Com_traste

Com_traste

domingo, 28 de novembro de 2010

Com...Tacto(s)




Nem o tempo

Nem a distância

Nem as aves predadoras

Retiram de nós a certeza

Que com o toque

Contacto sem tacto

Em que possuímos sem poder

Nos reavemos

Parecendo vir de longe

Ainda antes de nos sabermos preferidos

Naturalmente traçados

Sem traça social ou projectada

Sem redes

Sem chão

Sem tecto

Edificamo-nos nos olhos

Nas falas

Nos jeitos dos gestos vigiados

Nos corpos divinamente encaixados

No querer

Poder

Fazer

Contacto

Fora do que é a lei natural ou criada

Um livro
Um copo de água fresca

Uma terra perdida junto ao mar

Uma falésia

Ou nas ruas dos dias que passam

Com esquinas de encontros

Traficamo-nos

Em palácios

Bastando poucos metros quadrados

Com altares vazios

Para que nos entreguemos ao contacto do sobrenatural

Crentes

Enquanto dura a eternidade da existência dos dois

Em correntes sanguíneas alteradas

Alternadas

Positivo o teste

Caso houvesse alguma duvida

Da gravidez dos nossos âmagos

Depois de nos fecundarmos

Em conTACTO

Sem tempo

Sem distância

Sem tacto
 

domingo, 21 de novembro de 2010

Vou escrever um crime...


Vou escrever um crime

Com o ódio com que se cometem todos os crimes
Ou até com a puta da falta de sorte com que se dispara sem querer
Matarei a raiva
Com a faca afiada da língua
Ou com a bala em brasa das palavras do acto
Enforcarei a porca com a própria liga
Matarei o ódio
Com o tiro à queima roupa
Depois de o deixar nu em êxtase
Mesmo antes que diga (a)Deus
Matarei a fúria
Com a força das mãos
Em pancadas seguras e fortes
Deixando as marcas nas partes que esconde
Matarei a honra
Com o sexo desonesto e interesseiro
Planeado ao pormenor
Cronometrado ao segundo
Matarei o homem
Que se atreva a descobrir a vítima
Depois de bem escondida e enterrada
Na cova da cama molhada
Matarei o álibi
Com a vontade de ser apanhada
Para que nada reste
Nem a (des)culpa
Matarei ainda a vitima
Que depois de morrer se mexa ainda
Para ter a certeza do facto
Beijo-a com o mais puro mel
da cobra
Matarei por fim a prova
Que espalhei por todo o lado
Juntado na mesma cova
Os dois corpos abraçados.

Foi crime…dirá ela depois quando o escrever

falta de visão...Politica



Hoje vou votar em branco
E para que conste em acta
A minha declaração de voto!
Não consigo decidir entre a cor e a ausência
A palavra de ordem e o silêncio desorganizado
A força da razão e a loucura
A política de massas ou couve-de-bruxelas
A vontade ou o desalento
O coro ou o canto do quarto
O ser sempre assim ou o assim assim às vezes
O rosa choque ou o choque em cadeia
A sombra dos olhos ou os óculos de sol
A fartura ou vai mais uma pinga
Na tua casa ou na minha
Água pé ou ao pé do mar
A cigarra ou o cigarro
Solário ou dromedário
Contrabando ou a favor
Consciente ou anestesia geral
Fora de jogo ou nem vou à bola
Às 5 na leitaria ou mesmo só na esquina
Sms ou m&m
Segredo ou já sabes a ultima?
Doce ou doce
Crime ou castigo
T1 ou A4
Voto ou Nim
Amor ou… ai como é que se chama aquilo?
Disse…
(ok ok amanhã mudo o sentido do voto…há votos negros? Buracos já ouvi falar…)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pre...Visões


