Com_traste

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sábado, 30 de outubro de 2010

Importa..Ções



Já não importa…
A forma
O jeito
O tempo
Nem as vezes que o amor ficou por dizer
Já não importa…
Se fizeste mal feito
Se te deste com defeito
Ou falaste mais ainda que a própria dor
Já não importa…
Se calaste
Se falaste
Se sentiste demais que o permitido pela lei humana
Ou se cometeste o crime perfeito
Roubando o mel
A pele
A cor dos olhos
A saliva e a seiva
A voz
E o momento do prazer
Já não importa..
Não há tempo para o lamento
Quando já depois tudo
Continuamos a querer ..ainda..querer
Já não importa…
Se existiu
Se existe
O quê
Como
Porquê
Se estamos alegres
Ou tristes
Se foi Deus ou o Diabo
Que nos fez
Já não importa…
Se foste justo ou injusto
Se guardaste ou repartiste
Se morrestes ou ainda existes
Se cada vez que fechamos os olhos
continuamos a ver..
Que importa?
Já não importa…Ex...porta (por bater)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cativos


Com o tempo em contagem crescente
Numa escada em caracol
Subo em decrescente contradição
subindo degraus em espiral
Escorregando pelo corrimão
Por momentos cativos os pensamentos
Tantas vezes repetidos
Como horas a fio num tempo incerto
Ora é tarde
Ora é cedo
Nunca é a hora certa do momento
Aparente paradoxo
Esta realidade invisível
Se queremos subir
Fazemo-lo de costas
Evitando a vertigem crónica do que estará para vir
Já não sei se subo e desce o tempo
Ou vice-versa
E o verso da prosa em alucinação
É como o tempo numa escada em caracol
Sem corda mecânica que o impulsione
E eu sem corda que me prenda aqui
Fico cativa apenas porque o penso
Outra vertigem…deixo-me ir!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Gostos e Des-Gostos



Espremo o limão até à ultima gota
Dispenso açúcar
Bebo o essencial do fruto
Por vezes como a polpa
Engolindo caroços
Usando a casca em raspas para doces caseiros
O limite do uso e abuso das suas possibilidades
Franzindo o rosto
Expressões de prazer e arrepio
Não se procuram metades
Juntam-se partes díspares
E conjugam-se na perfeição
Tal como o mel com o fel
Só na descoberta dos desiguais poderemos conhecer a essência dos prazeres
Não nos agrupemos a gosto ou a des-gostos
Nunca saberemos a quantidade de suco existente em cada um
Se não o esprememos até ao fim
Copos cheios
Vazios
A meio
Dependerá da nossa sede
Doce
Amargo
Azedo
Salgado
Tudo pode ser doseado à medida ou passando limites
Basta unir em doses certas ou incertas
as porções contrárias da nossa metade…

se mesmo assim não resultar
pegue no limão
junte gelo, açúcar, cachaça e divirta-se!

Intimidades




Na falta do corpo sentido
Toco-me na alma
Como se fosse sempre a primeira descoberta do amor
Ao mesmo tempo desconheço quem toco de cada vez
Múltiplas faces sem rosto
Tantas formas em linhas rectas do pensamento
Distintos prazeres e contradições
Invisível ser que me compõe
Êxtase quando por fim me encontro perdida


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domingo, 24 de outubro de 2010

