Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 29 de maio de 2013

. . . _ _ _ . . .

É angústia que me injectam nas veias todos os dias
Dada gradualmente
Picada ardilosa
Qual rega gota a gota
Abro os olhos e vislumbro um sorriso encenado
As batas brancas são iguais à do Sr. do talho
Mais um pouco de atenção
Quase peço silêncio ao próprio coração
Jurava que escutaria o cutelo a partir carcaças
Hummm são profissionais
Nem um pingo de sangue naquelas batas imaculadas
O lavar de mãos constante é suspeito
O único álibi é o local e um nome bordado no peito
Doí-me os olhos por fixar tanto os teus
E esse olhar vazio
Que foi feito de tudo que a vida te deu?
Quero um juiz
Um direito
Um cúmplice de Deus
E não me acusem de emocional sem razão
Já não há nada a perder
Porque só me tiram a paciência
E a crença nos homens bons
Qual o custo da ciência?
Se enquanto ainda se respira és acusado de gastar o ar dos outros
Demência
Estão todos loucos
E nós figurantes de uma cena teatral
O que custa não é o fim
É a fraca qualidade do ultimo acto
Por culpa do encenador
E tu, actor principal nessa peça
Aguentas
Sem queixume
A injustiça do papel que te fazem representar
Angústia, antes vinha só para o jantar
E agora
Gota a gota invade-nos os dias

terça-feira, 21 de maio de 2013

Da_dor

Um ai
Ou um ui eu daria
Soubesse eu por onde vai esta coisa que nos guia
Dava-te a mão no caminho
Num gesto que de tão simples comovia
Dava o peito para que sentisses sem cansaço
O amor
A dor
O mar revolto que em mim desagua
Dava-te amarras
Dava-te asas
Um leito
Um céu
Um mundo
Dava-te tanto
Dava-te tudo
Soubesse eu que a compatibilidade era eterna
E doaria as entranhas para que sucessivamente dessem à luz aquela coisa intermitente...apenas porque nos esquecemos de acreditar na ciência exacta que é o amor
Que se sente...ou não.
E que se quebra como todos os cristais...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Puzzle




Perdi a cabeça algures, entre o ontem e o amanhã
O peito, desfeito..está aberto
Os olhos mergulhados na ilusão da vida
E o meu querer..aquele querer que é vontade anímica
Faça chuva ou faça sol
Que nos levanta os ossos pela manhã
Está algures afundado nos meus olhos
Nas mãos
Toda a raiva que gera a violência
Num murro capaz de matar todos os criminosos deste mundo
Abro as mãos...entre elas uma cabeça perdida
E baixo o olhar para um chão que ainda sinto
Esperando que chova ou nasça o sol
Daquele lado oposto...do tempo e das coisas
Porque crescemos e passamos a acreditar que as coisas podem nascer e morrer ao contrário
E a fé nos homens, pode crescer no momento em que se reconhece os bons ao mesmo tempo, paradoxalmente...conhecemos o quão são maus os mesmos homens.
E no fundo disto tudo...desfazemo-nos em partes
Quiça se consigam montar de maneira a que no fim tudo faça sentido
Quiça...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Balanço

Quando me incha o umbigo
E o mesmo se banha em vasto mar de arrogância
Uso e abuso da poder da palavra
Da opinião baseada em mim mesma
Canso-me de todos vós
Penso no que são
Vejo-vos os olhos baços
Os gestos programados
As palavras mudas
E no meio de tantos que amo
Consigo odiar o mesmo numero de vós
Só preciso de ter a capacidade de colocar o deve e haver
De cada um...o peso certo
O resultado final
Sei que quando desinchar
Será justo

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Desfolhada

Malmequer
Muito
Pouco
Nada
E assim se desfaz uma flor

Desde esse dia aceitou o facto de ter que dar a mão ao prometido
E nunca mais olhou os malmequeres de frente

Não vale a pena chorar ...

Da consciência
Já só restava uma gota no fundo do copo
Era branca
Já devia estar quente
Pois ao tempo que ali estava, qualquer consciência deixaria de estar fresca
Alem do mais..era verão
Como raio se mantém uma consciência fresca no verão?
Ainda mais, quando de si já só resta uma gota...
Restava a decisão
Beber até à ultima gota
Ou deixar que ela fique ali como prova
Ou tentação
E num gesto súbito, talvez naquele momento em que se tira mais um cigarro e se procura o isqueiro..algures
A mão...deixa cair o copo, derramando a ultima gota pelo chão
E antes que desse tempo para qualquer reacção
O gato apressa-se a lamber o liquido...quente
Resta saber se mesmo assim...só uma gota e quente...surtirá efeito.
Na manhã seguinte, ambos, a mão e o gato...falaram do tempo que fazia e de como o verão estava quente e seco...
Na sala, um livro, recitava em voz alta e bem colocada, um poema que dizia assim:
E vós
Coisas sem sentimento
Sem razão
Porque esperais
Para Tomar de vez o mundo!

