Com_traste

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DesMente




A palavra que outrora dizias
Mente agora por ai
Talvez não seja a tua boca a mesma boca sadia
Ou a palavra seja apenas a junção de silabas vagabundas
Pudesses ter tido a verdade sempre presente
E na ponta da língua algo mais que um beijo
Agora
Ou ver a palavras noutra história
Nada mais se sente
É a mente que te desmente
A visão clara das coisas escritas
Que na escuridão das outras antes ditas
Fazem ricochete como balas
E não matas nada que não seja já defunto
Apenas acordam o lamento
Do pranto desgostoso
Que apenas chora...por o que não dizes agora
E a palavra não seja verdade
Como o teu beijo

Poema Porno


http://www.youtube.com/watch?v=1i9TXMNnolU


Ela chamava-se liberdade e era linda
Vestido cor de papoila
Peito desnudado ao vento
Em cada sorriso uma esperança de amor em leito
Carnes rosadas provocando audazes pensamentos
No cabelo um cravo a prender madeixa
Que num gesto provocador
Soltava
Ela sempre fora de fácil gargalhada
E dava seu corpo aos Homens como se deles fosse esse direito
Mordia a boca em palavras conquistadas
E dizia-se eterna
Um dia
A liberdade adormeceu
Numa qualquer casa
Rua
Morada
Só alguns a procuraram
Só alguns medo sentiram
Talvez os que por ela lutaram
Talvez os que com ela criaram filhos
Mas a liberdade envelhecera
Ou dela alguns Homens abusaram
E tal como à puta que tiveram
Roubaram
Mataram
Exploraram
Os filhos que nem nome deram
Bastardos morrem agora
Mas há quem dela fale ainda
Há quem dela não esqueceu
Sinta o aroma da pele
A cor dos seus olhos com ternura
A voz que os enlouqueceu
E com gritos da liberdade
Irão tomar o que é seu
Mulheres de flores no cabelo
Homens de poema na mão
Farão juntos a luta
Uma nova revolução
Que a puta da ditadura
Mesmo que disfarçada
Não passará nas ruas
Da liberdade acordada
Só dela será a história
E dos filhos bem paridos
De todos os homens que a amam
E a quem ela deu o corpo e deu sentido

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Era uma vez...


Volta e meia
Neste pais real
Existe um eu castrado
Dormente
Doente
Revoltado
E nessa meia volta
Real
Faço de faz de conta
Relembro o era uma vez que fui
E que sei ser
Quando, de rosto pintado ou não
Faço que sou o que cada um poderia ser
E vejo nos olhos pequeninos
O tamanho do mundo inteiro
De aqui e além mar
Quando conto convicta
Que sou pirata aventureira
Ou um simples palhaço que ri da própria asneira
E do mesmo tamanho da minha capacidade de ser
Vou do alto do monte ao fundo do vale
Em segundos cresço e volto ao normal
Na menina dos olhos
Nos sonhos meninos
Era uma vez um país bué bué longe
Onde tu eu seremos sempre meninos
Basta querer...


sábado, 27 de outubro de 2012

Com toda a palavra...




Ousado
O pensamento
Que te saliva a boca em gota a gota adocicada
E num fechar de olhos suspira
Ofegante respirar
Suado corpo
Mãos seguramente trémulas
Percorrendo os caminhos imaginados
Na descoberta do mais intimo do individual partilhado
Onde não coram faces por palavras obscenas
Mas pelo calor da boca cheia de desejo e revelação
Onde a palavra puta faz sorrir o cabrão
E o limite será por dois marginais ultrapassado
Libertação plena
Das prisões do ventre onde foram gerados
E nesse cume gritarão em uníssono
A palavra
Com que o amor foi fecundando

