Com_traste

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segunda-feira, 28 de maio de 2012

DesColor


Daltónicos
somos todos daltónicos
E insistimos em ver as cores do arco íris
Com a sede que vamos ao pote
Como se verde fosse o ouro
Como se verde fosse a esperança
Pintamos o céu de azul
E o mar incolor
O único verdadeiro
Por ser reflexo
Do que pensamos ver
Do que queremos ver
Os meus olhos são negros
E negro seria a realidade que avistam
Não fosse
Não fosse eu ser como todos os olhos
Ganância
De vida colorida
E sem ela
De negro vos veria
Sem ela
Nada seriam a meus olhos
E se há momentos em que cego
Que me reste a esperança de ser daltónica
Para que existam...



http://www.youtube.com/watch?v=Yci8Gr5-2-Q&feature=related

domingo, 27 de maio de 2012

Shiuuuuuuuuuuuu


Como se escrevem sonhos?
Sem que se desfaçam na ponta da língua quando lidos
Sem que se partam quando escritos
Sem que se evaporem quando olhados
Todas as palavras são reais
E os sonhos nunca serão palavras
Há um antes e um depois
O durante
É o momento em que o açúcar se enrola como nuvem
E de olhos fechados o saboreamos
Sem nada dizer…

sábado, 26 de maio de 2012

Veloz


Corre em mim como o tempo
O sangue e o sentimento
Que me faz bater o coração
E o vento
Nas encostas do meu corpo
Solta os antigos lamentos
E voam
Agarro-me ao momento
Que me traz à flor da pele a tua
Saboreando a iguaria
Do prazer descoberto
Nesta coisa estranha
Que nos faz dóceis
E selvagens
Quando juntos
Numa velocidade vertiginosa
Aumenta a capacidade de amar
E de ser feliz
Talvez porque já fomos um e outro
E agora somos nós

PEnDente


Descalço
Agita-se de forma sensual
Como dança de ventre oriental
Sem orientação outra que não a tua
E espera
Seguro pela tua mão
Que de forma descontrolada
O controles pela dentada
Entre o prazer e a dor
Corando pela falta de pudor
Que na ponta do pé sente
Mexe-se controladamente
Prolongando o passo
Dado pela tua língua
Numa corrida sem obstáculos
Ganha pela mão
Que vitoriosa me coloca o brinco
Depois
Aguardo o beijo
Pendente na tua boca

Basium 7



O beijo por ti dado
Que surge entre o meu nome pronunciado
É a ruptura da identidade plastificada
E agora só desejo viver incógnita

Prazeres insanos


Gosto-te
Assim como quem fuma deliciada um cigarro
Entre os lábios
Num trago lento
Sentido a entrar em mim o fumo
Tóxico
Um brilho nos olhos
Sádico
Masoquista
De uma acto de suicídio conjunto
Como quem ama o risco de viver
No mais alucinado prazer
Orgásmico vicio
Riso incontido
Porque nos temos no limite do racional
Porque nos sabemos puros
Numa qualquer praia de Havana
No meio do nada
O outro lado do sonho
O outro lado da luta
Revolução em rede suspensa entre palmeiras
Che
Em memória juvenil
Crucificada imagem
Para justificar as nossas lutas apenas de cama
Gosto-te
Porque contigo meus olhos ficam enormes
Meu peito incha
Qual sex symbol de revista de WC
Gosto-te
E de ti queria dois ou três
Para quando te fores
Aqui fiques ainda
Gosto-te
Prazer condenado pelo código de conduta sã
Na ponta da língua a palavra contaminada
Do acto
Sexual
Corando as faces
Alucinada estrada de alcatrão
Numa viagem interior
Na tua e na minha mão
Na tua e na minha boca
Anda
Gosto-te
De ti quero dois ou três
Para quando te fores
Aqui fiques ainda
E me condenes
Em vida
Ao prazer de morrer porque quis

