Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sem_tença

Tiras-me as palavras da boca
E lamentas que nunca te tenha dito Amo-te
Facto concreto
O silêncio como álibi
De nada vale roubares o que querias ouvir
Abortas a possibilidade
Matas a esperança
E condenas-te à prisão perpétua da eternidade da incerteza
Como testemunha de defesa
Levas um sorriso nos lábios
E um brilhozinho nos olhos
Talvez haja apelo
Ou a cegueira da justiça te veja disforme
E me condene a falar
Na linguagem gestual que nunca entendeste
Exiges provas
E trazem-te o vinho em cálice de cristal
Afinal a pena é de morte
Da palavra que bebes sem a nunca teres escutado
o

Teorias

A maçã está podre
E o bicho que tentava o Homem fugiu
A Gravidade não está na velocidade com que a dita nos pode cair na cabeça
Porque a relatividade existe e dela dependem umas coisas das outras
A gravidade está no facto, de que sem o bicho, o Homem não pense em morder a carne do fruto proibido
O desejo de descobrir a que sabe e o que é, perdeu-se no tempo
E entretanto, o cheiro nauseabundo da estupidez humana, aliado às nódoas negras cerebrais causadas pela queda das maçãs, faz de nós uns seres em decadência
Os ritmos ou velocidades destes entendimento, serão proporcionais ao tempo de contacto que tens com outros seres, ao local do acidente e ao gosto subjectivo de cada um
Quem nunca gostou de maçãs com bicho, terá talvez mais facilidade de aceitar a sua fuga, ou quiça, nem dá por tal desaparecimento
Mal dos Homens que viviam em função do bicho tentador
Agora morrem de tédio
De medo, de nunca mais conseguirem entender o mundo
De pena, mais de si que dos outros ignorantes
E agora?
Abatam-se as árvores!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Titulo

Eram paginas e paginas
Sem notas de roda pé
Sem números que sugerissem sucessão de factos
Sem capa que as cobrisse
Sem títulos
Nem honras
Eram paginas nuas
Bocas sujas
Marcas de dedos pegajosos
Nódoas de saliva engordurada
E letras
Muitas letras
De palavras camufladas
Talvez fosse um diário de sonhos por cumprir
Um romance sem príncipes nem princesas
Um drama por definir
Comédia com toda a certeza
E mesmo assim havia quem lesse
E ao ler julgasse
Fosse o que fosse
Como se de uma biografia não autorizada se tratasse

Comes e bebes

Quando te bebia
Era uma questão de sede
Quando te trincava a pele quente
Quando te lambia as feridas
E te comia a mente
Era falta de sentir o que se sente
Em vida
Quando de vida se alimenta a gente
Mesmo que mesmo assim se morra
De ausência

Crenças

Era capaz de me converter à tua religião
Seguir-te os passos
Carregar a tua cruz
Rezar em surdina todas as manhãs que não estás
E à noite penitenciar-me pelo pecado do dia sem ti
Era capaz de me converter
Beber do teu sangue
Comer da tua carne
Fazer-te ouvir todos os meus delírios
De joelhos
Uma e outra vez
E aceitar o castigo imposto
Era capaz de me converter
Ser a mais fiel
A mais crente
Saber de cor as preces
E entre dedos fazer deslizar as contas
De um rosário inventado no teu corpo
Era capaz de me converter
Acaso houvesse Deus fora de mim


domingo, 2 de novembro de 2014

...

Não é que tenha saudades
Mas lembro-me muito de ti
Não é que seja muito muito
Mas é assim pela manhã, porque o sol me lembra a tua luz
Pela tardinha, porque é sempre aquela hora calma e terna como tu
E quando chega a noite, porque no escuro conseguias ver-me tão bem
Não é que tenha saudades
Mas lembro-me muito de ti
Não é que seja muito muito
Mas é assim com força
Quando te lembro, fecho os olhos muito muito apertadinhos
E sinto os teus beijos nas minhas pálpebras
Quando te lembro, fecho as mãos com muita muita força
E sinto as tuas mãos nas minhas
Quando te lembro,contenho a respiração até não poder mais
E o teu cheiro percorre-me as entranhas e sai-me pelos poros
Quando te lembro, sinto-me feliz
Doí um pouquinho
Quando me sinto feliz por te lembrar
Não é assim muito muito muito
Nem com muita muita força
É de manhã, à tarde é à noite
E apenas quando mal consigo respirar ou mover-me
Não é que tenha saudades, entendes?
Mas lembro-me muito de ti...

Ela

Livre de dogmas e solta de paradigmas
Assim se ergueu a liberdade pela manhã
Na missa, aguardavam a sua ausência
Na rua, comentavam a sua passagem
Algures, no intimo de cada um
Desejavam a noite
Pois só nos sonhos a possuíam
Ou por medo
Ou por vergonha
Ou até apenas por ignorância
Seria sempre assim...
A não ser que...
A prendessem