Com_traste

Com_traste

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Criações


O contraste, dos trastes que me formam, nem sempre são claramente entendidos, pela diferença quase impossível de existir no mesmo ser…mas encaixam em mim como coisa una, a preciosidade e o pechisbeque, o branco e negro, o amargo e doce, do fel da laranja açucarada que me faz e desfaz em constantes metamorfoses em que em nada me mudam …como a palavra da escrita mariposa em voos, ou a voz da lagarta enclausurada num sono de beleza….no mundo animal em que tudo começou com a palavra ainda sem Deus capaz de criar os homens, por também ele ser pouco racional, em contraste com a criação de deus dos Homens.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

In.Cog(n)ita





Cogita uma outra forma de andar sem pegadas
Entra pela saída traseira, da sala de espera do quarto minguante
Enfrenta de costas a sombra para que não a siga depois da fuga
Corre ainda em cores vistosas a agua dos rios sem leito
E pelo pensamento se esconde
A ideia fixa e triste
Só porque existe…mata-se pela raiz a daninha erva
Pensa não ser visível aos olhos dos cegos comuns
Mas espelha o reflexo de todos os olhares do mundo
Imagina então outra coisa
Que não antes existira
Para se poder dar como nova a idade da pedra
Que traz atada aos seu pescoço
Com corda
Discorda
De nada servirá registar patente
Mente e não poderá ser original
E mortal ideia só poderia existir na cabeça invisível do homem ausente
Que ama e sente, como se o amor que nunca faz a engravidasse
Prenhe de conceitos
Dá á luz preconceitos
Por não ter querido saber antes das nove luas
O sexo do anjo que nasceu
E se em quartos, parte e reparte a laranja
É no fio da navalha que o fel se prende
Dando à lua o amargo das noites
Por ser da cor da romã
O que sente
Incognitamente surge
Dentro de si o dia eleito
Em que no peito o raciocínio lógico
Do amor Nada coerente se Afoga
Por pura imaginação demente
E sem ser crente
Aposta ser ela o próprio enigma
Do mistério de X
Com mais ou menos Y
Que decide o sexo do pensamento humano

Ex.cultura




Antes escultura da arte que se assinava em exposições
Agora ex do amante que a deixou por contradições
E na falta de melhor desculpa
Culpa a puta que se expõe
Em salas ruas e salões
Ousando deixar na miséria
A amada que amamentava a criação que desespera
E na espera, diz que o amor não se findou
Apenas foi ali matar a fome
Das bocas que ele próprio roubou
E separa assim as criaturas
Sem divórcio consentido
De um lado o corpo magro e enfraquecido
Do outro o espírito que perde os sentidos
A musica são fados e canções de embalar
A poesia é fantasia em sopa de letras
Pintura, de guerra
Escultura de braços de ferro
Criação
Educação
É pura obrigação dos pais
Que abortem em casos anormais
Que este amante vos enterra
Ex.cultura
Ex quimera
Sejam Homens
Façam-se à terra
Deixai as asas para os pássaros
Que foi Deus que os inventou
E a vós assim condenou
A seres puramente banais
Vendam-se
Matem-se
Depois de vós haverá mais
Ex…combatentes
Ex…amantes
Ex…profissionais
Das Putas governamentais

Com. Traste




Entre o colorido da íris
E a menina que se veste de negro
Entre o arco da velha
E o pote de oiro que te tenta
Entre a gota de orvalho
E a tempestade que me assola
Entre o sapato raso
E o salto que te pisa o ventre
Entre o chão em que me deitas
E o céu a que me levas
Entre a palavra que se diz
E o que se escreve calado
Entre o caldo verde
E o caldo entornado
Entre a tradição e a história
Entre a honra e a glória
Entre a pátria e a Matriz
Entre o útero que gera
E o parto que mata
Entre a chegada da ausência
E a ausência de se espera
Entre a saudade do que irá vir
E a falta de memória
Entre o ser e o que se mostra
E o ser que se isola
Entre a montra em saldos
E assalto à pistola
Entre o presente enlaçado
E o futuro vendido
Entre o peito e o umbigo
O traste usado
E o contraste do inútil utensílio
Entre
O conteúdo que forma
E o vazio que deforma
Entre
Eu e tu
Ele e ela
Nós e outros
Infiéis amigos
Traste contraste do meu umbigo!