PE ante PE


A ordem
Do caos em que te penso
Origina a sequencia lógica
Dos passos antes dados
E dos que se seguirão
No tempo desordenado em que se existe apenas na possibilidade da vontade
Antes da acção
A posição
Ou imposição
De colocar um pé a seguir ao outro
É apenas uma opção
E caso queiras não ser mais um na multidão
Darás aos pés
A capacidade de decidir
Voar

fertilidade in...loco


O sexo
Duro
Puro
Corpo
Alma
Inteiro
Cheio
Cheiro
Nas mãos
Nos olhos
Na pele
De quem se quer
Tanto
De quem se dá além do leito
Fecunda a alma
Que engravida
E caso saiba ao que tem direito
Dá a luz um ser mais que perfeito
Com toda a incapacidade que o ser humano tem de gerar
O amor

Acasos e Ocasos


Entardece
De forma diferente agora
O sol levanta-se no horizonte
Como se fosse impossível esconder o sorriso que trazes no rosto
As estrelas deixam apenas os teus olhos iluminar os céus
E eu
Eu sorrio por me sentir criança
E sentir de novo o que é ser livre
Sem medo
Sem vergonha
Pura e doce
Adormeço no lugar dos teus braços
Acordo no lugar que sonhei
Entardece
Como se fosse começar um novo dia

Umbilical II


Sabem a realidade não existe
Há apenas momentos em que coincidimos
E é tão trágico como cómico
Ter consciência
De que do nada cada um de nós transforma e faz crer e crê
Que existe
Defendemos teses
Tratados
Que nada mais são que visões
E os meus olhos não são os teus olhos
A minha crença não é a tua
Tu apenas me fazes rir
Eu apenas te faço chorar
E essa sensação de vida confunde-nos
Ah como me sinto Eu nestes momentos em que divirjo de todos os outros
Ai sim encontro a realidade da existência
Um mundo paralelo em que o centro é apenas a minha consciência do irreal
E rio-me
Como louca
Assumidamente louca
Entre caminhares incertos
De esquina a esquina da vida
Sabendo-me mais que normal manhã
Quando me deparar cara a cara com algo familiar
Em que inevitavelmente sentirei como humano
A dor
O amor
O sofrimento dos que amo
Dos que sentem dores mesquinhas
E eu também
Mas hoje
Hoje não
Não me tirem esta dimensão da verdade
Inexistente no colectivo
Em que EU sei a razão
Do coração que sente diferente
E que obrigatoriamente
Sente porque todos dizem ser assim
Um bater constante
Sem o qual não há vida
Não há humanidade
E eu grito
Horrorizada
Por me sentir monstro
Porque saber que tudo aquilo que vocês sabem
Não é assumido
Quero-me só
Bicho
Homem
Gente
Alucinada
Olhar tudo como se fosse a primeira vez
E sorrir
De encantamento
Ah não
Não me tirem esta capacidade
E recusar a realidade
Que existe apenas porque somos algo mais que bichos
Libertem em mim o animal feroz
E dócil
Para que possa acreditar que é possível começar de novo
Um mundo…um outro mundo
Este é apenas erro da vossa inexperiência
Ganância
Eu sei que vocês não são vocês
São apenas a imagem que projectam
Nesta circunstância
Além…mais além
Ousariam ser reais
Eu sei…

EntreLinhas


Nem todas as linhas são rectas
Nem todos os passos são contados
Por vezes teimamos em fazer equilíbrio no traço continuo
Quando para ultrapassar bastaria usar as asas
E deixarmo-nos guiar pela única verdade que importa
A do momento em que a chave entra na ignição
E nos sentimos em chamas
Indo à lua em segundos
Acaso voltemos a aterrar
Que apenas façamos equilíbrio nas linhas das nossas mãos
E na via com sentido…partilhado

