Com_traste

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A LOUCA



Hoje queria falar daquelas coisas que não se dizem
Com as palavras que já não se usam
A pessoas que não conheço
Não sei se existem sequer.
Não me apetece o cumprimento com o beijo babado
Nem o sorriso colado a jeito de simpatia
Que se fale contrariado
Com um sorriso irónico
Que se digam palavrões
Num beijo gozado
Que corem rostos escondendo imaculadas feições
Que se benzam as pudicas senhoras das procissões
Se ouçam rezas a pedir a salvação das almas impuras
Que nos chamem loucos e nos dêem encontrões
Para que na margem da realidade nos quedemos
Conscientes que não há lugar para almas sem dono
Neste mundo de contrabandistas dos sentidos
Que se escreva merda com todas as letras
Que se escreve doçura
Que se pintem corpos esmagados nos muros dos lamentos
E se gritem palavras de ordem
Na desordem social dos reis sem coroa
Ergamos barracas nos jardins dos outros
Toquemos batuques em sinfonias de Mozart
Em pontas sambemos ballet
Deliciemo-nos com caviar em latas de conserva fora de prazo
Troquemos as voltas à dança do ventre
E façamo-los beber a baba do seu pudor
Ah que vontade de aniquilar todas as regras
Todos os códigos
Todos os conceitos impingidos
Quero descobrir o fogo em iceberg que derrete
De sabor a baunilha polvilhado de canela
E lamber o quente e frio desgelo
Num corpo nu em êxtase
Acreditar na terra plana
Ser Eva a trincar a maçã gulosa
Sem paraíso para sonhar ainda
Prenhe do único amor possível
E depois parir em risos incontidos e sádicos
O criador do mundo novo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Aqui jazz





Nem sei se é assim que se morre..mas eu morri assim.

Também nem sei como se vive..e eu vivi.

Era uma tarde calma de um dia longo de verão,

Senti um cansaço enorme, sentei-me.

Deixei de olhar, de escutar, e fiquei ali abandonada apenas.

E simplesmente..já não importa!

Não quero saber se é assim ou não!

Quero morrer sem caixão. Quero abandonar-me, Como quem dorme sem vontade, (sim, porque vontade de adormecer só tem quem vive)

Como quem tem direito a não ser nada.

Quero ser nada, coisa nenhuma, Quero que me esqueçam e esquecer também..

Não quero o cheiro de flores que secam como as lágrimas.

Não quero saber como se morre ou se há céu.

Não quero!

Isto cansa, moí, roí, esgota, satura, mata!

Não quero mais saber como se respira.

Farta de movimentos obrigatórios, De regras e de mandamentos, de deuses que mentem, de humanos divinos.

Não me importa, não quero saber se existe vida em Marte, Nem se há o bem e o mal. Quero morrer a sorrir amando a loucura.

Quero ser a falta de senso, a sem sentido, A marginal e a demente.

Quero acordar depois… já sendo tarde.

E ouvir apenas dizer que morri…assim.

E nada ler na campa desfeita de preconceitos, Porque nada se pode escrever sobre mim. Nem sei se é assim que se morre.

Mas eu…sim, eu morri assim!




Lembro de ter morrido um dia lentamente..assim Não importa se com ou sem dor Foi naquele dia em que simplesmente me apeteceu deixar ir… Depois aprendi-lhe o gosto E essa morte sabe a figos passados A mel, no pão de côdea estaladiça A jazz escutado na solidão Aqui Jaz..zz