A DECISÃO DO INDECISO



A decisão do indeciso

Passavam horas, dias e anos sem que conseguisse saber ao certo que fazer
Até nas coisas diárias, em que a rotina tornava fácil ser e agir sem grandes dúvidas...
Ele perdia-se em tempos de espera, num estado de ausência da vida, tentando decidir seja o que for.
Nos domingos de manhã saia cedo para ir comprar o jornal e beber o café na esplanada mais frequentada da vila. Antes de sair a duvida do que levar vestido deixava-o nervoso, muitas foram as vezes que vestira um sobretudo e levava o guarda chuva em pleno mês de Agosto, apenas porque lhe pareceu ver umas nuvens cinzentas ..por ai!
Bebia o café sem açúcar e sem adoçante..aprendera a lidar com as situações que o punham à prova.
Tornara-se vegetariano para evitar a pergunta constante, “carne ou peixe?’
O seu primeiro e único filho (resolvera não passar mais por tal situação) levou dois meses e 3 dias para ser registado, e mesmo assim o nome (João Maria) foi decisão da sua esposa.
O jornal era lido duas vezes, gostava de se certificar das coisas antes de formar opinião.
Resolverá há muito não ter Tv em casa, a hipótese de escolha entre ver o noticias e o debate politico, ou entre um filme de época e o ultimo premiado nos Óscares, foi a causa da sua ultima depressão.
Habituara-se a andar sempre de preto, a segurança de abrir a gaveta das meias e o guarda fato davam-lhe alento para enfrentar o dia.
Em dias de eleições, chegava bem cedo e já era conhecido por ser dos poucos eleitores que pediam vários boletins de voto, entregando um por cada partido, dos quais davam baixa e eram considerados enganos normais, entregando por fim o ultimo, dobrado em tantas partes quanto conseguia, só ele sabendo que tentava ocultar dos outros o seu voto em branco. …prova da sua indecisão crónica.
Escrevia sempre a lápis de carvão…mas por via das dúvidas levava sempre consigo um mata borrão.
Começou a fazer testes de orientação profissional mesmo antes de terminar a primária.
Tirou carta de ligeiros e pesados ..mesmo sem nunca ter conduzido na vida, a questão de decidir o caminho mais curto e de se ultrapassava ou não, originaram uma Úrsula no estômago.
Era um homem atento aos pequenos pormenores, mas detestava que lhe perguntassem opinião sobre o que quer que seja..ainda se lembrava das dores de estômago que sentiu quando a sua esposa, já no altar, lhe perguntou, estou bonita?
Hoje estava perante uma situação difícil, nem dormira a pensar no dia que teria de enfrentar.
E finalmente. Pela primeira vez tomou uma decisão sem tremer ou ficar com dores de barriga.
Levantou-se, não se lavou, não se vestiu, comeu o que estava à mão, desceu as escadas sem olhar para o chão, seguro de si seguiu em frente, foi trabalhar e nem questionou o facto de estar só no escritório, ao almoço, no restaurante que escolheu entre várias opções, pediu bife de atum e não conteve a gargalhada …já no fim do dia, sentou-se no banco de jardim perto de casa e deixou-se ficar até anoitecer. Olhou um ponto qualquer no horizonte e nem questionou se seria o sol a pôr-se ou a lua a acordar. Disse em voz alta: gosto disto, seja lá o que for!
Sorrindo chegou a casa e deitou-se na cama que ainda parecia quente
Sentia-se outro e já não temia ter que decidir seja o que for..
No dia seguinte, segunda-feira de um mês que desconheço, escrevia-se em todos os jornais:
Matou-se o homem que nunca decidiu nada na vida!
Ainda havia restos da sua personalidade nos dois copos encontrados junto ao leito…um com chá de limão sem açúcar, outro com cicuta e adoçante.
Bebera a mesma dose dos dois.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

DespertaDor


Silencio
Crescia entre o lençol húmido e os corpos
Poderiam dizer tanta coisa…
Mas escolheram o vazio
Adormeceram com receio de que quando acordassem ele já lá não estivesse
E caso se enchesse a madrugada de sons
Saberiam que o Adeus era a única palavra possível dos devolver à cama.

DEUS ERA DALTÓNICO



Já não é sangue que lhe corre nas veias
É lodo
Espesso, verde e mal cheiroso
A circulação doía-lhe cada vez mais
Sabia que faltaria pouco para que se amontoasse no peito
E ser pedra, rocha inerte
Estava cansado
Velho e confuso
Acredita na lenda que ouvira desde criança
Contam ainda…
Que é dos homens rudes
Dos que nunca souberam dizer Amor, mesmo quando o coração doía de tão cheio
Que Deus criou os vulcões
E a larva Rubra?
Apenas um pormenor artístico do criador

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A chave?


