Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Matar ou morrer...



A coragem da vitima que agonia
Pede a ousadia de se armar sem dor
E erguendo-se do chão
Olha nos olhos da paixão
E aponta à vitima a pistola
Segura com duas mãos
Não vá o coração ceder
E com voz que finge ter
Diz
Matar ou morrer!
E sem deixar de tremer
Dispara
Ou diz…
E no preciso momento
De coragem inventada
Soa de uma assentada
Um despedaçar pelo quarto
Larga a arma de repente
E segurando num pente
Alisa o alvoroço dos cabelos
Olhando o que antes fora lugar de espelho
Sorri pensando-se viva
Sem notar que jaz inteiro
O reflexo traiçoeiro
Espalhado pelo chão



In..Visual


Cego-me
Com a ponta dos meus dedos
Escrevendo aquilo que vejo dentro dos meus olhos
E o mundo agora poderia ser outro
Correr nua contigo na nossa praia
À noitinha
Ir ver o por do sol na outra margem
E regressar a tempo de o ver nascer aqui
Cego-me
Tapando os olhos da realidade
Escondendo o teu corpo e o meu da visão dos outros
Por os sabermos incapazes de aceitar a perfeição fora de si
Apuro a invenção de que sempre soube ser mestra
Na criação da visão da possibilidade da existência
E é triste
Porque assim me encontro sem rosto
Para que possam escorrer as lágrimas
Para quando o visível do real surgir
Cego-me
Para poder tactear as palavras dentro de mim
E a visão seja o desejo
Que sinto
Quando mesmo assim sinto o beijo dos teus lábios nos meus
No rosto que cubro quando me cego ...assim

Verdade ou Consequência?


As vezes
A verdade é escura
Não dura, como a dizem
Escura e fria
Vazia
E dúbia
Ao ponto de a julgarmos mentira
Mas a verdade é sempre a verdade
Dizem
E havendo mais que uma
Em vez da minha
Eu quero a tua
Clara
Límpida
E pura
Para que nela me reveja
E a verdade minha seja

Opções


Carne ou peixe
Branco ou tinto
Doce ou salgado
Verdade ou minto
Ir ou ficar
Tentar ou desistir
Sorrir
Chorar
Dormir
Branco ou preto
Quente ou frio
Mar
Rio
Correr ou parar
Beber ou desidratar
Dar ou guardar
Conter ou falar
Escolhas múltiplas
Sorte ou azar
Aceitar
Recusar
Esquecer
Viver ou morrer
Abrir ou fechar
Partir
Colar
Doer
Sarar
O dom dos Homens
Pensar
Decidir
E se outra coisa surgir…foi Deus!

inQUIETAção


Os dias
As noites
O frio que me faz desnudar nas tuas mãos
O calor que me arrepia o pensamento
O vento
Que levou todas as palavras
E mesmo assim te penso
O fim da tarde em que me dou inteira
Para que a noite esqueça as horas
E acorde de novo a possibilidade de me cumprir
Num futuro que pode ser apenas um momento
E basta
Enquanto isso
Deito-me de costas na janela em que me enamoro
E espero
Depois de decapitada
Sobra-me o peito ..para
Para que te debruces à janela
E me esperes

deSINTOnia


O vazio que a tua ausência enche
As palavras que partilhamos são antónimos de sentimentos
A tua imagem é a óptica iludida nos olhos
Eu penso-me a outra
Tu não és ele
Crescem ervas daninhas no pé da arvore dos sonhos
E a cama é feita com lençóis usados
Manchas que não causei
O fio que penduro já não nos enforca juntos
E o lugar do morto é o banco de trás
Onde se fazia amor
O som que em memoria me assalta
É crime sem álibi
Quando me perco em devaneios na ponta dos meus dedos
A mesma pele que antes arrepiava
É agora de animal ferido
Com sangue em jorros sem ser fêmea
E já não procria
O tempo que controlo andando de marcha atrás
Cai em queda livre numa ampulheta
Com que brinco nas mãos ressequidas
Sem ser jogo
Perco na hora em que me deixo ficar na casa do condenado
Lanço dados
E a gloria não é a minha condição
Desististe de ser tu
Ou eu me esqueci que já não posso voltar atrás
Sento-me
Na margem do pensamento que se fixa em outdoor
Para que publicite o acontecimento
Dos contrários em sintonia
Na coisa ausente
Presente em nós
Como pássaro negro poisado em espera da hora em que nos devore
Antes que a luz se apague com um sopro
E o vinho
O vinho já não sabe aos nossos beijos
Porque nem nas folhas das vinhas há memoria
Do tempo antigo
Que dá valor ao liquido que choramos agora