In.consciente





Convulsa
O pensamento tosse em constante agitação do corpo
E ela dorme
Num agonizar constante
Mexem-se os olhos fechados
Como se vissem no escuro a luz
Não fala
Cospe sons confusos
E o silencio dos outros é assustador
A respiração falta-lhe tantas vezes
E reinicia a máquina em ziguezagues
Disfarçando a aflição do motor
Ao acordar refresca-se no suor do corpo
E limpa os restos nos lençóis húmidos de si
Tacteia-se tentando confirmar a vida
E na duvida da existência do sonho
Confirma a ausência do real
Quando se toca para lá da pele
Num frenesim angustiante
Quando confirma o óbito desse dia
Ergue-se a noite
Comprovando a reencarnação
De todas as almas
Inconscientes
Que conscientemente exorcizamos
Por não ter corpo capaz de as conter
E como estátuas pousamos nus
Decapitados
Porque nem sempre temos face que se consiga ver no reflexo
Frias
Estáticas
Obras de arte surreais
In.conscientes seres humanos.

Enquadrada




A espera fica-se no tempo e no espaço
Sendo o que é por falta de ousadia
Despisse ela todos os preconceitos que a cobrem
E de meias negras surgiria
Talvez ainda sentada
Em posição diferente
Porque uma espera mais ousada
Não se fica apenas…
E esta mente
Sabe que deixou de o ser e dá tempo ao tempo
Como uma outra forma mais consciente de existência
Num jogo em que seduz a ausência
Mordendo o lábio do tempo
Lambendo a dislexia da palavra
Que ainda se contradiz na forma
Apenas e só
Aquele momento
Em que sabendo-se outra
Ainda não se mostra
E retrata a imagem do consenso
Porque teme ainda as divergências
Da normalidade com que fecha e abre as pernas
Então fica assim enquadrada na ideia dos outros
Na moldura enCastrada
Limitando a vontade de se expandir para lá da parede
Concentrando o tempo, o espaço e a essência
Talvez nesse “dar tempo ao tempo”
Surja
Mais ela
A que espera sempre…sempre mais
De si e de todas as coisas
Desenquadradas do real
E prostitui-se em montra
Deixando apenas ver o tempo que ainda não se deu.

Resíduos Bio Degradantes




Não sei quem é
Mas de certeza que tem um nome
Tem pai
Mãe
Filhos, talvez
Tem uma vida
Uma história
Uma pátria
Mas come o meu lixo
É bicho?
Não sei quem é
A criatura que vasculha o contentor na noite escura
Está frio agora
E pouco sabem o que se passa lá fora
Não sei quem é
Será Zé, António ou João
É alto, magro e sozinho
Mexe
Remexe com atenção
Saco na mão
Olhos no chão
Não sei quem é
Antes fosse um cão
Que miséria a nossa
Aqui mesmo ao pé da porta
Podre
Mal cheiro
Restos da ganância
Sobras das bocas fartas
Excedentes de outras misérias
Outras gentes, crentes?
E ele agora leva
Come
Reparte
Não sei quem é
Criatura que no lixo me toca a consciência
E nós…na ausência
No quente social que nos enfarta
Nos engorda a ignorância
E nos emagreça o pensamento
Nos restos dos homens que no frio escuro escondemos
Não há Palavras bonitas para poemas
Quando é da pena que os poetas se alimentam
Não sei quem é
Não sei se sonha
Mas é Homem e come o meu lixo
Vergonha!
Desta miséria social contaminada
Não sabermos quem são
Nem que somos…
Comemos vómito até nos fartar
Não sei quem é...
Pode ser Zé...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

