Com_traste

Com_traste

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Branco como a cal da parede

Estava entre a espada e a parede
E amaldiçoou o facto de se ter vestido de negro naquele dia

Black

Às cegas
Tactearam o espaço vazio entre os dois
A medo
Soltaram-se os dedos
Prenderam-nos depois
E no chão
Arrastaram pelo quarto
O tacto
A pele
O segredo
Souberam-se mais que dois
Fizeram batota
Fecharam essa porta
E fugiram para voltar depois
Sempre às cegas
Sempre a medo

O espaço vazio entre os dois...era um buraco negro
Um segredo
Desvendando quem eram depois
Nesse vazio que os sugava




Um preguiçoso, é o que é!

Era tão tarde
Mas tão tarde
Que quando o amor chegou ela já não o viu
Foi por um triz
Disseram os amigos da onça
Se correr ainda a apanha
Mas o amor
Que era alem de tardio um grande preguiçoso
Disse:
Eu espero.
E sentou-se...
Não consta que ela tivesse voltado
Afinal nem todas as ruas vão dar a Roma
E se lhe disserem que o amor está ao virar da esquina
Procure a esquina que tenha um banco...de preferência à sombra

Da poesia não reza a história



Hoje afogaram-se nas palavras dos poetas todas as mágoas dos homens
Foi decretada a felicidade
Mandado prender o desgosto
E naquela voz nasalada ele declamava com gestos firmes
Morra...pim!
Pam!
Pum!
E morreram todos
Nos sorrisos estampados do público.
A partir de hoje, saiba quem sorri ao ler ou ouvir um poema
Que é um assassino!

O barulho das coisas



Catrapum
Fez a verdade ao cair no chão
E a vergonha corou
Mais tarde
Ao levantarem a verdade do chão
Concluíram que afinal ela se tinha ferido de morte
E que a vergonha não existia
A cor era apenas um toque de batom
Deixada na gola da camisa de alguém
Diz quem viu
Que desde esse dia o rei vai nu
Na terra de cegos

Cremada




Da flor da pele
Retirou a cor e o cheiro
No tronco nu
Desenhou corações com a ponta dos dedos
Olhou-a e chamou-lhe meu amor
E ainda hoje, a mantém num vaso sobre a mesa da sala

É uma árvore delicada, diz olhando para o Bonsai
E rega todos os dias as cinzas

Pouca Terra



O comboio das cinco que passava impreterivelmente às seis em ponto
Trazia o jornal da manhã
Noticias frescas embora o comboio fosse a vapor
E na estação aguardava impaciente um senhor de idade
Já estivera lá no dia anterior e no anterior a esse
Mal se avistava o comboio, acenava um adeus com tamanha alegria, que quem assistia pensava sempre: É hoje, é hoje que finalmente veio.
Mas hoje, mais uma vez, ele depois de acenar baixou os braços..virou costas..e saiu das estação ao som do arrepiante travar das carruagens

Não foi hoje, ainda...
Mas amanhã, no comboio das cinco que chega impreterivelmente às seis..talvez viesse...
Ele voltaria a lá estar impaciente, a acenar alegremente e a virar costas conformado
Não fosse isso, para que viveria então?

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Tocam os sinos na torre da igreja...

Morreu o morto
Diziam os toques do sino da igreja
E ao longe o choro das velhas lavava as ruas
Ai que pena
Ai que dó
Ai tadinho tadinho
Um um dlim dlão sem grande arte
Anunciava a hora...
Para que todos os mortos morressem
Na esquina do largo da aldeia
Os teimosos mortos vivos fumavam as beatas
Mais um, diziam sorridentes
E de olhos cabisbaixos contavam as pedras que faltavam na calçada
Será enterrado amanhã
Disse o coveiro
E alegremente a Dona Amélia abriu a loja das flores
A vida nunca foi tão justa como a morte
Dão à vida filhos da puta
Morrem sempre os bons!
No dia seguinte, as ruas da aldeia que ligavam a igreja ao cemitério, encheram-se de dores no peito
É uma pena, disseram uns turistas que passaram por acaso, é uma pena estas aldeias morrerem aos poucos...
No outro dia de manhã, a Maria Albertina deu à luz um menino...consta-se que não foi baptizado nem iria ter apelido paterno..
Mais um...disse sabiamente a alcoviteira da aldeia
os sinos tocaram um dlim dlão diferente
Mas na esquina do largo da aldeia..os teimosos mortos vivos fumavam beatas...cabisbaixos...dando um pontapé numa pedra da calçada...