Vestira o casaco de todos os dias, não olhava antes o dia pela janela nem se preocupava em ouvir na rádio se o trânsito fluía.
Saia como sempre, devidamente vestida para a ocasião sem se olhar o espelho ou à sombra.
Enfrentava o sol da mesma forma que a chuva e o frio. ..insensível aos temporais, só temia os trovões e alguns relâmpagos, por os saber capazes de destabilizar toda uma vida. Uns por ser impossível de não fazer bater portas e janelas, outros por iluminarem, mesmo ao longe, toda a escuridão que trazia.
Circulava pela direita, dando prioridade aos peões não só na passadeira. Gostava de fazer das regras de trânsito, algo mais que um simples circular de máquinas comandadas por encartados condutores, ou dos outros, que sem carta escrita por ninguém, ousavam circular nas mesmas estradas até que a sorte do guarda ou o azar dele o detivessem.
Aos semáforos piscava os olhos, perguntando-se sempre porque lhe calava o amarelo em dias de pressa, sabendo-a incapaz de não parar como se de vermelho se tratasse.
Nos dias em que o rádio tocava as musicas escolhidas à sorte, mas que a enchiam como se a sorte fosse ela a comandar, sorria ao espelho retrovisor. .. imaginando no banco de trás, algo mais que a pasta dos documentos não assinados e dos livros de cheques em branco.
Havia sempre duas ou três rotundas pelo caminho, em dias de musicas cheias dela, sorria e dava mais que uma volta, fingindo não saber bem qual a saída, querendo demorar o momento da decisão. Saia sem ficar tonta, imaginando um outro carrossel, em que ao fim da canção só poderiam continuar na roda quem tivesse mais que um bilhete para a viagem.
Nunca se lembrava bem do espaço e do tempo entre a ida e a vinda…reconhecia o caminho pelas curvas difíceis e perigosas, pelas bermas ajardinadas convidando a piqueniques ou pela ausência de marcações na via. Há estradas tão iguais que qualquer pormenor faz a diferença.
Já se perdera um ou outra vez no regresso, mas disfarçava o erro usando aquela frase sábia “todos os caminhos vão dar a Roma”…mesmo sem nunca lá ter ido…
Chovia agora, sabia bem ter trazido o casaco de todos os dias, estacionou à primeira no espaço marcado, por vezes pisava a linha mas era tão ténue que só ela sabia da transgressão.
Entrou em casa deixando as luzes apagadas, sabia de cor o sitio de todos os objectos e de todas as vidas. ..as chaves no suporte da parede baloiçaram, fazendo o som que lhe fazia lembrar o guizo do gato que nunca teve. No cabide, o casaco de sempre pendurado, o peso das malas, cheias de recibos velhos do multibanco, e dos casacos nunca usados, davam um ar de cansaço ao coitado.
O corredor, ligava a saída da rua a todas as entradas possíveis, numa casa desenhada para gente comum. Mas como sempre, escolhera mais uma vez o quarto de hóspedes para se deitar…
Na manhã seguinte, sem saber se início ou fim das semanas que decorriam, ligava o rádio e cuidadosamente escolheu a roupa adequada ao tempo que previam, escutou as noticias do trânsito e saindo já com os minutos contados..apanhou o caminho que evitaria atrasos e acidentes de percurso, por vezes há que seguir por onde nos dizem ser mais certo..ao longe um trovão fez com que se esquecesse de ligar o rádio do carro, esperava o relâmpago que tardava…mas ela sabia que vinha.
Acendeu um cigarro para afugentar o medo…sabia ser impossível continuar no escuro quando os dias eram de tempestade e ela tinha optado por se deixar guiar.
Fez a rotunda sem pagar bilhete para segunda volta…e desta vez..todos os caminhos foram dar a Roma mesmo antes dela se perder no regresso.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Edição...Limitada



Vou escrever a prosa que trago nos versos

Da pagina ao avesso das regras

Sem rodapé ou paginação

Para que se percam as ligações possíveis

Entre o fim e o principio

E ao ponto final

Nada aconteça

Nem espanto

Nem desgosto

Muito menos o gosto

De um livro qualquer

Nos cantos dobrados

Escorrendo saliva

A identidade da ponta do indicador

Apenas poderá acusar

A audácia do leitor

Não se querendo perder

Na desordem que teima em seguir

Deixará espalhadas nas linhas

A ânsia e ganância

Da obrigação do sentido

Abuso de poder

De quem lê

Os versos

Inversos da prosa

Que nunca irão ser escritos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O BURACO ...DA FECHADURA



A visão limitada quando se espreita pelo buraco da fechadura
Está agora facilitada pelo enorme buraco que fizemos na porta
O paradoxo do orifício que servia para meter a chave que nos trancava
(Dava apenas azo à coscuvilhice das vizinhas)
Foi trocado por um outro, não menos paradoxal
As janelas/portas virtuais
Onde nem mesmo com condições de privacidade personalizadas
Podemos, ou teremos noção
Do quanto deixamos espreitar (e espreitamos)
O buraco…da intimidade de cada um
É que alem da visão
Os outros sentidos todos se apuram
Com incrível grau de imaginação e criatividade
Desvendamos o que se tem à mesa
No quarto
Na cama
No guarda fato…
E consciente ou inconscientemente
Damos a chave para a nossa caixa forte…
Com mais ou menos ilusão de óptica
E sem necessitar de cegos para que nos façam Reis
O senhor do quiosque
A mulher a dias
O homem do talho
A senhora da contabilidade
O padre
A virgem
O pai
O filho
E até quiçá o Espírito Santo
São adicionados às listas dos amiguinhos
Que sem o mínimo pudor
E sem necessitar de ficar de cócoras
Entram-nos pelo buraco... adentro.

