Com_traste

Com_traste

domingo, 29 de março de 2009

DIVAGAÇÕES SOBRE NADA


Se trago as mãos vazias porque me pedem tudo?

Acaso não saberão ver o quanto nada é mesmo coisa nenhuma?

Mas insistem Pedem tudo uma e outra vez.

Olho ainda para elas… não vá eu já nem sentir o peso de tudo

Não vão elas ter algo que vos pertença e eu não sinta

Olho-as mas vejo apenas coisa nenhuma

Cheias de um vazio imenso São duas mãos de nada

E mesmo assim, como um louco que não sabe o porquê das coisas

Num gesto natural de como quem sêmea o trigo em campos ressequidos,

Estendo as mãos e dou tudo o que trago nelas

Um vazio imenso

Um enorme nada

Depois sinto-me mais leve, jogara fora o peso que trazia

O vazio agora é vosso

Fartem-se

Lambuzem-se de gulosa ignorância

Encham-se de tamanha ambição

A ganância que nos olhos vos brilha

Agora satisfeita, incha-vos as bocas

Os estômagos dilatam

Engordam a olhos vistos os egos

Reflectidos nos sorrisos incontidos de vitória

Um ou outro lutam na disputa de um nada maior

E eu simplesmente olho as mãos

Que vos satisfizeram a mesquinha gula do nada

Vejo-as agora cheias

Repletas de pesada culpa

Não me resta nada mais que as mãos

As mesmas mãos que voltarei a encher de nada

Para que vos possa voltar a dar tudo


(Enquanto isso, disfarço a vergonha escondendo as mãos nos bolsos ... )

segunda-feira, 16 de março de 2009

QUEDA LIVRE..


Não temo
Chego-me mais perto do que sou
Cravo os pés na terra que desliza
Entrego o corpo ao vento num abrir de asas
Na falésia me quedo olhando em baixo a corrente
Livre para cair
Deixar-me ir sem medo
Estando pronta para o deleite da liberdade do fim
Chegaste numa gota salgada tocando meus lábios ressequidos
E eu já não temo
Não sei se és o tempo
Se és o vento
Mas deixo-me levar por ti.

terça-feira, 10 de março de 2009

1º AcTO







Ato -me e desato-me
Em apertados nós
Tentando ligar as pontas dos sentires
Prendendo os dedos
Para que não voem
Prendendo a alma
Para que não se perca de mim
Enlaço o corpo
Amarro a voz
Aperto as dores antes que cheguem
Entre laçada e laçada me prendo
Entre nó e nó me liberto
Junto os egos baralhados
Finjo-me solta
Finjo-me outra
Ato-me e desato-me como louca
Só mais uma vez,
digo contendo o respirar
Solto-me antes que seja sempre mais tarde
Sei que voltarei a apertar
Sou contorcionista
Sou a corda que me aperta
Sou o próprio nó em laço disfarçado
Sou o laço sem nó dado
Sou o próprio acto do "ato"
Ato-me e desato-me sem "nós".