The end

O fim
É aquela coisa escura que não queremos ver
Fechamos os olhos desde o inicio com a força da esperança
Vá, mais um pouco, teimamos
Evitando abrir os olhos e ver
O fim
E ele nasce com tudo o que nos acontece
Como se fosse apêndice ainda sem cólica
Porque nunca, nunca queremos aceitar o facto da mortalidade das coisas
Mas era tão bom que a eternidade fosse igual ao tempo que cada um traz marcado...e conseguisse o milagre de tornar eterno tudo de bom que nos acontece...até ao nosso ultimo dia.
Aqui jaz
O fim

domingo, 21 de abril de 2013

Os Livros


Os livros são pessoas que se juntam
Olhares distantes que se aproximam
Toques para lá da pele e do cheiro
Os livros são as estradas que nos separam
Em palavras que nos mostram nus e verdadeiros
São montanhas que nos escondem
São umbigos perfeitos
De um parto doloroso e natural
Qual parto animal
Que depois se deixa lamber por inteiro
Os livros são as ruas da minha terra
Em festa do sol da primavera
São risos
São crianças
Somos nós em tenra infância
Quando nos damos de uma forma mais singela
São páginas em branco mesmo escritas
São coisa nunca antes assim ditas
São a mão do outro
São a terra
São raízes
São vazio
São tudo o que me queres dizer em silêncio
E tudo o que te quero ler na solidão
São o pão
São algo mais que folhas
São as flores que dão fruto antes do verão
São meus olhos presos
Meu corpo em voo
Mente dormente
Verdade tua que em mim mente
E o contrário...
Mas se quem te lê como tu o sente
Coisa que origina esta comunhão
É o diabo que abusa da gente
E prova a existência desta divina criação.

domingo, 14 de abril de 2013

De noite...todas as palavras são minhas

Não devia ter sono
Há palavras que só surgem nos meus olhos acordados
E dormir é matar aquilo que poderia ser ainda inventado
Eu sei
É ousadia
Mas que fazer se é de noite e não de dia
Que tudo acontece como se fosse realmente novo
Mas cai o pano na cena incompleta
As luzes já não são da ribalta
Algures um farol ajuda algum marinheiro a encontrar de novo a vida
E eu insisto acordada
Como se fosse eu naufragada
Sem querer ver que são horas de adormecer de verdade
E nesse sono morre sempre mais que a madrugada
Morrem todas as coisas que penso...pela primeira vez
E é difícil não me agarrar a elas como bóias
São elas que me dão outra vida
Para poder matar enquanto durmo
E nesta contradição conto silabas
Uma a uma
Saltando a cerca ritmadas
Caindo aninhadas no meu leito
E quando acordar de manhã
Todas elas terão voado
Eu sei...por isso me nego a adormecer
Luto contra essa solidão
Mas...perco sempre
Boa noite
Dizem-me elas impacientes
Até amanhã
Respondo...não só por educação (e adormeço com um sorriso interesseiro)


Atchimm

A vida
Corria-lhe nas veias
Era frase feita para si
Na pulsação ganhava sempre o 1º lugar no podium
Não conseguia evitar
Mesmo quando dormir corria um sono profundo dentro dela
Acaso o quisesse parar, era condenada a fazer a maratona dos sonhos
E como sabia que só isso a cansava de morte
Adormecia muitas vezes contrariada...mas cedia
Não queria morrer tão cedo, e muito menos por sonhar demais
Assim vivia
Cheia de vida
Tudo a encantava como se fosse sempre a primeira vez que via algo
Tudo para ela era espanto
Conta quem viu
Que nunca ela sofrera de tédio
Nunca soube o que era cansaço
E que ria a bom rir sempre que alguém falava de stress
Poucos, que a conheceram, souberam ao certo quem era
Não por ela não se dar ou não se querer mostrar tal qual era
Mas talvez por medo
Por temerem tanta vida assim
Nunca se aproximaram muito
Só tinha um amigo
Mas daqueles mesmo muito amigos
Para tudo
Verdadeiros
Para sempre
Chama-se vento
E era sempre nos seus braços que ela surgia
Alguns falavam de amor
Almas gémeas, diziam
Mas só eles sabiam o nome daquela união
E nada mais lhes importava
Quando o vento não estava
Ela ficava diferente
Porque era ele que lhe trazia as andorinhas a dançar nos olhos
Papoilas em beijos nas suas faces rosadas
Malmequeres nos seus cabelos longos
E noites quentes, onde passeavam os namorados
Mas mesmo sozinha
Ela nunca parava
Ia e vinha numa saudação constante às coisas, às pessoas, ao mundo
Fazia-os sorrir sem saberem bem porquê
Dava cor às ruas
Vida ao mundo
Para lá e para cá...numa corrida louca
Suspirava
Um dia ainda se vai aleijar...vaticinavam os mais pessimistas
Mas não consta que tal acontecera
A Maria Primavera seria eterna
Mesmo que alguns a julguem passageira







