Com_traste

Com_traste

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Bi_Polar

O urso fofinho na cama do menino
Ou o outro animal que de quando em vez nos faz mal
Ou ainda o Pulo da mente demente
Que de dia ri e noite chora
Que sente e mente
Mente o que sente
Faz de toda a gente
Acrobatas
Em salto mortal escarpado
Tentando cair a pés juntos
E sorrir
Por saber disfarçar a rede
Que nos sustenta...na anormalidade.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Espalhafatosa

Poderia escrever alguma coisa interessante....podia!
Mas há alguma coisa mais interessante que o silencio...que possibilita todas as coisas?
E então..calou-se!
Não escondendo o sorriso sádico, que com sorte não seria entendido...

Marginal

Não tinha regras
Nem mapa astral
Mas seguias-se pelas estrelas
E a lua cheia era a sua morada
Olhava a mão do destino e não entendi o que lhe estaria guardado
Então...ousou agir apenas pelo sentir
E nessa mão cheia de sensações
Quebrou corações
Chorou de amor
Quis tanto viver em liberdade que se prendia a cada um que lhe dizia amor
E no fim das contas...nunca encontrou aquilo para que se sabia destinada
Amaldiçoou Deuses
Negou a humanidade
Virou fera
E de presa a predador
Esperou a evolução da sua espécie
Que sabia extinta
Quiça haja vida em Marte e nela...humanidade que se cansou de esperar
Sorria
Nunca se iria encontrar..a não ser que...
Aceitasse morrer assim
E reencarnasse novamente nela
Mas na hora em que se dava o fim
Foi decretada a inconstitucionalidade da reencarnação
E ...Fim!!!

De...Mente

Diziam-no louco
Sentia-se louco
E todos os dias, depois da visita ao psiquiatra
Despia-se e...fazia amor com a sua loucura
Uma negra linda
De olhos tão profundos que faziam eco dos seus
De pele tão pele que o deixava entrar para lá dela
De corpo de curvas acentuadas que o faziam tomar atenção a todos os pormenores
De seios tão cheios de vida que ele os sugava para se alimentar
De sorriso tão branco e genuíno...que ele ria e chorava só de olhar
E cada vez que se amavam,ele enlouquecia de amor por ela uma e outra vez
Até que amanhecia...e ela ia
Para que ele pudesse continuar normal
Sentido-se louco
E fingindo estar-se a curar

Fazer-se ao caminho...

Resolveu-se
E foi
Encurtou a distância que o separava do longe
E o longe ficou mais perto
A velocidade da ida fora proporcional à velocidade do regresso
Tinha tempo para dar e vender
Mas pressa
E com pressa acabou por ficar com mais tempo ainda
Chegou a horas certas
Perdeu-se duas ou três vezes...mas ou por ter GPS ou seguir a sinalética
Reencontrou sempre o caminho certo
Depois ficou cansado demais para poder avaliar se tinha valido a pena
Mas agora tinha já uma certeza...aquele caminho não lhe seria mais desconhecido.
E assim adormeceu
Exausto a pensar na próxima viagem...para outro lado qualquer.
Talvez mais perto.

Descolor

Se ousasse despir-se da cor que a cobre
Seria aquela outra
Que ri e goza quando lhe sangra a pele
E se rasga a alma em farrapos
Num aperto das carnes aos ossos
Num respirar quase impossível
No limite da dor que imagina
Ainda casta e pura
Apenas com a corda ao pescoço
Aperta o nó
Lentamente
Por no contraste do preto e branco
Atingir o êxtase

Eclipse

Fugir da lua e do sol
Como quem brinca ao esconde esconde
Apenas para passar como sombra
Discretamente
Por entre os dias e as noites
Até que se unam num eclipse
As coisas
E faça sentido acordar e adormecer...como as pessoas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Falta-te um bocadinho assim »...«

O tempo...é aquela coisa que fica contida entre o indicador e o polegar
Quando seguras uma ervilha e estás feliz
O tempo...é aquela coisa que fica entre o isqueiro e o cigarro
Quando estás a tentar deixar de fumar...e estás...nervoso
O tempo...é aquela coisa que fica entre a recordação de um beijo...e o sorriso que fazes ao lembrar...
Quando estás consciente que a vida são momentos
O tempo...é aquela coisa que fica entre a dor no peito e um suspiro...quando tens saudades de algo
O tempo...é uma estrada acidentada...quando não sabes se deves ir ou ficar
O tempo...é o eco no fundo de um poço
Quando repetes vezes sem conta o erro de não beberes quando tens sede
O tempo...é o tempo que levas a pintar as brancas...mesmo que arrastes os dias a tentar disfarçar
O tempo...é aquela coisa doce em forma de nuvem...que te deixa os cantos da boca pegajosos
O tempo...é...longo
Quando o fazes teu e partilhas
E entendes que ele é a tua única sina
Quando desenhas na palma da mão o teu destino.