Por vezes perco-me
Desconheço a essência que sempre me tornou singular
As duvidas constantes sobre os lados que me formam
Fazem-me olhar ao espelho de frente
De perfil, ora esquerda ora direita
Torturo-me constantemente num jogo do gato e do rato
Assim, frente a frente com a minha dualidade
Torno-me reflexo da imagem a que me habituei
Caixa forte
Com código secreto que eu própria desconheço
E bem dentro de mim procuro
Combinação impossível de decifrar
Resta-me encontrar a chave
Algures…
Enquanto isso espreito-me
Quase a medo
Qual ladrão de privacidade alheia
Por entre o buraco da fechadura


terça-feira, 19 de outubro de 2010

ORDEM DE PRISÃO!




Afixaram cartazes nas ruas e ruelas do mundo inteiro
Há quem diga que não terá hipótese de fuga
Fecharam fronteiras
Armaram todos os homens e deram ordem para matar
E a sua fotografia inundava as noticias de todos os canais televisivos
As rádios divulgavam a noticia, entre musicas românticas e o estado do tempo
Prometiam recompensas a quem o trouxesse morto ou vivo
Era impossível circular sem mostrar identificação e abrir a bagageira
A desconfiança estava em todas as esquinas em que tivessem o azar de parar
As sombras na noite ficavam gigantes
E o silencio deixava escutar uivos de medo
Era o pânico nos olhos dos poetas
A ruína dos vendedores de sonhos
Depois da hora de recolher obrigatório, nem as almas embriagadas arriscavam cambalear
Andava em fuga há muitos dias
Seria impossível continuar com vida
Diziam os incrédulos da força dos loucos
Há quem defende-se um linchamento publico
Serviria de exemplo para os marginais
E a fúria nas bocas escorrendo fel
Gritava palavras de vingança
Prisão perpetua!
Morte lenta!
Forca!
E surgiam novos métodos para a pena de morte nas mentes maquiavélicas dos carrascos
Os bruxos faziam feitiçarias e prometiam entregar o criminoso em poucos dias
Escreviam-se biografias desautorizadas
E em cada uma delas surgiam novos factos
Afinal tinha sido abandonado em criança
Outras falavam das más influencias desde cedo
Alucinado!
Marginal!
Dependente de todas as coisas proibidas!
Cretino!
Malvado!
Vagabundo!
Solitário!
Contrabandista!
Ladrão!
Desertor!
Aldrabão!
Em coro gritavam os vendidos ao medo
E no meio da confusão surge o único culpado entregando-se às leias impostas dos mortais
Sem culpa no rosto
Sem advogado de defesa
Agarrado como se ainda tivesse forças para fugir
Espancado e torturado sem razão
O juiz da culpa dos outros decidiu a sentença
Morte por asfixia
Apertem-no com as próprias mãos!
E mesmo depois de morto matem novamente o cabrão!
Não se sabe ao certo quantas vezes o mataram
Foram várias as facadas
Os choques, as cordas em aperto
Murros e tiros com balas de prata
E passaram a certidão …
Causa incerta
Morte súbita
Desconhecendo a razão
Mentido à descarada
Sem amor e sem paixão
A vingança foi consumada!
Morte sem anuncio nos jornais
Nem direito a cerimonias
Já não importa um coração
O amor é ficção
Coisas banais, histórias!


Uns anos depois ainda se continua a vender milhares de livros baseados na sua vida e morte….há quem diga que qualquer escritor que se preze do nome, terá que escrever pelo menos um livro que fale dele..
Em BD ou poesia
Romance ou ficção cientifica
Tornaram imortal até hoje o Amor.

sábado, 16 de outubro de 2010

Brancas...