EscritaRia




O tempo fizera dela aquela espera
Como sala
Onde se entra e se fica
Pensando na desdita ou folheando um qualquer pasquim
E era assim o seu peito
Não se lembra desde quando
Nem como foi
Mas agora
Seja a que hora
Ou em que lugar
Ela aguarda calma e tranquilamente o tempo
Que passa folha a folha
Página a página
Levando todo o tempo que levam as histórias a se contar
O tempo de uma letra pode ser longo
Se a tornearmos com a ponta dos dedos ou da língua
Parando nas curvas
Escorregando nas linhas inclinadas
Salivando para que húmidas deslizem
Quando sós
Junta-se uma outra em aconchego
Ladeando a ausência
O vazio
A espera
E na junção
O tempo faz-se um outro tempo
Soletrado cuidadosamente
Como mel a cair na boca
Doce
Denso
Por vezes prendem-se na garganta
Ásperas
Dolorosas
Ficando cativas de um trago
Outras há que se descolam da pele
Escamando como peixes
Em paginas e paginas salinas
Pelo suor ou pelas lágrimas
E nessa hora
Nesse tempo
A espera desespera
Fechando-se o espaço em que nos demos a ler
Guardando para depois…
A hora em que consigamos juntar de novo
Letras inteiras felizes
Capazes de nos encherem o peito de gargalhadas sibilantes

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

InCorpóreo




O corpo
É mais que aquela boca que te beija
Deseja
É toda a saliva que te cobre
A ânsia
A euforia
É toda a voz que geme em sintonia
E grita mais e mais
O corpo
É mais que tocável pele desnuda
É o arrepio que surge nos olhos negros
E o fio que escorre na ponta dos dedos
A língua que palpita nas entranhas
É a marca que fica na cama
É a dor quando ausente
A saudade quando se tocam apenas espaços vazios
O corpo
É aquela parte de nós que se cola
Que se encaixa
Que se dobra e desdobra em impossíveis combinações
É a coisa morta depois do acto
É o facto comprovado
Depois de todas a improváveis situações
O corpo
São as palavras que se dizem com ternura
É o silencio que teima em ser eco
É o sim eu quero
É o não por capricho
O corpo
O corpo é um bicho
Que nós teimamos em dominar
Quando nos dói
Fala-se da alma
Quando nunca antes a dissemos
Porque o corpo é a parte que se vê do nada
E a alma
A alma é o vácuo em pérola
Que enche um corpo nu
Fazendo dele a concha
Que nos guarda

DeMente


É como sede constante
Que não mata porque bebe a seiva das palavras
É ausência de algo presente
Que está porque me falta
É a acção premeditada
Do acto impensado
Como um crime perfeito
E mesmo assim condenado à máxima pena
Sem dó nem piedade
Por ser cruel a ave que voa em círculos na espera
É o feito e o desfeito
Do acto sempre primeiro
Da dança em pontas, bailarina sombra
É o orgasmo desejado
De um corpo moribundo
Que parece criança recém nascida
Nua
Pura
Indefesa
Ao mesmo tempo que envelhece de cansaço
Há tanto tempo aqui…
Há tanto tempo em espera…
Não desespera por não saber sair de mim
Mesmo quando abertas todas as portas
Ela fica
Inerte
Qual preso masoquista
Que depois de pena revista
Recusa a precária saída à rua
Sou tua…dizem seus olhos calados
E eu amo-a por obrigação
Ou talvez por sentir ternura
Uma pena assim tão pura
Não se pode renegar
E deixo-a indo ficar
Ave de um quase paraíso
No meu único esconderijo
Onde só ela sabe estar
Porque mesmo com asas não voa
Faz de mim esta pessoa
E eu…cansei de procurar
Que fique até que me queira
Ou que eu canse de a matar
Não lhe dou nome
Não preciso de a chamar…
Loucura chamam-lhe outros
Ela sorri, enrosca-se em mim
E nada mais importa….

Rugido


Não há tempo nem espaço
Que eu consiga inventar fora de mim
É tudo uma ilusão do meu umbigo
Que em espiral se interioriza
E me faz centro
Soubesse eu nascer como as plantas
E seria a (H)era que se enrola nas coisas
Cresce sem necessitar de muito alimento
E ergue-se mais alem
Mesmo depois do tempo acabado
Sempre fora do espaço destinado
Soubesse eu afinal porque nasci
E talvez não me revoltasse tanto com o facto de existirem fora de mim
E o mundo fosse aquele movimento único
Dos olhares profundos
Quando nos olhamos e nos vemos semelhantes
E mesmo em risco
Nos deitamos quando cansados
Adormecendo encostados à juba do leão
Sem que um nem outro estranhe a ousadia
Por empatia…do bater do coração

