Com_traste

Com_traste

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

RIP

Foi quando resolveu cortar os pulsos, que a corda em volta do pescoço apertou
Nada faria prever, que o tiro certeiro acabaria de ser dado à queima roupa...
Nos vestígios deixados pelo maremoto...ainda boiava o frasco de cicuta
O único folgo que lhe restava foi dado num beijo sufocante de despedida
E foi assim que de nada lhe serviram as sete vidas que tivera

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Post it

Não esquecer
Não esquecer nunca
Que finjo
Lembrar
Lembrar sempre
Que minto
E escreve-lo em todos os papeis que represento
Haja vento
E sorte
E um dia ainda a verdade me virá parar às mãos
Num acaso da vida
Isso, se até lá conseguir escrever de forma legível
Todas as letras
Ou a memória deixe de me trair
Ou eu...

post scriptum

Sempre os Homens
Só os Homens
Os Eus de um Deus umbilical
E eu quero os pássaros
Os insectos
Os bichos selvagens
As árvores mortas e as árvores reencarnadas
E a árvores orvalhadas, tenras, viçosas e vivas
E as pedras
Ai como eu adoro as pedras
Grandes
Pequenas
Redondas
Da calçada calada
Da lua...sonhada
Da berma do caminho
E aquela noite
E aquele dia
Que passam silenciosos
E as estrelas em queda livre
E a liberdade do tempo
Ainda por contar
Ai como eu gosto dos vultos
Sombras medonhas
Fantasmas meus
E risos
Abraços
Sorrisos
Da criança feliz
E da infeliz
Que sem ser Homem diz
Tudo o que poderia ser o ser humano
Acaso não fossem Homens
E a culpa desta minha infelicidade
É saber que os Dinossauros sonhavam uma outra coisa da vida
Sempre os Homens
Só os Homens
A contradizer a teoria da evolução
E eu queria ser um peixe alado
Ou uma qualquer pedra...na lua.

(imagem: http://www.acrobatsublime.com/photographs.php)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Servi Domini


Porque nos devoram os monstros sociais
E depois de comidos querem mais e mais
E nós alimentamo-nos de ilusões
Somos puras contradições
Individuais, doses fatais
Alimento para animais
Porque não morrem enfartados?
Trincam e lambem os lábios
Babosos glutões
Nada na borda do prato
Afogamo-nos na sopa com a pedra no sapato
Morrendo de cansaço, boiando como excrementos neste esgoto
Ok, não somos gente
Mas sombras de um criador, que se esqueceu de nos tirar a dor
E nos deixou acreditar na fantasia
Reprodução em cadeia
Sem grades para que possamos afiar as limas
E usamos as unhas esgravatando a terra
Fazendo covas para plantar defuntos
Que depois de bem cuidados crescerão viçosos nas nuvens
Alados girassóis
Que seguirão eternamente a luz divina
Que sina!
E a semente de gente?
Serve de alimento ao patrão
Que em dia sem remuneração
Acusa
Abusa
Explora
E nós pedindo esmola
Na porta da consciência urbana
Infestada de peste suína
Desumana
Doença roubada para pura carnificina
Ide em fila
Porcos imundos
Redundantes seres animados
Agradecei em voz baixa e de olhos no chão
Para que querem mais que um naco de pão?
Já não há pulmão para gritos de revolta
Droga de criatura pura
Essa maldita habilidade que insistem meter nas veias
Dignidade?
Ilegal sentimento
Não lhes chega o demente pensamento
Querem mais?
Agora cortem os pulsos que precisamos de dar cor à pátria
Não há maior honra que servir de pigmento
Amanhã é dia santo
Podereis chorar em vão
Alegremente florir campas
Uma ou outra oração
E basta!
Para o ano há mais cultura
Festas são procissões
Vistam os meninos de anjinhos
As virgens com seus filhinhos
E aleluia senhor!
E não adianta não ser crente
Somos UM ilusoriamente
Formando a massa compacta da estupidez humana

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Bi_Polar

O urso fofinho na cama do menino
Ou o outro animal que de quando em vez nos faz mal
Ou ainda o Pulo da mente demente
Que de dia ri e noite chora
Que sente e mente
Mente o que sente
Faz de toda a gente
Acrobatas
Em salto mortal escarpado
Tentando cair a pés juntos
E sorrir
Por saber disfarçar a rede
Que nos sustenta...na anormalidade.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Espalhafatosa

Poderia escrever alguma coisa interessante....podia!
Mas há alguma coisa mais interessante que o silencio...que possibilita todas as coisas?
E então..calou-se!
Não escondendo o sorriso sádico, que com sorte não seria entendido...

