Com_traste

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

OLá como está?


Abstrair-me de mim
Usando acessórios que me cobrem
Para por debaixo do que sou
Sorrir
Educadamente
A quem passa
Fingindo não saber que de negro me cubro
Apenas para que não me veja nua
Não é o frio da noite que me arrepia
É o gelo da luz do dia que me incomoda o olhar de frente para o espelho
E se me dizem bom dia
Com um simples gesto de tirar o chapéu cumprimento
Escondo a voz entre sorrisos sempre verdadeiros
Apenas porque sei meus os sentires que me puxam os cantos da boca
E nada mais saber fazer que cobrir de negro os dias
Deixando em branco as noites em que me visto completamente nua
.

domingo, 22 de novembro de 2009

Palavras...mudas


Já disse tanto..
E tantas vezes as mesmas coisas..
Tudo se repete nas palavras
Uma e outra vez desenhadas por sentires
Tantas vezes loucos
Tantas vezes poucas
E foram sempre demais as palavras ditas por mim.
Sobram-me
São como pratos cheios de nada que alimentam a fome sem barriga
Ou a barriga já sem fome
E voltam a dar-se assim em palavras vagabundas
Os medos e os supostos amores sonhados
Os gestos apaixonados
Até os cheiros das flores
Dá-se tudo nas palavras
Acho até que são prostitutas
Da vida ..
Mas dão-se, é de graça
Não se vendem a quem passa
Não são palavras por obrigação.
São como ramos de rosas espinhadas
Cheirosas
Habilmente agrupadas
Ofertadas com laçarotes de tule às cores.
E quando passa o tempo apodrecem
Decompõem-se em partículas mal cheirosas
Peganhentas, agarradas a copos de cristal sem brilho
E ai relembramo-las sorrindo
Ai o que já disseram as palavras!!
Quantas vezes acusadas de exageradas
Outras tantas de mal formadas
E por crimes feitos julgadas
Condenadas ao silêncio em corredores apertados
E sentir como qualquer condenado
O tempo a passar…em riscos desenhados na língua
Os lábios como grades enferrujados
Lentamente..torturamos as sílabas na garganta.
Dormindo despidas em campas de mármores negros
Ficam as palavras dos desejos, têm sempre morte lenta
E a definhar devagar, dentro de qualquer corpo pecador
Essas são palavras perigosas não convêm deixar de vigiar
Por vezes as medrosas choram entre sorrisos nervosos
Ou com sons tímidos apenas
Evitam expor-se…aceitam a dor em tragos salivando para dentro
Não desejam serem dadas para que não as julguem mais.
Há as caladas e felizes
Aceitam a sua condição e fazem votos de silêncio
Como crentes sem hábito mas certas do seu amor
As palavras caladas são as mais afortunadas
Sentem-se como jóia em caixa forte
Não invejam as ditas não desejam ser compradas
Essas, as vendidas, não, não são as que se vendem ao amor
São as que se vendem sem vergonha ao poder do inquisidor
Ao pagamento mensal
Á comida no prato
Aos sorrisos fartos dos que as ouvem masoquistas
São palavras sem grande amor-próprio
Entregam-se em leilões dos maldosos
Faladores sem grande imaginação
Mas poderosos.
As palavras são pecados
Tantas vezes revivem num outro ser qualquer
Seja homem ou mulher
Usam-nas e abusam delas sem temor
Um dia olhamos para elas e deixamo-nos de nos ver retratados
São qualquer outro…roubados, pensaremos a sorrir.
Pelo menos desta forma
As palavras que tantas vezes proferi
Deixaram de parecer loucas
Andando por outras bocas chegarão a melhor fim.


E nesse dia em que não me revi nas palavras ditas...escrevi!


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Calças com rabo de fora...


Quando vesti as calças ao contrário e todos se riram de mim…
Por acaso saberiam eles o quanto era difícil vestir umas calças velhas no escuro?
E faze-lo sozinha, antes que as torradas e o café com leite arrefecessem?
E fazer um caminho longo, dia sendo noite ainda, chovendo a cântaros e com uma sombrinha que só tapava o sol?
Por acaso saberiam eles quando se riram que me iria sempre lembrar desta calças velhas vestidas ao contrário?
E saberiam também que ainda me lembro dos seus dentes amarelos, a rir..a rir…a rir ?
Eram umas calças de tecido de lã, feitas de um qualquer casaco velho…já vestidas antes por alguém mais velho…que talvez antes as já vestira ao contrário.
Coisas…ao avesso na minha vida…desde que ainda nem tinha mãos para guarda chuvas ao vento nem para dias a começar de noite.
Por vezes lembro…

da rua de Arouche nº 25

Vem...Dada


Ata-me ao leito do teu corpo

Aperta-me os ossos contra os teus

Afoga-me

Não dês perdão

A quem não sabe ser apenas ..

SER

Para que serve os dedos que te tocam?

As mão que atam as tuas em forma de Nós?