Já não era o mesmo
Antes as palavras saiam soltas
Com vida própria e livres
Mal as sentia ou pensava
Já elas riam como loucas
Feitas poema
Canção
Fado
Por vezes dava por ele numa livraria onde os livros saem das prateleiras, mexidos, tocados, amados como mulheres da vida (ou com vida?) por todos os que os podem e querem possuir.
E ficava sempre admirado ao ver muitas das suas palavras loucas na vitrina, assinaladas com o “ultimo sucesso” do autor..
Já nem lembrava bem os nomes que criara para sim mesmo, sabendo-se tantos, habituara-se a baptizar cada um de si, sem água benta nem orações…e nem registo fotográfico havia.
E agora estava ali, inerte à espera que elas o tomassem de assalto..mas nada acontecia.
Habituado a não saber bem quem era, nem como se tornara dono das palavras que sabia não lhe pertencer, deixou-se ficar ausente, tocou o pulso apenas para confirmar as pulsações…não gostaria de saber da sua morte pelos jornais.
Não se confirmava o óbito, facto que o deixou aliviado.
Não pelo prazer de estar vivo, mas por recear não ter tido tempo de deixar o epitáfio .
Não era homem para se entregar à morte sem antes deixar escrito que se ia…não fosse, por mero acaso, alguém gostar de saber…e nesse momento pensou nas palavras que se soltariam na morte.
Afastou a ideia do pensamento, apenas por recear que as mesmas fossem negras num fundo branco, talvez falassem de um outro que não ele, talvez falassem de Deus e do Amor, e isso ele não aceitaria!
Queria palavras brancas no branco da pedra que não lhe pesaria.
Queria que inventasse o sentimento que nenhum homem ainda sentiu…ah como seria bom conseguir ser ele o dono das suas palavras..e ai sim…teria direito a prémios ..e à eternidade.
Daria autógrafos sorrindo, daria entrevistas nos jornais de Letras e Artes, ou de Letras com Artes…ou quiçá ser convidado para aparecer na Televisão?
Olhou à sua volta e não viu ninguém, o museu iria fechar dentro de dez minutos, acabaram de avisar em várias línguas, através de umas palavras que saiam de umas colunas pretas na parede.
Aproveitou os últimos minutos olhando os quadros que estavam à sua frente…entendia agora o motivo porque colocavam aqueles bancos frente às paredes com molduras..
Seria necessário voltar amanhã, ou depois de amanhã, ou ainda depois do depois de outro amanhã qualquer…
Com sorte apanharia o momento da inspiração do pintor…
Ao sair entendeu que afinal, o preço a pagar por deixar em liberdade a criação, era a espera do criador..podendo ser tão longa quanto a vida ou tão breve quanto a morte …
Sorte dos que consegue antes dela escrever que se vão.
No dia seguinte não voltou…

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

JUTHEYRSSHSPOITUYHCNCBGSF..



Não sei fazer palavras cruzadas
Todas as dicas me levam a mais letras que o espaço em branco
E onde coloco os significados do que só eu sei?
Como colocar tudo nos quadrados cheios de um vazio escuro?
Porque simplificam as frases numa única palavra?
Não entendo o mundo dos jogos que tão bem conheço as regras
Mas que decididamente não sei jogar para vencer.
E num labirinto de letras em falta me perco
Roendo o lápis já só com carvão
Batendo com a ponta dos dedos na mesa, no rosto, na testa…
Asfixio o traço que daria significado e borro o significante nos lábios,
Na mesa,
No corpo,
para que nada surja com erro de falta de espaço.
E continuo a tentar, agora é o enforcado que baloiça no limite do meu traço rabiscado a medo.
Quais as letras em falta para que a morte seja súbita?
E se me enganar e deixar em agonia a palavra escondida?
Baloiça na corda enquanto volto a procurar em mim uma outra resposta, começada pela letra escolhida ao acaso.
Mas porque necessita fazer sentido?
Agarro o traço com as mãos tremulas
Desenho com ele todas as letras de um alfabeto inexistente
Imaginário criado à medida da realidade paralela
E como por magia, soltam-se as letras uma à uma
Indo livremente aninhar-se nas arvores
Onde aguardam que as colha e as deguste
No tempo em que amadurecem os frutos do Outono
E como a romã, abrem-se uma a uma
A seu tempo
Sem pressa
E do ouriço da castanha surgem os pregões a estalar no assador
Dos figos sai a mais doce aguardente
A marmelada cai da letra amarela
Enquanto as nozes se aconchegam nas tartes quentes…
E perante isto,
Coloco na lareira o lápis de carvão em brasa
E o jornal diário no arquivo do tempo.