Marginal

Não tinha regras
Nem mapa astral
Mas seguias-se pelas estrelas
E a lua cheia era a sua morada
Olhava a mão do destino e não entendi o que lhe estaria guardado
Então...ousou agir apenas pelo sentir
E nessa mão cheia de sensações
Quebrou corações
Chorou de amor
Quis tanto viver em liberdade que se prendia a cada um que lhe dizia amor
E no fim das contas...nunca encontrou aquilo para que se sabia destinada
Amaldiçoou Deuses
Negou a humanidade
Virou fera
E de presa a predador
Esperou a evolução da sua espécie
Que sabia extinta
Quiça haja vida em Marte e nela...humanidade que se cansou de esperar
Sorria
Nunca se iria encontrar..a não ser que...
Aceitasse morrer assim
E reencarnasse novamente nela
Mas na hora em que se dava o fim
Foi decretada a inconstitucionalidade da reencarnação
E ...Fim!!!

De...Mente

Diziam-no louco
Sentia-se louco
E todos os dias, depois da visita ao psiquiatra
Despia-se e...fazia amor com a sua loucura
Uma negra linda
De olhos tão profundos que faziam eco dos seus
De pele tão pele que o deixava entrar para lá dela
De corpo de curvas acentuadas que o faziam tomar atenção a todos os pormenores
De seios tão cheios de vida que ele os sugava para se alimentar
De sorriso tão branco e genuíno...que ele ria e chorava só de olhar
E cada vez que se amavam,ele enlouquecia de amor por ela uma e outra vez
Até que amanhecia...e ela ia
Para que ele pudesse continuar normal
Sentido-se louco
E fingindo estar-se a curar

Fazer-se ao caminho...

Resolveu-se
E foi
Encurtou a distância que o separava do longe
E o longe ficou mais perto
A velocidade da ida fora proporcional à velocidade do regresso
Tinha tempo para dar e vender
Mas pressa
E com pressa acabou por ficar com mais tempo ainda
Chegou a horas certas
Perdeu-se duas ou três vezes...mas ou por ter GPS ou seguir a sinalética
Reencontrou sempre o caminho certo
Depois ficou cansado demais para poder avaliar se tinha valido a pena
Mas agora tinha já uma certeza...aquele caminho não lhe seria mais desconhecido.
E assim adormeceu
Exausto a pensar na próxima viagem...para outro lado qualquer.
Talvez mais perto.

Descolor

Se ousasse despir-se da cor que a cobre
Seria aquela outra
Que ri e goza quando lhe sangra a pele
E se rasga a alma em farrapos
Num aperto das carnes aos ossos
Num respirar quase impossível
No limite da dor que imagina
Ainda casta e pura
Apenas com a corda ao pescoço
Aperta o nó
Lentamente
Por no contraste do preto e branco
Atingir o êxtase

Eclipse

Fugir da lua e do sol
Como quem brinca ao esconde esconde
Apenas para passar como sombra
Discretamente
Por entre os dias e as noites
Até que se unam num eclipse
As coisas
E faça sentido acordar e adormecer...como as pessoas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Falta-te um bocadinho assim »...«

O tempo...é aquela coisa que fica contida entre o indicador e o polegar
Quando seguras uma ervilha e estás feliz
O tempo...é aquela coisa que fica entre o isqueiro e o cigarro
Quando estás a tentar deixar de fumar...e estás...nervoso
O tempo...é aquela coisa que fica entre a recordação de um beijo...e o sorriso que fazes ao lembrar...
Quando estás consciente que a vida são momentos
O tempo...é aquela coisa que fica entre a dor no peito e um suspiro...quando tens saudades de algo
O tempo...é uma estrada acidentada...quando não sabes se deves ir ou ficar
O tempo...é o eco no fundo de um poço
Quando repetes vezes sem conta o erro de não beberes quando tens sede
O tempo...é o tempo que levas a pintar as brancas...mesmo que arrastes os dias a tentar disfarçar
O tempo...é aquela coisa doce em forma de nuvem...que te deixa os cantos da boca pegajosos
O tempo...é...longo
Quando o fazes teu e partilhas
E entendes que ele é a tua única sina
Quando desenhas na palma da mão o teu destino.