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

TEOREMA




Subtraio-me
À totalidade da existência
Por me querer dividir em partes
Sem restar nada
Que possa adicionar à variável do tempo
Incógnita existência
Que me equaciona dia a dia
A probabilidade do ser
Eu
Subtraio-me
Por me sentir múltipla
Infinita capacidade
Nula, quando me resto na única formula
Em que os outros avaliam o todo
Aprendemos desde cedo
O valor que se dá a
Pi……………… (palavrão) da vida
Quando à esquerda nos situamos
E nos fazem duvidar do axioma
Pela erro da forma
E pela falta de espaço
Restando o que conseguirmos somar
Para depois subtrair de nós
Na divisão em que nos repartimos com os outros
Sendo o fim
Uma linha recta
Na horizontal do tempo
E a probabilidade de erro permanece intacta por sermos simples mortais.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Casulo




Já não há tempo
Frio ou quente
Que dê sentido à metamorfose
Em tempos….amenos
Era por osmose
Que se diluía o corpo e a alma
Em mares comuns
Onde nos banhávamos
A solução era composta por todas as partes que ousávamos ser
E nus…uníamo-nos
Completando a essência una
Negando as formulas cientificas
Mais que comprovadas por estranhos
E nós..éramos
UM
Sem tubo de ensaio
Por ser ciência exacta a nossa mutação
Da junção do corpo com o incorpóreo
Já não há tempo
Frio ou quente
E dentro do casulo
A coisa
Apenas sente a ausência
Envolta em camada e camada
Na bolsa inundada de memórias
Sobrevive à espera
Talvez chegue a primavera
E de num bater de asas
O parto em aguas doces
Dê vida à possibilidade que existe em cada hibernação
De transformar a matéria em qualquer coisa
Mais pura
Mais ela
Mais etérea
E depois volte a sorrir em cada nova madrugada
Por poder voar para fora de si
Lugar onde sabe que se pode encontrar.

Era uma vez....duas ou três..


No reino dos sem cabeça
A única fabrica que existia era a de fazer chapéus
Nesse dia deram ordem
Procurem por todo o lado
Nas casas, nas ruas
Nos rios, no mar
Nos poços
Dariam recomPensa
Procuravam cabeças
Perdidas
Doidas
Varridas
Ocas
Formatadas
Agora são procuradas
Para dar cara à mão
Que usam e abusam na confecção
Para depois dar lógica ao objecto manuFacturado
Manequins usados
Rostos com pouca expressão
Mas
Pelo sim, pelo não
Pegam na cabeça mais à mão
E enchem-na de sentenças dadas
Atafulham-se de pensamentos repetidos
Algumas pequenas estórias
Factos nunca comprovados
Crenças e imagens de submissão
Ainda há lugar para memórias
História, chamada tradição
Olham-nas ao espelho expectantes
E enrolam ainda as pontas dos cabelos
Espetam bicos esbranquiçados
Ousados
E a cabeça caçada
É agora enfeitada com um belo travessão
Fixador de ideias
E houvesse tempo
Cobririam ainda as brancas
Mas as falhas já são tantas
Que de nada serve a tintura
Assume-se como nova moda
E ma.deixa, sim ou não
Ergue-se a cabeça enfeitada
Segue em frente presumida
E em fila de espera aguarda
Que mais uma outra cabeçada
Lhe dê ar de decidida
E assim continuam os tempos
De cabeças desOcupadas
E se algum pensamento louco
Ou uma outra convicção
Lhe possa causar defeito
Refazem o risco corrido
Pente fino sempre à mão
Temem o quebra cabeças
Pensam na decapitação
Então penteiam ideias
Ou disfarçam com perucas
E na terra dos sem cabeças
Tudo corre na perfeição
Importam peças já gastas
Exportam a nova geração
E as máquinas sem parar
Facturam de noite e dia
E se alguma cabeça dura
Ousar pensar em mudar
Cobrirão suas ideias
Com valores adulterados
Prendem a força dos sonhos
Dizem-se donos da razão.


Chapéus há muitos…pois então!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Confidências...