Venda-me algo mais que as vistas

Venda-me a alma desgraçada

Não mereço ter visão para lá das pequenas coisas

Para lá da vida

Que atrevida..ao querer e não querer

Venda-me o corpo que se derrete no toque

Ata-o com panos negros

Não o deixes solto..não se soltem os medos.

Venda-me os lábios que têm visto os teus ao longe

Ata-os com panos quentes, para que queimem os beijos que não sentes

Venda-me os olhos ainda

Ata-os com panos dobrados, que se ceguem as miragens

Que deixem de ver

Depois de corpo preso

De alma atada

Que se atreva esta malvada a te voltar a perder.


Vem..Dada .. SER.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

FORA de..Moda?


Não me apertem os laços
Não me desfaçam os nós
Deixem-me andar enlaçada ao meu jeito
Apertada até à exaustão
Não me abotoem a camisa
Nem me puxem as calças
Quero andar desalinhada
Despida
Deliciosamente perdida
Como vagabundo sem eira nem beira
Como caminho sem principio ou fim
Não me calcem as vossas botas
Quero andar descalça ainda
Como quem nem sente se caminha pelo pó
Ou pelo vidro cuidadosamente estilhaçado por mim
Não me obriguem a vestir meias de seda com ligas
Quero as peúgas antigas
Esburacadas e a tres..andar sim!
Não me coloquem chapéus bonitos
Nem fitas de cores garridas
Deixai-me estar despenteada, linda
Não quero sentir o pente..ado armado
Que se soltem os fios de mim
Não me obriguem a vestir casacos
Já me chegam os buracos onde guardo livres as minhas mãos
Não quero aconchegos de lã
Deixai-me ter o quente da pele
Arrepiada, dorida
Sangrando de todas as feridas
E sem a vaidade vestida de papel
Não quero as malas de mão
Guardo em mim as tralhas de mulher
Não quero cintos…já sinto a mais assim
Não quero acessórios para dar o “tal” toque…
Tenho as próprias mãos!
Que se lixem os vossos estilistas
Com modelos estapafúrdios
Deixai-me ser a fora de moda
Com todos os estilos em mim inventados
Quero que toda roupa me fique em desuso
Que me olhem nos óculos espelhados
Fiquem horrorizados
Vomitem ao olhar para mim.
Que se partam as fitas das medidas ideais
Se não há larguras a mais em mim…
Que se quebrem os saltos
Chegarei bem alto, sem os tacões de sádicos alfinetes

E deixem-me sim
Passear na passerelle
Com passo trocado
Alcoolizado
Melosa de tão doce saliva que me pinga
Tropeçando no chão de sangue alagado
Como prova de que posso ainda ser prenhe
De vida..
Contrariando os ventres inchados
De gravidezes umbilicais
De universos estrelados, de..cadentes sim!
E sigo vaidosa
Parando de mão na anca e olhar descarado
Sorrindo amarelada..mente
A cada click de máquinas mentirosas
A cada flash de luz artificial em mim
E serei capa de re..vista por fim.
Mas larguem-me já disse!
Deixai-me morrer no espelho

Seguirei depois despida de mim…mas de lábios pintados da cor da moda.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PINGA Amor


Chegara os tempos de chuvas

Ping

Ping

Ping

Soava lá fora copiosamente a fazer-se escorrer pelas securas da vida de verão..

Talvez por de tão seca a vida, ela ansiava há muito pelo tempo de chuvas…

Outrora mais certa, outrora mais segura.

Mas chovia…Amor
Chovia tanto!

E o ping ping era música composta por sons doces

Que escorriam pelas mãos

Pingavam os dedos

Pingavam os olhos

Os beijos

Os sussurros

Ping

Ping

Ping

Pinga amor…

Mesmo dos beirais...

com ninhos de andorinhas esquecidas do verão.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CRIME...Disseram ELES


Cegavam olhos nos olhos

Corpos unidos num só

Esvoaçam palavras sussurradas ao ouvido

Como notas soltas da melodia escutada em silêncio

Rodopiavam como dois dançarinos profissionais

Entre dois copos de vinho e a garrafa vazia no chão.

Sintonizados na perfeição

Passo lento

Um

Dois

Um

Dois

Repetiam incansáveis, querendo mais e mais

Passo rápido

Dois

Dois

Dois

Só parando nos olhos e na palma de cada mão

Bebiam de si próprios

Em cada novo trago redobravam forças

Não pares, diziam cúmplices as suas bocas

E sem temer punição

Cometerem o crime perfeito…juntos.

Mãos nas mãos

Baralharam o rasto das impressões

Olhos nos olhos

Aniquilaram as únicas testemunhas oculares

Beberam até à última gota para não deixar rasto de si

Apenas os dois copos e a garrafa vazia jaziam na cena do crime

Ao fundo do quarto um disco girava ainda…

Um tango como álibi…

http://www.youtube.com/watch?v=0Qo4E4iAnCQ