Good morning vietnam



Hoje
Dou a cara
O corpo e a alma
Para que me tomem inteira
Amanhã
Amanhã talvez cansada me reserve
Porque a lei da vida não é justa
E quem se dá também se cansa
E quem recebe nem sempre entende o que tem
Cada acordar é uma nova esperança
E parece sempre o inicio da vida
Olhando atrás...tanto tempo foi tão pouco
Olhando em frente...a probabilidade parece reduzida
E é agora a hora que se faz tarde
Porque eu não sei quando não mais me vou poder dar
Nem quando baixarei os braços
Olhos os mais velhos e parecem loucos
Olho os mais novos e parecem pouco
Olho os iguais e divergem do que esperava
Olho-me e...ainda não fui o que sou
Talvez na próxima madrugada
Tudo isto faça mais sentido
E o que sinto será repartido
Evitando esta amalgama de frustrações
Partes sim partes não
Partes incertas
E na sua junção se balance a vida e caia certa
Na medida justa daquilo que supostamente é a felicidade
Não nos disseram antes como ia ser
Porque nascer não se adivinha
Porque viver não é sina
Porque também quem nos fez assim tudo enfrentou
E o segredo da vida é esta alucinação
De uma graça Divina ou de uma condenação
Saibamos nós amar este respirar
Entre a dor do peito e de parto
E amar
Amar só por amar
Será suficiente
Para valer a pena esta loucura descontente
Do nascer ao poente
De cada dia com que somos brindados

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Bicho do mato


Bicho do mato

Contrariando a minha condição
Enrolo-me apenas no colchão
Solto as garras a quem ataca
Mordo o cão
Protejo a cria
E sem saber se é noite ou dia
Faço toca onde habito
E nesse solitário abrigo
Aceito a minha condição
Não sou mais que um outro cão
Mas... divirjo de todos os ladrares
Astuta não nego luta
Consciente deixo-me estar
E não fosse este gostar
De viver sempre a pensar
Deixar-me-ia matar
Ou simplesmente absorver
Assim, seja o que tenho que ser
Bicho contestatário
Que não para de roer
Nem que morra solitário!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Penso...logo durmo




A eternidade, é aquele tempo longo
O momento que fica entre o que penso e o que esqueci
A memória, é aquela lembrança que tem mais de imaginação do que real
O sonho, é o que conscientemente evito tornar real
A realidade, é uma mão cheia de histórias verídicas
As histórias, são a forma que encontramos para não crescer
A ilusão, é a palavra que inventámos para dar significado à desilusão.
A verdade, é algo pessoal e intransmissível
A crença, é uma teimosia
A religião, é uma história verídica porque uma pessoa a partilhou
A politica, é um bicho que umas vez nasce nos intestinos e outras no coração
O amor, é um acto politico
O sexo, é uma revolução
A palavra, é o beijo entre os nossos significados
O sono, é um peso nos olhos
A insónia, é a pena dos sonhos...

Anoitecida



Apaga a luz agora que anoiteceu
E o escuro da noite ocupa todo este espaço
Não há hora mais iluminada que aquela em que na escuridão te vês
Apaga a luz agora e anoitece tu também
Deixa as pantufas aconchegarem o soalho
E em passadas quase mortas anda
Nesse silêncio amordaçado
Para que nada acorde
Nada ouça
Nada veja
Quem és?
Apaga a luz...e tacteia-te
Pé ante pé
Logo logo será dia
E tu...talvez acordes desigual
Talvez
Porque ao dia, só a noite tira a luz
E a ti...é no escuro que melhor te vês.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em Cadeia




A palavra que corta o aço
Da corrente em cadeia que nos prende
É a força da miséria e dos cansaço
É mais força que a força de muita gente
É a soma das partes que nos separam
É a união dos pontos distantes
É talvez a semelhança da razão
Da semente
Da espiga
E do grão
Que em mãos rudes ousou fazer o pão
E que outras mãos roubam da gente
A palavra agora é revolução
Da forma
Da coisa
Dos seres
E num corte com a palavra dita
Abriremos o ventre anafado
Do mundo preso a cadeado
E como num choque em cadeia
Cairão todos os culpados
Um a um serão julgados
E içaremos de novo a bandeira

Quem faz a fome faz a guerra!!