Tu no eres tu

Tu boca es mi boca
Cuando de los amantes cuentas cuentos
En mis besos
También tus ojos son mis ojos
Cuando mi punto de orientación
es lo que ves em mi
Cuando mi piel ya no es mi piel
por reunirse contigo en la carne
de sangre
caliente
donde se cruzan dos seres en uno


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

voz de exclamação

Estava sempre cheia de duvidas
Cansava por se fazer tantas perguntas
Uma vez descobriu que senão usasse pontuação
Tudo ficaria mais fácil
Assim se encheu de certezas
E o mundo
Aquela coisa redonda com dois olhos e com muitas pernas
Começou a contraria-la
E a cada suposta certeza
Duvida não pontuada
O mundo ria, desdenhava e desmentia
E ela
Ela aprendia
A ter resposta sem nada perguntar

voo rasante

As andorinhas partiram
Algures mudou a estação
E um homem parado no fim da linha
Simplesmente ficou a vê-las partir
As coisas simples são assim
Mas os ninhos
Os ninhos ficam para nos complicar a vida
E neles
Todas as coisas complexas
Como a esperança
A duvida
E a vontade de acreditar que somos capazes de fazer algo mais que ficar ver acontecer as mudanças de estação

Despiste

Nunca saia com duas meias iguais
Esquecia-se de deixar comer à gata
Voltava sempre a casa antes de entrar no carro...quase sempre era o telemóvel ou o bloco de apontamentos que ficavam para trás
A vizinha todos os dias tinha um nome diferente
No trabalho, a agenda estava sempre aberta nas paginas do futuro longínquo
Quando viajava de casa para o trabalho, ligava o Gps para um destino do outro lado do mundo
Ouvia a rádio apenas por simpatia..cantava sempre a mesma canção e de vidro aberto, cumprimentava o condutor do carro do lado, acaso o vermelho a fizesse parar...com um sorriso cúmplice
No parque de estacionamento, desenhava golfinhos no chão, outras vezes andorinhas...e serviam de pistas para o regresso
Quando a convidavam para festas...levava sempre um presente mesmo que fosse passagem de ano de todo o mundo
Na lista de contactos de telemóvel...adicionava um nome das historias infantis a todos os seus amigos
Raras eram as vezes que não atendia à gargalhada...por a branca de neve ser negra ou o príncipe com orelhas de burro o ser completamente.
Uma vez mudou a cor do cabelo...e ligou ao canalizador na manhã seguinte...para verificar o que se passava na canalização que a agua do banho estava negra...
Quando chorava...nunca conseguia explicar porque o fazia...e quase sempre acabava por arranjar outros motivos...embora o pessoal do trabalho estranhasse ela estar tantas vezes nos "dias difíceis"
Um dia...perdeu-se
E até hoje coloca anúncios nos jornais
Convicta que algum dia terá sorte e...alguém se lembre de a ter visto por ai...


Anonimato

Ninguém o conhecia
Costumava parar na esquina do quiosque
Comprava sempre o jornal de letras (aprendera a ler desde muito cedo e nunca teve jeito para desenho)
Um maço de cigarros sem filtro
(Gostava de ter motivos para cuspir em publico)
Uma caixa de chicletes de menta
E seguia até ao café do mercado

Também sem ninguém o conhecer
Serviam-lhe a bica curta com o habitual copo de agua
Até ao final da manhã seria visto por centenas de pessoas que por ali circulavam
Não tinha carro, e era habitual vê-lo fazer grandes caminhadas a pé junto ao rio
Falava com os pescadores...sem nunca ter ido à pesca
E não eram raras as vezes que um cão vadio o seguia até casa
E algumas noites adormecia no tapete velho junto à porta
O nº da porta era o 48
A caixa de correio estava identificada, e todos sabiam que ali não valia a pena colocar publicidade
Não consta que recebesse muitas visitas
Nem o vizinho do lado se lamentava de barulhos estranhos... partilhavam a ligação à Internet
Um dia nunca mais ninguém o viu
E consta que diariamente era lamentada a sua ausência
Bom Homem...disseram alguns quando questionados pela menina da televisão...e em todas as reportagens não costa que alguém fizera referência ao seu nome de baptismo.

E até hoje a caixa do correio identificada ...
Pode ser que volte
Pensa o vizinho
E no tapete ainda dorme o cão
Boby
Que todos continuam a alimentar diariamente...
Bom amigo, o Boby...o melhor amigo do Bom Homem!


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Fuga da e para a solidão

Fechara a porta à chave
Escondera esta no vaso das camélias
Esperou a lua cheia
E
Tentando fugir
Já desfeito do que era feito
E feito do que também às vezes era
Uivou
Bateu
Partiu
E quando cansado se lembrou
Olhou o vaso e comeu a terra
Desde esse dia
Seja a lua a lua que for
Ele é apenas a chave que abre a porta
A porta que esconde a flor
A flor...que guarda o segredo
Da solidão
Que cresce e cresce
Sem terra

Com_sumidores

Amaram-se tanto
Mas tanto!!
Que quando terminou, nenhum dos dois deu por nada
É o que acontece quando se "com-somem" as coisas...