Tu no eres tu

Tu boca es mi boca
Cuando de los amantes cuentas cuentos
En mis besos
También tus ojos son mis ojos
Cuando mi punto de orientación
es lo que ves em mi
Cuando mi piel ya no es mi piel
por reunirse contigo en la carne
de sangre
caliente
donde se cruzan dos seres en uno


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

voz de exclamação

Estava sempre cheia de duvidas
Cansava por se fazer tantas perguntas
Uma vez descobriu que senão usasse pontuação
Tudo ficaria mais fácil
Assim se encheu de certezas
E o mundo
Aquela coisa redonda com dois olhos e com muitas pernas
Começou a contraria-la
E a cada suposta certeza
Duvida não pontuada
O mundo ria, desdenhava e desmentia
E ela
Ela aprendia
A ter resposta sem nada perguntar

voo rasante

As andorinhas partiram
Algures mudou a estação
E um homem parado no fim da linha
Simplesmente ficou a vê-las partir
As coisas simples são assim
Mas os ninhos
Os ninhos ficam para nos complicar a vida
E neles
Todas as coisas complexas
Como a esperança
A duvida
E a vontade de acreditar que somos capazes de fazer algo mais que ficar ver acontecer as mudanças de estação

Despiste

Nunca saia com duas meias iguais
Esquecia-se de deixar comer à gata
Voltava sempre a casa antes de entrar no carro...quase sempre era o telemóvel ou o bloco de apontamentos que ficavam para trás
A vizinha todos os dias tinha um nome diferente
No trabalho, a agenda estava sempre aberta nas paginas do futuro longínquo
Quando viajava de casa para o trabalho, ligava o Gps para um destino do outro lado do mundo
Ouvia a rádio apenas por simpatia..cantava sempre a mesma canção e de vidro aberto, cumprimentava o condutor do carro do lado, acaso o vermelho a fizesse parar...com um sorriso cúmplice
No parque de estacionamento, desenhava golfinhos no chão, outras vezes andorinhas...e serviam de pistas para o regresso
Quando a convidavam para festas...levava sempre um presente mesmo que fosse passagem de ano de todo o mundo
Na lista de contactos de telemóvel...adicionava um nome das historias infantis a todos os seus amigos
Raras eram as vezes que não atendia à gargalhada...por a branca de neve ser negra ou o príncipe com orelhas de burro o ser completamente.
Uma vez mudou a cor do cabelo...e ligou ao canalizador na manhã seguinte...para verificar o que se passava na canalização que a agua do banho estava negra...
Quando chorava...nunca conseguia explicar porque o fazia...e quase sempre acabava por arranjar outros motivos...embora o pessoal do trabalho estranhasse ela estar tantas vezes nos "dias difíceis"
Um dia...perdeu-se
E até hoje coloca anúncios nos jornais
Convicta que algum dia terá sorte e...alguém se lembre de a ter visto por ai...


Anonimato

Ninguém o conhecia
Costumava parar na esquina do quiosque
Comprava sempre o jornal de letras (aprendera a ler desde muito cedo e nunca teve jeito para desenho)
Um maço de cigarros sem filtro
(Gostava de ter motivos para cuspir em publico)
Uma caixa de chicletes de menta
E seguia até ao café do mercado

Também sem ninguém o conhecer
Serviam-lhe a bica curta com o habitual copo de agua
Até ao final da manhã seria visto por centenas de pessoas que por ali circulavam
Não tinha carro, e era habitual vê-lo fazer grandes caminhadas a pé junto ao rio
Falava com os pescadores...sem nunca ter ido à pesca
E não eram raras as vezes que um cão vadio o seguia até casa
E algumas noites adormecia no tapete velho junto à porta
O nº da porta era o 48
A caixa de correio estava identificada, e todos sabiam que ali não valia a pena colocar publicidade
Não consta que recebesse muitas visitas
Nem o vizinho do lado se lamentava de barulhos estranhos... partilhavam a ligação à Internet
Um dia nunca mais ninguém o viu
E consta que diariamente era lamentada a sua ausência
Bom Homem...disseram alguns quando questionados pela menina da televisão...e em todas as reportagens não costa que alguém fizera referência ao seu nome de baptismo.

E até hoje a caixa do correio identificada ...
Pode ser que volte
Pensa o vizinho
E no tapete ainda dorme o cão
Boby
Que todos continuam a alimentar diariamente...
Bom amigo, o Boby...o melhor amigo do Bom Homem!