Em tempos idos
Enlaçadas palavras aos ouvidos
Rodopiando na memória
Toda a minha história
Zunzuns de sentidos
Na ponta da língua esgrimidos
E dedadas
Assinalando o trilho com a impressão transmissível
Da derme arrepiada
Suando em cascatas cristalinas
E as crinas
De montada alada
Fantasia sempre imaginada
Da mente intransigente
Que à dentada te devora
E depois cora
A outra face que se dá
Ao mundo inventado à pressa no sofá
Frente ao aparelho comandado
Teclas calcadas
Vidas outras contadas
De novelas caprichosas
Exigindo finais empacotados às doses
Comprimidas felicidades momentâneas
Não estranhas
Fazendo-te personagem principal
Sem fala
Descolas-te da caderneta
Repetidamente foges
Ousas sair da linha
Por sina torta
Por sina entre
Por sina alinhavada
Em pontos
Bordando na palma da mão
O único
Final feliz improvável
Por afoitar-se na junção
De unir outra mão
Decalcando o ponto em …
Inconfundíveis sinais

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

TOURADA


Andava cansada
Farta das lides
Ora domesticas
Ora selvagens
Raramente se encontra satisfeita com a sua performance
Nas domesticas
Sabia o sitio de todas as coisas
Mas parece que elas tomavam vida própria
E depois de bem colocadas
Era sempre fora do lugar certo, que ela as voltava a encontrar
Um quadro que é quadro deveria saber estar exposto
Mas parece que não lhe bastava..estar
E ora tombava para a esquerda ora para a direita
Um bibelô
Será sempre um bibelô
Mas os dela não
Eram bibelôs com personalidade bem vincada
Uns partiam-se e ficavam ali a “bibelôsar” na mesma
Orgulhosos de si
Altivos
Acumulando o mesmo pó e indiferença que os outros
Outros
Eram objectos com utilidade
Mas mesmo assim, reafirmavam-se todos os dias
Como que saindo do armário, serviam para o oposto da sua condição
Ou até para nada..inutilizando-se, como quem diz que só vive e serve quem quer
Mas as lides selvagens
Aquelas com que ela nunca aprendera a lidar
Que nascem da selva dos acasos
Das coincidências
Do lugar certo e hora certa, cúmplices
Que de forma audaz, impulsiva, genuína e quiça improvisada, ela enfrentava
Davam-lhe luta
Olhavam-na nos olhos como que a tentando à prova final
Ela não gostava de ver sangue
Não defendia a pena de morte na praça publica
Mas atrevia-se a entrar na lide
Sem capas enroladas
Nem passos de cavaleiro apeado
Muito menos usava montada que lhe facilitasse a festa
Ousava pois enfrentar a fera nos olhos
Nua, debaixo das luzes do traje
Dia a dia descobria afinidades
Paixões com a besta feroz
Conseguia ver sempre o lado bom da “coisa”
Sabia-se aprendiz
Incapaz de se ver levada em ombros
Muito menos que lhe dessem a honra sanguinária
De cortar rabos e orelhas
Cada aplauso ou olé
Entenderiam apenas como um acaso momentâneo
Alguém mais distraído que seguia a lide como os cabrestos
E ouvia sinos em vez de chocalhos
Acusando vida em movimento
Para que não se descuidasse nem um pouco
Era astuta
E dançava ao toque da banda
Alimentando sempre o improviso do passo
Mas cansava-se também…
E sabia impossível manter arrumada toda aquela confusão
Mas em dias de arrumação
Coloca tudo em gavetas
Limpava tecto e chão
E viesse alguém ou não
Estaria tudo guardado
E só pedia em pensamento
Que ninguém ousasse abrir os seus compartimentos
Receberia então os chapéus
E sorria à ovação.

Espantalho


Quando o homem pássaro se esquece de voar
O tempo passa
O tempo voa
E ele esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Quando o homem pássaro se esquece de sonhar
A noite cai
O dia nasce
E ele esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Quando o homem pássaro se esquece do rumo
A vida muda
O mundo gira
E ele esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Quando o homem pássaro se esquece do outro
A morte surge
A solidão mata
E ele esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Quando o homem pássaro esquece quem é
Secam-lhe as veias
Crescem-lhe os ramos
E ele esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Cria raízes na terra já sem vida
E o homem pássaro já nada lembra
Esquecido
Parado
Quieto
Adormecido
Abre os ramos secos
Afugentando os pássaros
A que outros homens deram vidam