Verdade ou...consequência

A verdade era inteira
Até ao dia em que fizeram partilhas
Herdando cada um uma parte igual
Passaram a chamar mentira à parte que deixaram com o outro

Da...escrita heavy metal

Num caos
O som da escrita, não rima com a suposta oralidade da palavra
Mas escreve-se despenteando ideias aparentemente organizadas
Num palco amplo, cheio de Holofotes, micros e colunas de som
Aplausos em gestos mudos
Movimentos corpóreos, no incorpóreo e abstracto sentir individual
Os sons vocais, confundem-se com a musica de fundo que estipula o ritmo
Por vezes parece apenas barulho
Outras, é música angelical
Dependendo do silencio em que se escuta...o caos do que escrevo
Mas isso só importa se te importares
Porque entender não é preciso
Porque se a música é uma arma
As palavras são balas
E o teu corpo
O alvo...caso te sintas atingido

domingo, 14 de julho de 2013

Dos ...sem terra

Ela não era de lugar nenhum
Nascera ali
Filha de Beltrano de tal
Neta de Sicrano de tal
Da Família de uns Fulanos conhecidos na terra
Mas ela...Maria sem nome conhecido
Rotulada com enumeras imagem pré fabricadas
Não era dali nem de lugar nenhum
Não se sabe ao certo se isso a incomodava ou a deixava feliz
O problema era a certidão de nascimento...dessa nunca poderia fugir
E ela sabia o quanto isso a manipulava
Por ser nas suas entranhas que nasciam as represas
E sentia como qualquer ser comum
Dali
Mesmo sabendo-se de lugar nenhum
Ousaria um dia deixar de se confrontar e imiscuir no meio?
Deixaria de se sentir marginal mas implicaria assumir a solidão de ermita
Que nem sempre desejava
Mas que nela sempre se encontraria em paz
Maria de lugar nenhum...um dia morreria longe
Mesmo que a vida a prendesse sempre aqui!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

TemporizaDor

Velho
Cansado
Descansava na berma de hoje
Adormecia nos braços do ontem
E ao acordar
O amanhã desistia
Como o rio que seca
Ou a chama que se apaga
O amanhã estava velho demais para acontecer
Ontem já o desejava
Hoje só pensava em correr
E foi assim que o tempo
Confuso
Depressivo e sozinho
Se suicidou

Por tão pouco ou coisa nenhuma

Quis preencher o vazio que o enchia
Pegou num nada aqui
Um nada ali
Um nada acolá
E cheio de nada
O vazio desapareceu
Um dia
Quando nada mais o satisfazia
Suspirou
E nesse acto, vazio de nada ficou
Pensar que teve tanto!
E agora?
Desejava nada voltar a ter
Porque morrer assim vazio
Será mesmo morrer?


Perdidos e achados

Procurava o amor nas esquinas
Na cama
No fim do mundo
Colocou anúncios
Deu recompensas
Um dia
Já sem ele estar à espera
O amor voltou
Cansado
Desnutrido
Mais velho
Mas não havia dúvidas, era ele!
Desde esse dia, nunca mais lhe tirou a trela quando passeavam no jardim.


Perguntas de retórica

Quando bates à porta ela chora?

Se te perguntarem quem é, dizes sou eu?
E se eu não for?
Porque fico se bati à porta?
Será melhor ir antes que seja acusada de violência doméstica?

Se eu pedir muito, dás-me?
E se tiveres pouco?
Dar tudo o que se tem, é muito?
Se dás tanto também levas?

Em caso de dúvida que fazes?
Podes repetir se faz favor?
E se for erro?
Não aprendeste nada?

Há vida em marte?
Se há mas são verdes, importa?
E se sim....
Irás entender aquela da cintura industrial...

Eu já disse que não tenho culpa?
Perdoas?
Faz sentido?


Em Marte nada de novo

O homem que mordeu o cão era um homem que não ladrava

Quem não tem cão vai à pesca

O mito urbano é uma discriminação

O sexo seguro, não foge ou em caso de acidente pagam-te tudo?

Quem tem boca vai a Roma só se não for peixe...(eu sei...tenho lá eu culpa que o provérbio mate o coitadinho do peixe!!)

As estrelas cadentes desistiram de ser nêsperas...

