na palma da mão
Uma e outra vez
Traçando a carvão rascunhos de Si (lêncios)
Jogados pelo chão...