Com_traste

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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Culpada

Frente ao Juiz
Ela jurou dizer toda a verdade e nada mais que a verdade
E foi o que fez
E toda a verdade e nada mais que a verdade
Sua
Condenou-a uma grande Pena
Perpétua
E nem todas as provas de honestidade, verdade, coerência e sentido de justiça lhe valeram
Iria ter que viver presa à verdade dos outros também
Ainda lhe passou pela cabeça a possibilidade da existência de Deus
Mas logo depois, afastou tal ideia como hipótese de salvação
A justiça divina só tem efeitos a longo prazo
E ela precisava de ser livre agora
Foi ai que se resignou e aceitou a condenação sem pedir recurso
De nada lhe valeria voltar atrás e pedir revisão de provas
Sabia agora ser impossível sair ilibada
Da sua vida
O seu único álibi era as opções claras por tomar partido
Assumindo o risco das massas cinzentas a processarem
Uma e outra vez
A Pena suspensa diariamente
Perpetuaria o crime
E este...a Pena

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

...

Leiam nas entrelinhas
Como se fosse certo o vazio e o silencio
Tirem conclusões do nada
Amem
Matem
Esfolem
A possibilidade do erro
Esqueçam que a chave mestra é apenas uma
E até essa duvida algumas vezes que abre o cofre
E se...
Parece que
Adivinhem as infinitas probabilidades
Joguem cartas
Afirmem
E no fim das contas
Mesmo com a prova dos noves
A exactidão matemática mente
Porque nem eu nem tu somos concretos
Porque noves fora ...nada
E ai cabe tudo
Tudo... é impossível de quantificar
E no espaço vazio das linhas
Entre
Há...qualquer coisa de indefinido
Eu !

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

?

E naquele dia não choveu
Contrariando as nuvens
Pesadas e cinzentas
Contrariando o ar
Sufocante
Contrariando o cheiro
A terra molhada
Qual ejaculação precoce
E nada mais se podia ler nos astros
As folhas das árvores caducas
Enlouqueceram a sério
Caiam mais cabelos que folhas de diário
E nós
As pessoas
Perguntávamos às bruxas
Porquê?

Cenas

O guarda roupa usado pela maioria dos actores
Influencia o desenrolar da peça
O sucesso do actor principal não depende do guião nem apenas do seu desempenho
A forma como se veste é fundamental
E o ponto
Que invisível dá a deixa
Deixa de importar
Os aplausos são audíveis
Como visível a baba que arrasta pelo piso de carvalho envernizado
Que estala!
Clap clap clap
Bis bis bis
E o rei, que vai nu
Ninguém vê

A tal

Da razão...tinha aquela vaga ideia de alguma vez a ter tido
Das estações...bilhetes amarelados, paisagens estereotipadas, cheiros de frutos proibidos
Das palavras...doses duplas de significados, sons de guitarras de fado, sal e mel
Do amor..um peito cheio de infinito vazio
Da loucura...o sorriso
Do sexo...olhos, aqueles!
Um dia escreveriam romances com o seu nome e da fama não seria capaz de fugir
Isto se a encontrassem antes de conseguir falsificar todos os documentos
A tal
Procurada
Talvez nem exista

The Happy end

Nada é mais triste que o desencanto
A verdade não era afinal a existência do pássaro verde nos teus olhos
Não existem anjos
Nem fadas
Nem terras do nunca
Deveria ser decretado luto nacional cada vez que morre um pássaro verde nos olhos de alguém
Cada vez que abrem covas para enterrar fadas e duendes
Cada vez que matam qualquer coisa que voa no peito de alguém
Cada vez que não cantam cotovias
Nem há ninhos em todos os beirais
Deveriam tornar obrigatório o choro, cada vez que partem andorinhas
Deveriam mandar prender as lágrimas das pedras da calçada
E com elas encher todas as catacumbas da consciência
Fazer leis que obrigassem os bichos racionais a sê-lo
E inventar rios de peixes voadores
Barragens para mares mortos
Tomar a palavra como hóstia
E ai de quem pecasse, ao negar a crença nas varinhas mágicas e no seu condão!
Cada vez que nascesse um nenúfar, haveria um feriado!
Seria obrigatório comer romãs, bago a bago, em cada novo dia
O tempo será acusado de todas as infracções cometidas
Haverá um único juiz na selva, e este será tão, mas tão capaz, que mandará matar o verdadeiro culpado de tudo
Depois da morte do juiz, ninguém chorará
Foi decretada a ausência de memória!
E a terra girará apenas para embalar o sono
Em cada sonho haverá um tiro da sorte, certeiro!
O algodão doce nascerá nos pés das árvores
Estas nunca morrerão
As corujas ensinarão a ler as estrelas
E as ciganas...irão ler em todas as mãos, o verbo num tempo mais que perfeito
Depois...depois não haverá mais a tristeza do desencanto.

Cru

O dia acordou
Duro
Nu
Cru
E como qualquer outro dia solitário
Masturbou-se
Tomou banho
Perfumou-se
Fez o nó da gravata
E saindo porta fora...
Disse: Vou comprar tabaco
Chegou a noite...e ele nunca mais voltou
Ainda hoje há quem fale no primeiro dia
Que deixou tudo para ir atrás de um amor qualquer
De inveja, fogem todos os outros dias depois daquele
E nunca, nunca ninguém conseguirá confirmar o seu paradeiro nem se alguma vez foram felizes
Sortudas as noites
Eternas amantes dos dias fugidios