Depois de nada nos valerá dizer que…dói!

sábado, 13 de novembro de 2010

Filhos da...Gente!


Talvez muito mais que nove meses
O tempo é incerto e pessoal
Inventamos semanas sem horas
Meses a fio sem prumo
Anos após anos sem lembrarmos dos dias
E os sintomas óbvios surgem lentamente
Aos pouco ficamos grávida-mente prenhes
Com vómitos não só matinais
Que vamos despejando em bandejas de prata
Ou nas esquinas da vida
Sentimos apetites estranhos e inconstantes
E no arroz doce juntamos os tentáculos do polvo que nos prende
Ou um pouco de pimenta nos cereais matinais
Por vezes sentimos a baixa tensão
Desmaios súbitos
Perdemo-nos sem consciência dos actos
Num encolher de ombros insignificante
Às coisas que nos dizem ser fundamentais
Outras…com força de Golias
Capazes de fazer revoluções nas ruas desertas de cidades perdidas
Erguemo-nos do leito antes do despertar
Alongamos os dias pela noite fora
De dia somos a multidão
Que fingimos manipular
Em empurrões descontrolados no metro
Ou em reuniões “importantíssimas” em que exigimos que conste em acta todas as nossas falas.
De noite acolhemos a solidão do corpo
No copo cheio de alma até ao fio dourado que nos limita
E bebemo-nos
Deliciando-nos com o caviar na ponta dos dedos
E sem quase nunca nos apercebermos
Um dia parimo-nos sem hora marcada
Com dores de parto só nossas e tão naturais
Sem direito a anestesias
Mordendo os lábios dos beijos em sangue
Gritando em respiração descontrolada
E nus nos braços embalamo-nos antes do berço
Afagamos a nova pele sem mácula
Olhamo-nos nos olhos
Sorrimos
Sem parecenças com todos os outros que se dizem familiares
Sabendo-nos nós apenas pela existência do cordão…
Que nunca conseguiremos cortar.
Seremos filhos da Outra
Da puta
Da vida
De um Deus menor
Ou do Diabo que nos tentou
Sem registo seguiremos incógnitos
Até que a morte nos separe …

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Para Acabar de vez com a CULTURA


Lotação esgotada
Os melhores lugares, marcados a ferros, há muito com dono
Depois de filas imaginárias e de até algumas confusões,
(Próprias de quem não vê a hora de conseguir um lugar para a tão esperada estreia)
Os lugares foram ocupados por impacientes espectadores
Cansados
Abatidos
Mal encarados
Famintos
Confusos
Perdidos…
Mas publico fiel
Aguardavam com algum nervosismo
Tinham sido permitidas pipocas
E refrigerantes
Coisa única, excepção apenas para o dia da estreia
Apagaram-se as luzes da sala
Nas cadeiras vazias faziam-se ouvir rumores
Ao mesmo tempo dos criks e craks
Estaladiços
Soaram as famosas pancadas
Houve quem acertasse na contagem
E um senhor mais desatento, afirmava terem sido dadas sem convicção
(Há anos que usava aparelho mas ainda não se habituara ao off e on do botão)
Depois o momento esperado
E fez-se luz no centro do palco
Silencio