Porque nos retiram amor da boca?
Agora as cartas dos amantes estão em espera
E os mimos doces com que nos deveríamos brindar aguardam...algures
Abre-se os olhos e a menina dilata...surpresa, talvez
Esperam-se flores sem ser em campas
E perfumes que transformem os pulsos em corpos suados de êxtase
Ah, e os gritos libidinosos aguardam em fila, impacientes
Não era suposto roubar mais que beijos
Nem prender a vida sem ser à cama dos amantes
A promessa era outra
E os crentes cresceram de coração nas mãos
Entregues aos sonhos dos poetas em escrituras sagradas
O Deus era tão puro quanto os homens
E agora?
Que dizer ao Diabo que nos fez?
Obrigada senhor?
Tiram-nos o amor da boca em dentadas
Só nos resta morder os lábios e roubar de volta o amor que nos fez
Escreveremos cartas
Canções
Poemas
Gritaremos todas as palavras de amor em raiva transformada
Daremos o corpo à luta nas ruas em que cada um de nós faz a calçada
E depois da guerra surgirá a madrugada
Não há fome que nos mate sem a mesma morrer
Terminaremos com beijos e abraços
Como que escreve cartas de amor
Que o futuro há-de receber

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

La solitude


Por vezes, acontece a sensação da instabilidade
O desajuste
A não pertença
E pensamos-nos marginais
Excluídos
Desadequados
Peça de puzzle sem encaixe
Como se fossemos mais do que nos é permitido ser aqui
Ousamos exceder o limite social do aceitável
A solidão deste sentimento, a certeza
Leva à consciência do eu
Ou à depressão
Acaso não consigas justificar a ti mesmo
As opções tomadas
Entender o outro e a ti mesmo
E mesmo assim saber porque diverges
Ou não tenhas capacidade de amar a solidão
Que só é opção...acaso sabias quem és e porquê!

http://www.youtube.com/watch?v=QRMJngZ6G5A

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cáustica




A palavra
Que no ventre se enrola em acto digestivo
Resiste ao suco inquisidor
E fere as entranhas
Do ser que nunca será preso pelo proferido
E desgasta mais do que se desgasta
Por ser crua
Dura
Cruel
Fel do próprio fel
Dando azia à boca que não a procria
Renegada à nascença
Assume a não paternidade
Mas não morrerá sem vingar a crueldade
De conter o que se deu à luz
Clandestinamente
Haja coragem
De queimar mais que o cigarro
E deixar sair de dentro o catarro
Em gritos portadores do vírus
Da rebeldia




Salamaleques




Enrolam as palavras em papel celofane
Adornam com laçarotes
E oferecem-se puras masturbações de sentimentos

domingo, 7 de outubro de 2012

O rei vai Nu


Imaginam-nos cegos
Com cães guia
E nós
Cegos tantas vezes
Afagamos o cão
E pedimos esmola em nome dos nossos olhos inúteis
Se ele ladra
Tememos
Desistimos do instinto que nos guia
E o olfacto apurado
o Tacto treinado
O raciocínio que temos na ponta da língua
Origina o medo do treinador do cão
É que muitos olhos cegos
Na terra de quem tem olho é rei
Podem fazer cair a monarquia

Domenicus


Apetece ser ordinária
Mal educada
Pornográfica
Despir o ventre e deixar a nu o sexo despudorado
Fazer corar a cara dos sem vergonha
Tirar esmolas das caixas sagradas de domingo
E os véus dos rosto anónimos da falsa caridade
Haja vergonha e dispam-se as camufladas consciências
Aponte-se em acto convicto a mentira
O engodo
Dê-se o valor certos às coisas
Saiba-se diferenciar as coisas
Fale-se das coisas como coisas
E a coisa anafada que de gravata aperta a maçã de Adão
Nem lhe deixemos a parra
E no meio da rua
Exponha as vergonhas
Descaídas
Sujas
inférteis
Partes
Com que nos tentam fecundar
E da maçã suguemos o puro veneno da verdade
Engravidemos de loucura consciente
E façamos deste inferno o nosso paraíso
Por a ele termos direito
Acaso não nos tivessem tentado com o fruto apodrecido
Da humanidade pouco diabólica
Ousando usar o sexo feminino como elo fraco e tentador
E da virgem ter surgido o criador
Deste pecado
Nada original
Por ser mais que comum a exploração da ignorância
Acordai o ventre
Desnudai o ser
E deixai sair o mais puro sémen
Que fecundara sem arca de Noé
A terra reformada
E cavando a fundo a semente germinará
Talvez um cravo rubro
Ou uma Silva de Amoras doces
Com que nos deliciemos
Em acto de Ressurreição