Com_traste

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Queijo fresco...


Tinha a faca e o queijo na mão
Mas apetecia-lhe bolo de “nos” com passas
Não matou a fome
Já tentara três vezes cortando os pulsos à dita
Mas a desdita acabava sempre por não sangrar
E sem sangue não se fazem cabidelas
Colocou então no cabide o único casaco da pele que possuía
Deixando dentro do umbigo as migalhas
Nu deitou-se no chão gélido
Faca numa mão
Queijo na outra
Queria tanto ter a vontade…que adormeceu pensando nela
Ao acordar, mesmo se a vontade viesse, seria tarde
O queijo matara a forma ao roedor faminto
Vagabundo dos buracos escuros e podres
Que mesmo sem faca não morre de vontade dela
Só lhe restaria a faca
E dois pulsos
Mas…mesmo já tarde a vontade viera
Sem nada que colocar na outra mão
Guardou a vontade no umbigo…
Esqueceu-se até que existiam bolos de “nos” com passas
E ficou à espera
Quem sabe um dia não voltará o queijo?

Resta saber...
Quanto tempo de vida terá uma faca
e por quanto tempo se pode guardar uma vontade

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Meus Deus!


Homem bomba
Com coração sempre armadilhado
Lançador de facas contra maçãs de pecado
Acertava sempre na dúvida
Atirador a alvos descentralizados
Na mira a anormalidade
O desuso de factos ou fatos
Traziam nos acordos a possibilidade de entendimento
O verão prometia uma colecção bizarra
Ele seria modelo e estilista
A parra cairia na passadeira de cor negra
Outono seria a estação mais próxima
E nas senhoras colocaria botões na pele de pétala rosa
Depois esperaria o próximo comboio para decidir ficar no mesmo sitio
Nada estaria no fim sem que antes ele pudesse colocar o ponto.
Decidira então escrever no bilhete furado
O revisor seria convocado pela própria arma
À mesma hora, num qualquer local, aconteceria o prometido
Bastaria chegar antes do final do tempo
Cronómetro colocado na bomba descontrolada
Salvaria todas a vidas
Bastaria cortar o fio certo da navalha afiada
E não mais deixar que a maçã se dividisse em duas.
Uma maçã inteira seria a recompensa
O prazer da dentada até no bicho
Ele seria o salvador do mundo que acabara de bombardear.