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

EM.CANTOS


Em..cantos

Em. cantos meu
Onde se aninham os mais íntimos segredos
Encontro-te
Em cada curva das linhas que nos cosem a alma
Em cada recta com horizontes a finalizar caminhos
Espero-te
Em mim encantos teus
No cheiro que não passa
Nos sons que me recordam suspiros
Nos doces sonhos enrolados em algodão
Jaz ainda no lençol da pele a essência
Dos dois em um
Salgados
Doces
Embriagados de loucura sem grau
Impossível de não arder
Em. cantos meus
Encontro-te
Nas impressões que te identificam
Interna seiva que circula incolor
Em artérias e veias que dilatam
Pulsando o desejo de mais ainda
Incontido o palavrão, sem ofensa das paredes
Onde nos confessamos cada vez que nos purificamos
Em baptismos sagrados
Com gotas das nossas águas
Em.cantos meus
Encontro-te
Em rezas em surdina
Com tanta fé que me torno a Matriz
No limite do triz
Grito
Em.cantos
Dou a carne em sacrifício
Minto se faço santas as intenções
Quero converter-me
Á única religião possível
Onde o Deus do amor se personifique
Com s.exo
Vinho
E hóstias bebidas por nós
No canto dos coros angelicais
Faço a dança do meu ventre
Em.cantos fatais
E no fim reencarnamos de novo em nós.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

MEDO DO ESCURO


Acordou ainda sem ser dia
E a falta de luz encandeava-lhe a visão
Como aparição, ali à sua frente
Um vulto
Sorria
Ironicamente mostrava aquele sorriso da felicidade dos outros
Em gozo arrogante, espelhava no rosto orgásmicas feições
Olhou o relógio, ainda nem duas horas dormira
Bebeu a água do copo que colocava habitualmente junto à cama
Como ritual molhava os lábios febris durante os sonhos
Esfregou os olhos e quando os voltou a abrir estava novamente só
Tentou adormecer de novo
Mas novamente ouviu as horas nocturnas passarem como marcha fúnebre
Uma a uma sem badaladas anunciado o tempo novo
Apenas sabia ser outra hora pela quantidade de água que exista no copo cada vez que bebia
Recusava-se a abrir os olhos
Não suportaria novamente ver aquele rosto de gozo
Sem saber se adormeceu entretanto
Quando bebeu a ultima hora da noite
Levantou-se com a luz a entrar por entre as frestas da janela de madeira
Ao olhar o espelho sorria
Com aquele sorriso da felicidade dos outros estampando no rosto..
Encheu novamente o copo com água
Deitou-se
E contou uma a uma as gotas de um novo dia de sonhos
E sem medo enfrentou todos os vultos diurnos

http://www.youtube.com/watch?v=sqK7Ys155j4

domingo, 3 de outubro de 2010

HORA DO BANHO


A carta estava escrita há muito
Faltava definir o destinatário
Selo no canto direito
Com o carimbo dos lábios rosa
Depois de passar a língua, fechou a carta com todo o cuidado
Suspirou
Nada a faria voltar atrás
Pegou na garrafa vazia de vodka que abrira no inicio da noite
Ainda restava uma gota que se apressou a lamber do gargalo da garrafa
Sorriu
E colocou lá dentro a carta
Como nos filmes que vira tantas vezes…
Sentou-se no chão
Encheu a banheira com agua bem fria
E ondulando em seus olhos..um mar revolto
Deitou a garrafa e junto os sais de banho…
Despiu-se e deitou-se também ela na água
Certamente, mesmo que demore algum tempo,
Seriam encontradas numa praia envoltas em algas e restos de conchas
Restava a esperançam que o fim fosse um
Happy end…
Porque ela detestava estar inchada de chorar, quando se acendiam as luzes da sala de cinema!