O quarto minguante é uma forma de alguém te chamar gordo ou te dar a entender que estás a mais ali

Despensamentos

Todas as sombras assombram os que temem a própria.
Mas o que eles não sabem, é que a única que deveriam temer só anda no escuro...
A exposição é uma parede branca bem iluminada...onde só alguns se encostam.
O sentido do ridículo deveria ser obrigatório... só por si, isso aumentaria muito as receitas do estado
Uma rotunda não é aquela coisa que te faz andar à roda, a isso chama-se egocentrismo
O azar não é encontrares um gato preto, azar é ser de noite e só te dês conta que o gato era preto por teres pisado algo...
Uma cintura industrial, usa cinta porque se importa
O vinho , se for bebido à sombra perde graus?
Se cumprimentas e não te respondem não deverias aprender outras línguas?
O estado civil é democrático?
Os gostos não se discutem se forem iguais
Se cá se fazem cá se pagam para que raio inventaram o inferno?
Se fores filho de um Deus menor alguém deveria ir preso.
Falamos do tempo para quebrar o gelo mesmo que estejam 40 graus à sombra?

Uff isto cansa...prá próxima penso.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Da pele


A minha
A tua
A nossa
Da de cordeiro
Da de lobo
De cetim
Ou marcada a ferros
Pudéssemos nós vestir a pele do outro
E entenderíamos a importância do toque
Do afago
Um pequeno gesto de ternura bastaria
Para te lançar rumo ao infinito
E não se morrer de solidão
Assim
Resta a própria mão
Agarrada à margem
Ou incansável...naDar...naDar...naDar!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Despensamento XI

É capaz de ser tarde para mudar o mundo
Mudar de casa
De rua
De cidade
É capaz de ser tarde para mudar a direcção do vento
Mudar a estação
Mudar de hábitos
Mudar feitios
De penteado
De marca de cigarros
Pensava ele com os seus botões
Enquanto isso
Voltou a acender um cigarro
Ajeitou o cabelo com os dedos
Virou-se a favor do vento
Desceu a rua
Entrou em casa
Despiu a camisa
E em tronco nu...sentiu-se completamente só
Incapaz de ousar pensar em mudar seja o que for

Plof

É quando tudo dorme e está escuro
Que ela abre os olhos ao mundo
E no meio da escuridão se vê
Uma entre tantos
Silenciados...pela noite que cada um faz acontecer
Apenas porque fecham as pálpebras
Ou apenas porque dizem ser hora
A diferença entre o dia e a noite
Está apenas na localização das estrelas
E num abrir de olhos no escuro...entenderás a diferença
Acaso olhes nos olhos de outro
Acorda...
Não esperes pelo dia
Ai será tarde
Porque nessa hora todas elas se escondem no fundo do mar...
E corres o risco de ter que mergulhar em apneia....para ser feliz
Depois...será apenas uma questão de tempo
Como a vida ou a morte

Ela

Romper barreiras
Estereótipos
Passar limites
Ousar ser por inteiro
Assumir consequências
Enfrentar preconceitos
Dar o corpo ao manifesto (uiii esta expressão é o must)
Cansar-se e depois de respirar fundo voltar à carga
Agir pelo coração
Não temer o diz que disse
Ser senhora do seu nariz
Ser
Essencialmente ser ...espontânea, livre, responsável,sonhadora incansável
Não temer voltar atrás
Saber-se imperfeita e mesmo assim...gostar de si
Agir por impulso
Cansar-se
Cair
Levantar-se
Saber-se forte na sua fraqueza
E voltar a acreditar todos os dias
Que...só temos esta vida
Ou é agora ou nunca
E não temer
Viver!
Gostava de ter como nome Maria das Silvas
Por saber doces as amoras silvestres
Por entre os picos...

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O vazio
O silêncio
O escuro
Enchem os dias e as noites de palavras
Não ditas
Não escritas
Nunca escutadas
Num eco clarividente
Da vida
E essa enchente comprova a nossa humanidade
Talvez um dia sejam verbalizadas
Escritas
Escutadas
E nesse acto nos demos a conhecer a outros
Ou
Num abraço se evitem as diferenças de linguagem e de audição
Talvez seja mesmo isso
Os gestos são a nossa identidade
Mesmo quando estamos estáticos
Vazios
Escuros
E em silêncio
Escutemos o eco dos gestos
Talvez se repitam abraços...aços...aços...aços...aços
Para sempre

quarta-feira, 29 de maio de 2013

. . . _ _ _ . . .

É angústia que me injectam nas veias todos os dias
Dada gradualmente
Picada ardilosa
Qual rega gota a gota
Abro os olhos e vislumbro um sorriso encenado
As batas brancas são iguais à do Sr. do talho
Mais um pouco de atenção
Quase peço silêncio ao próprio coração
Jurava que escutaria o cutelo a partir carcaças
Hummm são profissionais
Nem um pingo de sangue naquelas batas imaculadas
O lavar de mãos constante é suspeito
O único álibi é o local e um nome bordado no peito
Doí-me os olhos por fixar tanto os teus
E esse olhar vazio
Que foi feito de tudo que a vida te deu?
Quero um juiz
Um direito
Um cúmplice de Deus
E não me acusem de emocional sem razão
Já não há nada a perder
Porque só me tiram a paciência
E a crença nos homens bons
Qual o custo da ciência?
Se enquanto ainda se respira és acusado de gastar o ar dos outros
Demência
Estão todos loucos
E nós figurantes de uma cena teatral
O que custa não é o fim
É a fraca qualidade do ultimo acto
Por culpa do encenador
E tu, actor principal nessa peça
Aguentas
Sem queixume
A injustiça do papel que te fazem representar
Angústia, antes vinha só para o jantar
E agora
Gota a gota invade-nos os dias