Nada...dor

Havia um nada pequenino
Quase não se dava por si
Era um nada quase
Um nada mal
Um nada aqui
Um nada na manga
Um nada de costa
Que mais parecia de lado, porque ninguém o via
Tal como aquele senhor magrinho que li uma vez numa história
Tão nada, tão magrinho
Que passava sem se molhar entre as gotas de chuva
Mas um dia
O nada cansou de servir para dele se falar apenas por nada importante
Nada grande
Nada essencial
Tomou coragem e cresceu
Fez-se um nada importante
Não havia perssoa de valor no mundo que ele não conhecesse
Nem terra longínqua que ele não tivesse visitado
Por um triz não foi à lua
Faltou-lhe um quase nada de sorte
Ora, quando ele já era um nada importante
Um nada com curriculum e história
Viu que quanto nada maior fosse
Mais nada se sentia ser
Andava triste
Cabisbaixo
Sempre solitário e pensativo
Mãos nos bolsos, sempre cheios de si
Peso nos ombros,como se alguma coisa o fizesse vergar
Foi então num belo dia em que nada tinha para fazer
Que resolveu deixar-se assim ficar
Nada
Nadica mais aconteceu
E ainda hoje, seja do nada grande ou do nada pequenino...nada consta que tivesse ficado para a história.



Eutanásia

Um livro é como um caixão
Guarda o defunto
E por mais que sentido, chorado quando lido
Ele jaz ali para todo o sempre
Quer o escritor queira ou não
Fim
Estava lá escrito..eu li, não me digam que não!
Porque os matam assim?
É tão cruel saber que o criam apenas com essa condição
É como um nado morto
Que insistem em dar à luz
Ainda mexe..sinto-o
Mas de nada vale a reanimação
São sempre mais difíceis estes partos
Sai a ferros
Sangram as mãos
E depois escolher a mortalha com que irá vestido...sádicos, é o que são!
Deve doer...mas sei que fingem, é impossível ser verdade, tanta alegria numa morte
Sabe-lo ali inerte...sempre presente
Estou em crer na reencarnação
E lamento agora a perda do seu criador
Também ele morre aos poucos...
Será isto morrer com as armas com que matou?
Resta como consolo...serem deles os reinos do céu.





Do ser

Será sempre assim?
Esta sensação de caminho percorrido igual ao caminho por percorrer
Esta dúvida constante sobre onde deveria estar agora
Como deveria estar agora
Com quem deveria estar agora
Quando cresceres irás saber...diziam-me
Já cresci tanto!
Receio voltar a perguntar
Seria ridículo pensarem que não cresci como me disseram para fazer
Mas, eu sei muita coisa!!
Juro que sei
Sei por exemplo que as estrelas só chegam de noite porque o sol se escondeu
A minha mãe contara-me do sonho das estrelas em serem grandes
Tal como eu sonhara em pequenina...
E elas continuam a ter vergonha de se mostrarem assim, minúsculas, ao sol
Sei também que há pássaros que se vão embora logo que o tempo mude
Mas regressam...talvez diferentes, talvez sejam outros
Mas há uns que regressam!
Tal como eu fui e vim...diferente, uma outra, talvez.
Sei que há frutos exóticos
Coloridos, frescos e de outras estações...não são tão doces como as laranjas e as maçãs
Talvez pelo desgosto..sei lá
As estações são sempre lugares tristes...mesmo quando se chega, chora-se
Sei que todos somos velhos... um dia
Até os que morreram cedo demais
Sei
Sei coisas...mas falta-me saber as coisas que fazem as pessoas ser crescidas
Elas têm sempre a certeza
Isso não se faz!! Dizem convictas (convicção foi sempre algo que invejei...por medo da certeza, talvez)
Ou...Que vergonha!! (mas reparo que não coram como quem sente a dita...será consequência de se ser crescido, o não corar de vergonha?)
Receio tanto nunca saber dizer certas coisas sem corar...como corada estou agora...
Mas cresci!
Mas resolvi não o confirmar a ninguém...um dia, quando for velha, como velhos todos iremos ser...saberão!