Ao lado, uma garrafa de liquido branco...no gelo..
Do rótulo humedecido, ainda se conseguia ler as primeiras letras...C O N S

Ouviu-se um estrondo...ao mesmo tempo que um miar aflito...e uma mão ainda tentou segurar o copo..mas já não foi a tempo!

Anestesia


Ela
Adormecia a dor com o garrote apertado no peito
A demência
Com o fumo a ervas doces do chá da avó
Snifava o pó dos móveis
Lambia a própria saliva
E acaso ainda sentisse
Fazia sangrar os pulsos
Só um pouco
Na dose certa
Aquela dose que dava a consciência do acto
Tinha sempre um toque de arte nos pulsos
Ou nas faces
Mesmo nua
Todo o corpo de nódoas negras
Mostrava a ousadia digna de mestre
Desenhava a cor purpura
E a traços bem vincados
Tudo o que em si vivia e doía
Inexplicavelmente excedia
A dose humana para que um ser tão puro fora formado
Quando asfixiada por mordaça
Seus olhos negros cintilantes
Inundados
Falavam do quanto seu corpo desgraçado
Aguentava calado
Um mês inteiro
Um ano
Um tempo infindo
Condenado
À anestesia necessária
Para aguentar a imensidão da dor
É louca
Está possuída
Coitada, o mal dela é ser mal fodida
Diziam os seres andantes do reino
E ela com o pulso aberto pelos sentidos
Auto induzia a dose diária
Da anestesia necessária
Para sorrir como louca
E não deixar que descobrissem a verdade
O mal dela era ser tanto ou tão pouca
Que todo o espaço que tivesse
Era nada mais que um pedacinho
Daquilo, que para ser gente
Precisava
Nem reclamava terra fértil
Chega um espaço
Poderia ser um espaço de céu aberto
Sem amarras
Antes que se acabe a anestesia...
E resolva mesmo enlouquecer

T0 aluga-se
Lia-se nas vitrines da cidade
Mas tinham tecto...paredes
Numero de porta pintado
Se alguém souber
De um espaço
Pode ser um quarto sem mobilia
Com janelas como paredes
Tecto de estrelas
Fechaduras estragadas
Faça o preço
Ela paga a pronto
Em dinheiro vivo
Todo bem contado
1
2
3
4
5
6
7
8
Sôtor...deixei de sentir as pulsações...disse uma voz de branco
Desligue e aponte a hora do óbito
Respondeu outra voz...de um branco sujo.




quinta-feira, 2 de maio de 2013

Divinos

Se Deus existisse era bom
Disso eu tenho a certeza
Mas ou por malvadeza
Ou pura condição
O Homem criou o mal e chamou-lhe oposição
Ao outro ser que ainda não foi inventado
E nessa altura
O Homem, um homem daqueles mais indignados
Achou por bem usar a razão, e com fé
Disse:
Haja Deus
E Deus houve
Para mal dos nossos pecados
Ele, o tal que acabara de ser criado
Pensou ser mesmo abençoado
E agiu
Fez do mundo esta coisa redonda
Para que não possamos ver mais longe
E quando a lua de nós se esconde
Fazemos de conta o paraíso
E só de noite
Bem no escuro
Assumimos o outro lado
Do mundo que pensamos ter sido criado
Para nossa punição
E caso haja luar
Apontamos o dedo
Quem se atreve a duvidar
Que há um Deus presente
Rezemos como gente
Crentes
Humildes
Carentes
Deixemos na ladainha
Na nossa baba fininha
A dores
Os desejos
Os sonhos
Os prazeres e os medos
Que ao terminar estaremos salvos
Da nossa própria consciência
Entregues em penitência
De nada somos culpados
E em banho Maria nos deixamos
Num baptismo vagaroso
Até que fiquemos no ponto
E num estado mais sólido
Consigamos ser inteiros
Partes
De um todo
Mentiroso
Haja Deus...disse o outro
E como que de um milagre
Esperemos






Droga

Acabou-se o pão
O vinho
Nem o cigarro no deixaram
E agora como matar a força desta vontade
De morrer pelas próprias mãos?
Ah que a vida é bela
E ninguém a pode tirar
Que se te matas não és digno dela
Sê homem e deixa-te matar
Mas eu quero fumar as pedras
A erva
O pó dos mortos que morreram por todos que cá estão
Para que pelos menos consiga agoniar
Sorrindo
Sentido
E saber porque morri com razão
Mas para que quero eu migalhas
Se delas nada mais posso alimentar?
Deixar-me matar com as palhas que aos burros dão para que trabalhem
E eu fumarei essa coisa sorrindo
Direi ao mundo que de mim sou meu dono
E já sem forças
Sem ar
Sem palavras
Irei erguer o punho
Ver miragens
Mas até ao fim
Serei digno.