terça-feira, 21 de maio de 2013

Da_dor

Um ai
Ou um ui eu daria
Soubesse eu por onde vai esta coisa que nos guia
Dava-te a mão no caminho
Num gesto que de tão simples comovia
Dava o peito para que sentisses sem cansaço
O amor
A dor
O mar revolto que em mim desagua
Dava-te amarras
Dava-te asas
Um leito
Um céu
Um mundo
Dava-te tanto
Dava-te tudo
Soubesse eu que a compatibilidade era eterna
E doaria as entranhas para que sucessivamente dessem à luz aquela coisa intermitente...apenas porque nos esquecemos de acreditar na ciência exacta que é o amor
Que se sente...ou não.
E que se quebra como todos os cristais...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Puzzle




Perdi a cabeça algures, entre o ontem e o amanhã
O peito, desfeito..está aberto
Os olhos mergulhados na ilusão da vida
E o meu querer..aquele querer que é vontade anímica
Faça chuva ou faça sol
Que nos levanta os ossos pela manhã
Está algures afundado nos meus olhos
Nas mãos
Toda a raiva que gera a violência
Num murro capaz de matar todos os criminosos deste mundo
Abro as mãos...entre elas uma cabeça perdida
E baixo o olhar para um chão que ainda sinto
Esperando que chova ou nasça o sol
Daquele lado oposto...do tempo e das coisas
Porque crescemos e passamos a acreditar que as coisas podem nascer e morrer ao contrário
E a fé nos homens, pode crescer no momento em que se reconhece os bons ao mesmo tempo, paradoxalmente...conhecemos o quão são maus os mesmos homens.
E no fundo disto tudo...desfazemo-nos em partes
Quiça se consigam montar de maneira a que no fim tudo faça sentido
Quiça...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Balanço

Quando me incha o umbigo
E o mesmo se banha em vasto mar de arrogância
Uso e abuso da poder da palavra
Da opinião baseada em mim mesma
Canso-me de todos vós
Penso no que são
Vejo-vos os olhos baços
Os gestos programados
As palavras mudas
E no meio de tantos que amo
Consigo odiar o mesmo numero de vós
Só preciso de ter a capacidade de colocar o deve e haver
De cada um...o peso certo
O resultado final
Sei que quando desinchar
Será justo

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Desfolhada

Malmequer
Muito
Pouco
Nada
E assim se desfaz uma flor

Desde esse dia aceitou o facto de ter que dar a mão ao prometido
E nunca mais olhou os malmequeres de frente

Não vale a pena chorar ...

Da consciência
Já só restava uma gota no fundo do copo
Era branca
Já devia estar quente
Pois ao tempo que ali estava, qualquer consciência deixaria de estar fresca
Alem do mais..era verão
Como raio se mantém uma consciência fresca no verão?
Ainda mais, quando de si já só resta uma gota...
Restava a decisão
Beber até à ultima gota
Ou deixar que ela fique ali como prova
Ou tentação
E num gesto súbito, talvez naquele momento em que se tira mais um cigarro e se procura o isqueiro..algures
A mão...deixa cair o copo, derramando a ultima gota pelo chão
E antes que desse tempo para qualquer reacção
O gato apressa-se a lamber o liquido...quente
Resta saber se mesmo assim...só uma gota e quente...surtirá efeito.
Na manhã seguinte, ambos, a mão e o gato...falaram do tempo que fazia e de como o verão estava quente e seco...
Na sala, um livro, recitava em voz alta e bem colocada, um poema que dizia assim:
E vós
Coisas sem sentimento
Sem razão
Porque esperais
Para Tomar de vez o mundo!

Ao lado, uma garrafa de liquido branco...no gelo..
Do rótulo humedecido, ainda se conseguia ler as primeiras letras...C O N S

Ouviu-se um estrondo...ao mesmo tempo que um miar aflito...e uma mão ainda tentou segurar o copo..mas já não foi a tempo!