Das pessoas com cara de PUM



Há pessoas que todas elas são um Pum
um Pum que cresce dentro delas
Incha
Incha
Mas não sai facilmente
Ficam verde, azuis, amarelas
Feias
Azedas
Tristes
Sós
As pessoas com cara de Pum são velhas mesmo quando têm 30 anos
Velhas
Irritantes
Pequeninas
As pessoas com cara de Pum julgam-se engraçadas mas são a pura tristeza
As pessoas com cara de Pum não têm o mínimo de beleza
As pessoas com cara de Pum são tão desleais !
As pessoas com cara de Pum fazem muitas festas e beijam as pessoas de que não gostam
As pessoas com cara de Pum são mal dispostas
Vomitam fel
Bebem veneno
As pessoas com cara de Pum não têm amigos mas vão às festas dos supostos amigos
As pessoas com cara de Pum por vezes não falam...fazem Pum Pum mal abrem a boca
As pessoas com cara de Pum não são loucas, usam é a loucura como álibi
As pessoas com cara de Pum deveriam ser libertadas..deve ser horrível viver dentro de um Pum assim.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Direitos não adquiridos


O direito de opinião colide com os direitos humanos, quando o 1º vai contra o o 2º

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Prova de vida...


Do rosto, tiraram-lhe as feições do pai
Do feitio, tinha sempre a quem sair
Da altura, os genes ditariam a sua sorte desde cedo
Da educação, alguém seria responsável por não lhe a ter dado
Da formação, nem todos poderiam ser doutores
Da vida, não se pode lutar contra o destino
Quando morreu...todos perguntaram quem era
Escrito na lápide: Tudo o que fui em vida, é vosso...agora esta morte é minha!

(soubesse ele que ainda hoje a policia local investigava a suspeita de homicídio e talvez tivesse deixado um bilhete junto ao copo de cianeto...ou não tivesse acreditado que a esperança é a ultima a morrer)


2 dedos de conversa...

Fumando o penúltimo cigarro, não conseguir tirar os olhos do ultimo...
E quando deu por si...era apenas cinza nos seus dedos.
Fumando o ultimo cigarro, não conseguia deixar de pensar na forma como queimou o penúltimo...
O vicio deixara de lhe dar prazer desde que se esquecera de fumar...e em vez disso, pensava no que foi ou no que há-de ser...
Acabaria por morrer desse mal...e sozinho.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Rubrica: O amor é

O amor é...

Fogo que arde sem se ver.......só quando o amor é cego ou o fogo é de vista

Cartas escrita na areia......quando for erradicado o analfabetismo..ou então continua a ser um amor elitista.

Um lugar estranho......também sem subsidio de férias quem tem hipótese de viajar?

O melhor remédio......o que levanta a dúvida: há muita gente curada ou apenas nunca esteve doente?

Está no ar......programa de rádio em onda curta ou...ele tem mesmo asas e daí ter nascido a infidelidade?

É louco......e nesse caso deveríamos dar-lhe ouvidos?

É perfeito......quando não sabemos o nome cientifico dado aquela flor

Uma carta fechada......talvez se tenham esquecido de colocar o destinatário.

É platónico......desculpas de quem culpa o outro senhor pelo que ele próprio sente

É verde......para quem o pinta ou para quem não é daltónico

É lindooo......como se a beleza fosse o mais importante, pufff

É mágico........pois entendo, não aceitam a realidade de não saberem bem como desapareceu

Olhar os dois na mesma direcção........depois não se queixem de se apaixonarem pela/o mesma/o que vos aparecer pela frente

É ridículo........e? já te viste aos espelho?

É puro........aposto que é conversa de traficante

É paciente........mas não abuses!

É eterno.....se és mortal, casa com separação de bens

É fodido.......olha que sorte hã?!! Agora entendo porque o outro culpa o Platão.

Despensamentos instantâneos




I
O lado oposto do umbigo é um ego guarda costas.
A noção do exagero não reflecte em espelho de bolso
Encher a boca com os outros só pode dar indigestão
Quando se gastam as palavras...não há meias solas que silenciem o eco

II

Estado sem sítio, é um país, que até já hipotecou a terra onde era suposto sepultar os seus mortos.
Estado de sítio é um país que nem deixa vivo o coveiro
Estado sólido, é um país quadrado, onde todos os lados, que já tiveram poder, são iguais
Estado de alma, é um país de poetas
Estado critico, é o que tem como PR um zombie
Estado das coisas, é um país em que apenas o que conta é a coisa de alguns
Estado de graça, um país gravido de um filho ilegítimo
Estado social, é um país com rede

III
Causas perdidas......são as que ninguém procura
Causas boas......as vice-versa das outras
Causas justas......as que fazem notar o aumento de peso de quem as usa
Causas publicas......são como a da Joana
Causas inveja......algo de bom terás
Causa efeito......não deves alegar desconhecimento da lei, de nada te vale
Causa dor......se separado é chato, se junto...é culpado de algo.

(Deve ter continuação...caso a causa justifique)