Les Uns et les Autres


Afasto os cabelos do rosto
E espreito o dia que teima em correr à minha volta
Gosto da sensação de liberdade que me dá a existência despenteada
A partida, rumo ao destino escolhido
Numa rota fora dos mapas
Numa bússola cardíaca desorientada
Eufórica
Origina uma ventania localizada
Em remoinhos capilares
Sento-me numa esplanada familiar
Como se estivesse ali pela primeira vez
Nada existe como pensei antes
Nada nem ninguém existe do mesmo modo
E continuam todos iguais
Ajeito a madeixa teimosa
E deixo entrar uma outra visão das coisas
Eles falam, mexem-se, sorriem e ficam sozinhos em olhares igualmente encobertos
Como serão os olhos deles agora?
Aquela pedra está fora do lugar e parece que ninguém vê
Ninguém vê!
Sentirão?
Riem…sentem!
Fixando um individuo
Isolando-o da massa envolvente
E parece-me um ET
O vento abranda
O cabelo liso e penteado expõe-me
Gosto de ser temporariamente normal
E sorrio pedindo mais uma cerveja
A ideia de enrolar os próprios cigarros faz-me sentir mais útil, ocupada e segura
Uso os dedos com mestria
Lambo mais que lábios e sonhos
Faço a minha liberdade de viver em risco
E fumo-a
Com filtro
Sempre com filtro
Dá uma certa ilusão de consciência
A morte sempre usou mortalha
E eu vou nua neste caixão
Que passeio nos próprios ombros
A sorte é que volto a ficar despenteada
E eles…não vêem as pedras fora do lugar
E sentem
Sentem muito
Em estridentes gargalhadas
O que torna inaudível o meu silencio
Gosto deles!

Fondue



O requinte
Da simplicidade como me colocas na mesa
Em negro de fundo atoalhado
Faz-me crescer agua na boca
Afastas a cadeira para que me sente
Frente a frente
Sorris iluminando as velas
Temperas a carne a meu gosto
Em chamas colocas pouco a pouco
E nos molhos aguças o paladar
Abres o vinho
Brindas a beijos sem fim
E entre morangos adocicados
Mordes os lábios
Que moldas com as mãos
Do degustar em vagar surge a gula
Da mesa faz-se altar
Danças com o olhar
Matamos a fome com ternura
E no fim da ceia o doce
Que em vinho sagrado mergulhas
Já não há tempo nem lugar
Onde me possa saciar
Tenha eu fome de
Desejo
Amor
Ou doçura

Aduela


Não sei se foi o vento que fazia
Ou a solidão que eu sentia
Que me levaram aos teus braços
E ai me prendi
Noite dentro
Até de dia
Um feito turbilhão
Outro brisa da tarde
E nessa tempestade
O mundo simplesmente girou
E depois disso
Nunca mais se soube o norte
Cata-vento em confusão
Vento forte
Ou furacão
Abre-se a porta na palma da tua mão
Por onde entro segura
E no lugar da porta
Aduela como moldura
Do quadro
De obra genuína e pura
Na sala onde sem esperar nos encontrámos
Eu e tu
Cúmplices dessa porta
Ou ela de nós

Basium 6



É no beijo encostado
Na parede que esfria
Que dominas e és dominado
E dizes baixinho
Bom dia!
E sem mais nada dizer
Segredas-me com as mãos
Tudo o que sabes de mim
Mesmo sem eu o saber


domingo, 6 de maio de 2012

Frente a frente


O lado certo
É a diferença de opinião
O teu sim e o meu não
A força do que falo
A segurança do que calas
O lado certo
É o querer partilhar tempo e espaço
Sem certezas
Passear na tua mão
E sorrir quando me olhas
O lado certo
É saber que tens medos como os meus
É não querer deixar de ser
É dar hipótese à solidão
São as horas infindáveis em que nos damos
Na troca de valores sem juros
Nem contas a prazo
O lado certo
É o lado oposto
De um rosto apático
De um corpo dormente
O lado certo
É qualquer lado da gente
Que se sente vivo e completo
Num encaixe de peças de puzzle
Sorrir contente
Na descoberta
Sentir o melhor de mim em ti
E saber-te tão puro quanto diferente
O lado certo
É a incerteza de nós
Mesmo que um e outro não tenham duvidas
Ou
É a duvida de um e de outro
Na certeza de nós
O lado certo
É uma probabilidade confirmada da nossa diversidade
Unificada num beijo