Anestesia


Ela
Adormecia a dor com o garrote apertado no peito
A demência
Com o fumo a ervas doces do chá da avó
Snifava o pó dos móveis
Lambia a própria saliva
E acaso ainda sentisse
Fazia sangrar os pulsos
Só um pouco
Na dose certa
Aquela dose que dava a consciência do acto
Tinha sempre um toque de arte nos pulsos
Ou nas faces
Mesmo nua
Todo o corpo de nódoas negras
Mostrava a ousadia digna de mestre
Desenhava a cor purpura
E a traços bem vincados
Tudo o que em si vivia e doía
Inexplicavelmente excedia
A dose humana para que um ser tão puro fora formado
Quando asfixiada por mordaça
Seus olhos negros cintilantes
Inundados
Falavam do quanto seu corpo desgraçado
Aguentava calado
Um mês inteiro
Um ano
Um tempo infindo
Condenado
À anestesia necessária
Para aguentar a imensidão da dor
É louca
Está possuída
Coitada, o mal dela é ser mal fodida
Diziam os seres andantes do reino
E ela com o pulso aberto pelos sentidos
Auto induzia a dose diária
Da anestesia necessária
Para sorrir como louca
E não deixar que descobrissem a verdade
O mal dela era ser tanto ou tão pouca
Que todo o espaço que tivesse
Era nada mais que um pedacinho
Daquilo, que para ser gente
Precisava
Nem reclamava terra fértil
Chega um espaço
Poderia ser um espaço de céu aberto
Sem amarras
Antes que se acabe a anestesia...
E resolva mesmo enlouquecer

T0 aluga-se
Lia-se nas vitrines da cidade
Mas tinham tecto...paredes
Numero de porta pintado
Se alguém souber
De um espaço
Pode ser um quarto sem mobilia
Com janelas como paredes
Tecto de estrelas
Fechaduras estragadas
Faça o preço
Ela paga a pronto
Em dinheiro vivo
Todo bem contado
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Sôtor...deixei de sentir as pulsações...disse uma voz de branco
Desligue e aponte a hora do óbito
Respondeu outra voz...de um branco sujo.




quinta-feira, 2 de maio de 2013

Divinos

Se Deus existisse era bom
Disso eu tenho a certeza
Mas ou por malvadeza
Ou pura condição
O Homem criou o mal e chamou-lhe oposição
Ao outro ser que ainda não foi inventado
E nessa altura
O Homem, um homem daqueles mais indignados
Achou por bem usar a razão, e com fé
Disse:
Haja Deus
E Deus houve
Para mal dos nossos pecados
Ele, o tal que acabara de ser criado
Pensou ser mesmo abençoado
E agiu
Fez do mundo esta coisa redonda
Para que não possamos ver mais longe
E quando a lua de nós se esconde
Fazemos de conta o paraíso
E só de noite
Bem no escuro
Assumimos o outro lado
Do mundo que pensamos ter sido criado
Para nossa punição
E caso haja luar
Apontamos o dedo
Quem se atreve a duvidar
Que há um Deus presente
Rezemos como gente
Crentes
Humildes
Carentes
Deixemos na ladainha
Na nossa baba fininha
A dores
Os desejos
Os sonhos
Os prazeres e os medos
Que ao terminar estaremos salvos
Da nossa própria consciência
Entregues em penitência
De nada somos culpados
E em banho Maria nos deixamos
Num baptismo vagaroso
Até que fiquemos no ponto
E num estado mais sólido
Consigamos ser inteiros
Partes
De um todo
Mentiroso
Haja Deus...disse o outro
E como que de um milagre
Esperemos






Droga

Acabou-se o pão
O vinho
Nem o cigarro no deixaram
E agora como matar a força desta vontade
De morrer pelas próprias mãos?
Ah que a vida é bela
E ninguém a pode tirar
Que se te matas não és digno dela
Sê homem e deixa-te matar
Mas eu quero fumar as pedras
A erva
O pó dos mortos que morreram por todos que cá estão
Para que pelos menos consiga agoniar
Sorrindo
Sentido
E saber porque morri com razão
Mas para que quero eu migalhas
Se delas nada mais posso alimentar?
Deixar-me matar com as palhas que aos burros dão para que trabalhem
E eu fumarei essa coisa sorrindo
Direi ao mundo que de mim sou meu dono
E já sem forças
Sem ar
Sem palavras
Irei erguer o punho
Ver miragens
Mas até ao fim
Serei digno.