E a luz ganhava intensidade
Entorpecendo as visões e as mentes
À medida que o tempo passava
Esfregavam-se olhos
Abriam-se bocas
Disfarçavam-se espantos
Depois de algum tempo de espera
Remexiam-se os corpos nas cadeiras
Gemendo a necessidade interior de mudança
Alguns leques bailavam em frente de rostos
Disfarçando a falta de calor
Ninguém se atrevia a comentar
Nem consta que nessa altura a história do Rei Vai Nu
Aflorasse a memória de quem quer que seja
E de repente
Um dos espectadores mais entusiastas
Levanta-se e grita um “Bravo” nervoso
E logo se juntam e coro os restantes alucinados
E já de pé toda a plateia
Aplaudem eufóricos…descontrolados
A aclamação demora o tempo da consciência do ridículo de cada um
Aos poucos a luz enche a sala vazia
Entre restos de bilhetes e pipocas babadas
Fecha-se o pano
Apagam-se as luzes dos camarins
Limpam-se os restos espalhados pelo chão
Ninguém sabe quanto tempo ficará em cena
Aguardam-se as críticas nas revistas da especialidade pela manhã
Lá fora , entre luzes de néon, o cartaz que ostenta os invisíveis rostos dos artistas
Pende ao vento, seguro apenas pela força da imaginação do criador
E em letras garrafais
O aroma alcoólico do título da obra:

OS SUBTRAIDOS

Peça sem actos possíveis de se contar
Bilhetes à venda em cada esquina
Divulgue
Participe!
(Com o apoio do Ministério da Cultura)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Retalhos...da pele


Envolta na pele que disfarço diariamente
Não querendo mostrar a nu o que me excede
Encubro-me
Com tecido de um outro ser
Seda ou cetim
Pano cru
Tecido por dedos em que a impressão determina a identidade
Do bicho ou flor que lhe dá a matéria prima
Ao toque esvoaça
Enquanto no quarto, desfeito de amor que se fez
A janela entreaberta dos meus olhos
Deixam que entre a luz dos teus
Quando me tocas a pele em segredo
Nos sonhos que por serem revoltos
Me destapam do véu
E nua apenas ao teus olhos me quedo
Na solidão do meu quarto sem lua
Onde em crescentes fases me deito
E do véu da nossa pele
Voltamos ao tempo em que ainda não foram fabricadas vestes pudicas
E é no arrepio que nos entregamos em suores quentes
E apenas num quarto
Seremos o mundo inteiro por inventar
Debaixo de um véu..
Seda
Cetim
Pano cru…a nua pele!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

PRESA...fácil


A vontade de entrega
Torna a maior fera
Em dócil presa
Cheira a sangue
A cio
E num ritual
Em que se oferecem corpos a Deuses
Lascivos actos
De criaturas míticas
No escuro da venda
Na prisão desejada
Cometesse a tortura
A caça ao homem
Com a única arma capaz de o fazer tremer
O desejo inconfundível
Da morte lenta no acto
Em que se vê o paraíso
A única hipótese dos pecadores entrarem no reino dos céus.

Terra...Fértil


Nunca te chegou a terra
O mar
O céu
Foi sempre pouco o espaço para ti
Precisas de mais
Precisas de tanto!
E além do teu peito
Onde nascem as Silvas e os Amor perfeitos
É nas costas
O lado que nunca viras à vida
Que o tronco se ergue
Esguio
Fértil na tua mente
Em ramos de folhas que se renovam na estação incerta
Com Outonos quentes
Primaveras frias
Sem tardes de fim de Verão
Ou Invernos descontentes
E em ti deita raízes
Cresce
Faz-se maior que o que sonhaste
Cobrindo de frutos doces e suculentos
A terra
O mar
O céu
E só assim se fecundará de novo o universo
Do imaginário dos Homens Divinos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sim..Fumo ;O)


É vicio..dizem
Que mata lentamente
E eu viciada me confesso
Cada vez mais dependente
Por vezes só entre os dedos
Sentido o corpo da seda enrolada
Já ardendo na espera
Antes de ser incendiada
Brinco
Deixo-o ficar entre os dedos
Na outra mão a arma da chama
Que chama o momento que se faz esperar
E já nos lábios
Entreabertos
A língua toca-o salivando
Impaciente
Lambendo o zona que filtra a brasa
Saboreando antecipadamente o beijo
Cerram-se o lábios numa prisão de sentidos
Nos olhos a chama bailarina
E as mãos em concha protegendo o momento
Inspiro
Segurando no peito o ar que dele extrai
Em fumo
Espalha-se em mim
Eu fumo
Sim
E num suspiro
Longo
Sentido
Saciada fico
Deixando-me mais uma vez certa da minha dependência
Enquanto isso ardes entre os meus dedos
Na boca
Nas mãos
Na pele
E em cinzas surges
Já não és fumo
És matéria desfeita
Parte dos meus sonhos
O fim do que senti quando te possui ardendo
Mas ainda queimas
Deito-te na palma da minha mão
Adormecendo assim…ainda quente
O vicio de ti.


http://www.youtube.com/watch?v=fNgv7EfKgmc