Com_traste

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SEM TITULO


Não havia estórias de amor
Nem princesas adormecidas à espera de príncipes
Era um livro grande e de letras confusas
Já mal se viam as virgulas em algumas frases
Noutras, os pontos finais findavam parágrafos inexistentes
Em roda pé, mal se conseguia ver o que o autor tentou dizer depois de estar tudo dito
Nas margens, dedadas marcavam as paginas mais difíceis com vestígios de impressões…
Os capítulos sucediam-se sem ordem fazendo todo o sentido a quem o lia.
A capa, de pele rugosa, seca e escura, mostrava indecifrável um único nome.
Na ultima pagina um ponto de interrogação manuscrito, deixava na duvida o leitor.
Depois do suposto fim, não conseguiu fechar o livro e adormeceu com o cigarro em chamas entre os dedos.
Os sonhos foram de contos de fadas e de estórias de amor.
E depois em cinzas, conseguiu-se finalmente decifrar o titulo da obra…
Mas ninguém soube quem foi o autor…
O prémio Nobel seria entregue ao homem invisível e ainda hoje é leitura obrigatória o livro da vida de cada um.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Shiuuuuuuuuuuuuu


Os dias juntam-se aconchegados em memórias, com cheiros e paladares agridoces, guardados como as cartas de amor, em caixas de tempo enlaçadas de cetim cor de rosa.
Os dias já são noites e nem se pôs os sol no horizonte dos teus olhos…
Os dias já são noites sem que haja ao longe estrelas cadentes, para que possamos pedir em segredo um desejo…
Os dias são noites arrependidas, escondidas entre reflexos do sol e o barulho das ruas…guardamos a lua nos bolsos, o silencio nos lábios, as estrelas nos olhos e seguimos com a noite escura no peito.
Os dias são noites que crescem em nós
Aflorando a pele como o sol a desflorar o dia virgem

Os dias são noites que crescem em nós, cada vez que nos deixamos ficar em sonhos adormecidos…esperando que nos acordem com um beijo.

sábado, 25 de setembro de 2010

PRAIA DESERTA




Ias e vinhas nas ondas…
Salgando o meu corpo adormecido
No chão erguíamos castelos de espuma
guardados em muralha de areia fina.
Entre conchas escondíamos pérolas,
nossos tesouros mais íntimos
Tão puros
Tão nossos
Tão segredo
Antes do amanhecer
Fazíamos fogueira com ramos secos
e dançávamos nus como crianças
Com risos traquinas
Olhares marotos
Chamavas-me sereia e eu ria.
Depois, nadava mais uma vez até ti.
Parecia ser sempre esse o sentido da corrente.
Exaustos, deitávamo-nos de mãos dadas
e deixavas-te ficar aguardando calmamente a maré
Em silêncio eu olhava as estrelas
não a querendo ver chegar.
De dia procurava a tua bravura nas ondas
Lançava-me ao mar em busca dos teus abraços
e abandonava-me nos beijos salgados só teus.
Passeava na areia molhada na busca de um ou outro dos nossos segredos
Sorria ao ver o pôr-do-sol,
breve chegaria a noite
E tu... na próxima maré…

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O QUE QUERES SER QUANDO FORES GRANDE?


O QUE QUERES SER QUANDO FORES GRANDE?

O tempo corre solto pelos teus cabelos

Muda-lhe a cor e transforma a planície em ondas de um mar revolto
...
Escorre pelo corpo e deixa um rasto de vazio

Confundem-te com o tronco da árvore de casca grossa

E sorris sabendo-te capaz de albergar ninhos de cegonha

E a sombra dos ramos de folha caduca

Serve de albergue para qualquer vagabundo

Não vergas ao peso dos frutos

Mas sabes-te frágil ao peso das mãos que os colhem

Ofereces uma maçã em troca de um bicho que te consuma

Cansada de ser tronco

Casca

Árvore de raízes profundas

Aqui e ali fica um cheiro a maresia

Sobe e desce sem que a lua decida quando deves parir

Já passaram nove luas e deixas-te ficar a arfar

Como se fosse um quase quase..a hora

E a luz não se dá sem que antes pagues a factura do tempo gasto

Dói-te as pernas

Cansadas de tanta corrida sem grande movimento

Aquelas veias que saltam querem apenas impulsionar-te a continuar

Mas hesitas sempre

Sabes-te maré cheia

E não há árvores com marés!

Sentas-te um pouco

Aguardas a hora em que a lua deixe de te tentar

E se houvesse um eclipse?

Um eclipse lunar em noite de Lua cheia!!

Mas rapidamente, o medo lendário dos lobisomens, faz -te afastar tal ideia.
Continuas sentada

Enquanto o tempo corre solto pelos teus cabelos

E as marés são mais que os marinheiros em mar alto

Lembraste-te de como poderias ser canoa

Mas a ideia de jangada fascina-te

Afinal de uma árvore podemos fazer tanta coisa!

Mas continuas sentada

Desististe de fabricar a arma, a roda, o barco

E se investisses toda a matéria prima numa cadeira?

De braços fortes, para que não faltem abraços

De acento de bunho, com mãos a entrelaçar o tempo

De baloiço, para que se adormeça como num colo

E o tempo corre solto...ainda.

Enquanto isso.. sabe-te bem baloiçar nesse abraço e adormeces ainda como menina acabada de nascer.

E se alguém te perguntar o que queres ser quando fores grande, respondes sorrindo…

Quando for grande quero ser uma Cadeira de baloiço!



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Epi..Derme



Escondo-me
Não importa se nem sei contar ao certo o tempo da procura
Sei que não devo sair antes que me salve..
Ao longe continua o som do tempo
22
23
24
25
E um grito de aviso para que nem atreva a espreitar
De repente já não quero sair
E o som continua a martelar
46
47
48
Ainda não!!
Sei que quero gritar mas só o pensamento grita
E seca-me a pele dos lábios
Angustia
Medo
Já sem saber bem o porquê
E do que fujo
Mas peço-te
Esconde-me!!
Só mais um pouco ai

Clã...destino



Sem acreditar
Segue-se a marca do dito
Em grupos organizados pelas normas sem grande normalidade
Sem rei nem “rock”
Canta-se o fado desgraçado
Usando roupa de ardina
E a canastra da peixeira
Vende-se boatos como quem oferece rosas
E segue em frente descarado
Gingão e destemido
O destino mal…dito
Traçado sem perfeição
Prendem a culpa
Matam a revolução
Sem saber que com mordaça
Mais força nos darão
E se porventura enlouquece
A desculpa acontece
E a fuga tem perdão
Muda o refrão
Cantam baixinho
Clandestino o sentimento
Loucos os apaixonados
Sábios do poder dos outros
Escondem o poder que sentem
E numa noite qualquer
Em que os pensem calados
Surgirão enamorados
Feitos homens e mulheres enlouquecidos
Por ruas e becos sem saída
Trocam as voltas
Dançam o tango em som de acordeão
Entre beijos roubados
Da sombra sairão
Que importa os outros fados?
Que se amem os mal amados
Que nos pensem ser ladrão
E o amor apenas dado
Seguem em frente disfarçado
Clandestinos sem razão