Náuseas

Dá-me náuseas o imbecil
O rei
O Dono
O escravo submisso
Eu quero agora cheirar Abril
Depois de um Maio cantado em uníssono
De que me serve a razão
A dor
A raiva
Se em cada esquina há um cabrão
Um filho da outra
Vendido
Povo sem ser unido
Ser rastejante
Que não sente
O sangue é um rio que nos une
Mas das veias que cá dentro
Como represas este rio faz correnteza
Nem sempre encontra o mar para desaguar
E cansa
Mata
Desvanece
Toda força que em mim cresce
Porque quebro agora?
Porque perco a força?
Não fosse vê-los loucos a seguir sorrindo para a forca
Talvez nada em mim isto acontecesse
E do meu rio e do teu rio um mar brotasse
Não
Não sou dona da razão
Mas custa ver que um cabrão com fome
Lambe a mão ao capataz
O cu de judas acaso isso lhe fosse pedido
Ah seus vendidos
Ide morrer bem longe
Nem da vossa pequenez são donos
Nem da vossa miséria dignos
Hajam Homens
Que não vermes
Capazes de depois da dor
Dar razão aos seus actos
Que morram
Morram de fartos
Fartos de tanto rastejar
Porque não sois dignos da bandeira
Que tentamos levantar
Ah filhos da puta
Que quase mortos
Ainda beijam a mão ao carrasco
Morram
Morram de fartos
Ou de vergonha dessa triste condição
Porque a mim dão-me náuseas
E sobre as vossas campas me purificarei
Em vómitos!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Tãntrica

Crescera a calar o que sentia
E um dia
Já quando a garganta sufocava
Aprendeu a tirar prazer do aperto
E mesmo quando tudo falava
Guardava para si um ou outro sentimento
Aprendendo a dar o nó no limite
Sempre bem apertado
Num, é agora...e ainda não
Só ela sabia quanto prazer lhe dava o silêncio
Atado à volta da sua garganta


ExiGente

Do amor
Ela queria aquele cheiro a cama desfeita
Aquela cor rubra nas faces
Aquela voz rouca
Aquele arrepio na pele
Aquele brilho nos olhos
Aquelas mãos em busca do infinito
E aquela palavra
A palavra proibida
Dita vezes sem conta
Do amor
Depois de usado
Ela não queria mais nada
A não ser a ousadia
A ousadia no meio da rua
Exposta a vontade em gestos íntimos
E o risco
Correr o risco de os julgarem mesmo amantes
Ah como o amor a excitava!


O sentido obrigatório da vida

Amanheceu cedo
As manhãs sempre foram de hábitos
Ele aproveitou o sentido de oportunidade
E acordou em sintonia com o dia
Sempre foi pessoa de acompanhar os outros nas desgraças
Há quem tema que ele morra por isso mesmo
Há quem o tenha ouvido dizer que ninguém deve morrer sozinho
Mas com o sentido de dever cumprido
Saiu porta fora para levar a manhã a passear
Era vê-los de braço dando
Rindo
O sentido de humor era coisa que não lhe faltava
E quem tem sentido de humor ama sorrindo
Não possuía um grande sentido de orientação
E perdia-se sempre nos sentidos proibidos
Vivia a maioria do tempo em contra mão
Mas isso era coisa que não o incomodava
Sentia-se bem ao contrário do mundo
Não fosse o sentido obrigatório ser tão profundo
Ele teria por certo tido outro destino
Assim, o sentido obrigatório deste mundo´
Mesmo para aqueles que ao contrário andam
Obriga que nem que por uma única vez na vida
Se morra...porque sim.


Um mãos largas

Escrevia na palma da mão destinos
Tinha tendências suicidas
Desenhava sempre nos pulsos, uns pequenos pontos espaçados como picotado em folha de papel
Quando finalmente se matou
Foi num poema
E nele dizia apenas
SOS
Ele sabia que mais cedo ou mais tarde iria largar a mão
Presa a um amor qualquer

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Branco como a cal da parede

Estava entre a espada e a parede
E amaldiçoou o facto de se ter vestido de negro naquele dia

Black

Às cegas
Tactearam o espaço vazio entre os dois
A medo
Soltaram-se os dedos
Prenderam-nos depois
E no chão
Arrastaram pelo quarto
O tacto
A pele
O segredo
Souberam-se mais que dois
Fizeram batota
Fecharam essa porta
E fugiram para voltar depois
Sempre às cegas
Sempre a medo

O espaço vazio entre os dois...era um buraco negro
Um segredo
Desvendando quem eram depois
Nesse vazio que os sugava




Um preguiçoso, é o que é!

Era tão tarde
Mas tão tarde
Que quando o amor chegou ela já não o viu
Foi por um triz
Disseram os amigos da onça
Se correr ainda a apanha
Mas o amor
Que era alem de tardio um grande preguiçoso
Disse:
Eu espero.
E sentou-se...
Não consta que ela tivesse voltado
Afinal nem todas as ruas vão dar a Roma
E se lhe disserem que o amor está ao virar da esquina
Procure a esquina que tenha um banco...de preferência à sombra