Náuseas

Dá-me náuseas o imbecil
O rei
O Dono
O escravo submisso
Eu quero agora cheirar Abril
Depois de um Maio cantado em uníssono
De que me serve a razão
A dor
A raiva
Se em cada esquina há um cabrão
Um filho da outra
Vendido
Povo sem ser unido
Ser rastejante
Que não sente
O sangue é um rio que nos une
Mas das veias que cá dentro
Como represas este rio faz correnteza
Nem sempre encontra o mar para desaguar
E cansa
Mata
Desvanece
Toda força que em mim cresce
Porque quebro agora?
Porque perco a força?
Não fosse vê-los loucos a seguir sorrindo para a forca
Talvez nada em mim isto acontecesse
E do meu rio e do teu rio um mar brotasse
Não
Não sou dona da razão
Mas custa ver que um cabrão com fome
Lambe a mão ao capataz
O cu de judas acaso isso lhe fosse pedido
Ah seus vendidos
Ide morrer bem longe
Nem da vossa pequenez são donos
Nem da vossa miséria dignos
Hajam Homens
Que não vermes
Capazes de depois da dor
Dar razão aos seus actos
Que morram
Morram de fartos
Fartos de tanto rastejar
Porque não sois dignos da bandeira
Que tentamos levantar
Ah filhos da puta
Que quase mortos
Ainda beijam a mão ao carrasco
Morram
Morram de fartos
Ou de vergonha dessa triste condição
Porque a mim dão-me náuseas
E sobre as vossas campas me purificarei
Em vómitos!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Tãntrica

Crescera a calar o que sentia
E um dia
Já quando a garganta sufocava
Aprendeu a tirar prazer do aperto
E mesmo quando tudo falava
Guardava para si um ou outro sentimento
Aprendendo a dar o nó no limite
Sempre bem apertado
Num, é agora...e ainda não
Só ela sabia quanto prazer lhe dava o silêncio
Atado à volta da sua garganta


ExiGente

Do amor
Ela queria aquele cheiro a cama desfeita
Aquela cor rubra nas faces
Aquela voz rouca
Aquele arrepio na pele
Aquele brilho nos olhos
Aquelas mãos em busca do infinito
E aquela palavra
A palavra proibida
Dita vezes sem conta
Do amor
Depois de usado
Ela não queria mais nada
A não ser a ousadia
A ousadia no meio da rua
Exposta a vontade em gestos íntimos
E o risco
Correr o risco de os julgarem mesmo amantes
Ah como o amor a excitava!


O sentido obrigatório da vida

Amanheceu cedo
As manhãs sempre foram de hábitos
Ele aproveitou o sentido de oportunidade
E acordou em sintonia com o dia
Sempre foi pessoa de acompanhar os outros nas desgraças
Há quem tema que ele morra por isso mesmo
Há quem o tenha ouvido dizer que ninguém deve morrer sozinho
Mas com o sentido de dever cumprido
Saiu porta fora para levar a manhã a passear
Era vê-los de braço dando
Rindo
O sentido de humor era coisa que não lhe faltava
E quem tem sentido de humor ama sorrindo
Não possuía um grande sentido de orientação
E perdia-se sempre nos sentidos proibidos
Vivia a maioria do tempo em contra mão
Mas isso era coisa que não o incomodava
Sentia-se bem ao contrário do mundo
Não fosse o sentido obrigatório ser tão profundo
Ele teria por certo tido outro destino
Assim, o sentido obrigatório deste mundo´
Mesmo para aqueles que ao contrário andam
Obriga que nem que por uma única vez na vida
Se morra...porque sim.


Um mãos largas

Escrevia na palma da mão destinos
Tinha tendências suicidas
Desenhava sempre nos pulsos, uns pequenos pontos espaçados como picotado em folha de papel
Quando finalmente se matou
Foi num poema
E nele dizia apenas
SOS
Ele sabia que mais cedo ou mais tarde iria largar a mão
Presa a um amor qualquer