Estado critico


Quando elas voam na barriga
Fazendo contorcer o corpo em convulsivos movimentos
Os olhos são luzes num piscar constante confundindo as mudanças de direcção
E o sorriso, nervoso, causa paragens de transito nos circuitos sanguíneos
Acumulam-se dores nos órgãos doados
Prantos nas cordas vocais dos cantores românticos
E tudo em redor parece girar a um velocidade ilegal
O chocolate esgota no super mercado
E derretemos barras de ferro com suspiros
Acusamos o tempo de não obedecer à nossa vontade
E o sol é sempre o pôr numa praia deserta
O estado febril com que o galo nos acorda pela manhã
Origina banhos frios
Com as gotas de suor que acumulamos em frascos de perfume vazios
Tomamos o pulso ao minuto
E é impossível acender um cigarro à primeira
Mexe-se o café mesmo sem colocar açúcar
E escrevem-se frases ridículas de poetas mortos
No guardanapo usado
O pensamento é sempre uma revolução
Causando greve geral de todas as ideias anteriores
O coração acelera
E o travão é o beijo
Dado pelo caçador de borboletas

Transparências


Ela andava sempre vestida de si
Quer no traje domingueiro
Quer nas vestes diárias
E era linda
Airosa
Esvoaçava ao vento os tules
As sedas
O cetim
As rendas
A cor, era dos olhos de quem a possuía
Ou de quem a vestia
Na intimidade de um olhar
Nunca se contradizia
Era pura

Verdade
Sentia-se nas palavras e nos actos
Tão ela
Tão própria
Tão única
Falava na voz dos que nada possuíam
E trocava sílabas por pão
Cantava fados vadios
Como se fosse oração
Perdia-se na palma da mão
E alucinava em cada beijo
Chamavam-lhe passageira
Mas ela
Queiram vocês ou não
É louca paixão
E amante do desejo
Translúcida certeza
Quando alguém a possui

Requintada


A sobre(a)mesa
De um agridoce excêntrico
Misturas sem limites que a imaginação originava
Fora servida em taça cristalina de Pé
Uma mousse de limão na primeira dentada
Com um leve aroma de hortelã
Em folhas espalhadas pelo chão
Entre fechar de olhos e línguas soltas
Saboreando até ao fim dos dedos feitos colher
Aguentando a vontade de mudar de paladar
Prolongaram a degustação
Seguiram a receita passada
E o crocante dos frutos secos
Alegrou a segunda cama.da
Parecendo petizes
Em brincadeiras loucas
As nozes em quebra dentro da boca
E nessa mistura juntam a gota do vinho fresco
Que desliza na pele em queda pelo queixo
E num trago maior
Que mistura bocas
Sugam amoras num creme de natas
E com suspiros
Lambem os dedos
Não deixando rasto dos seus so.Be(i)jos
E no fim da mesa
A sobra que resta
É doce de mel
Para fim da festa
E de gula saciada
Dão na cereja a ultima dentada

Por..menores


Escolheu o canto mais escuro
A mesa mais longe
Acende um cigarro
Pediu um café
E num cruzar de pernas
Cruzaram-se olhares
Por entre fumo
E vultos passageiros
Fixaram-se
Num jogo infantil de manter olhos nos olhos
Até que um dos dois desistisse envergonhado
Ou rendido
Só deu conta da passagem do tempo
Pelo maço de cigarros vazio
E pela perna dormente
Que a impediu de o acompanhar
Ao local combinado
No dia anterior

Sapateado


Olham-se
E na lentidão do sorriso
Espelham o desejo contido quase em dor
Num morder de lábios tímido
Ela move-se ao som da música
Colocada na cumplicidade de uma gargalhada
Os minutos são eternos olhares
E despem corpos num gesto pudico
Que atiça
Ele
Encosta-se à parede branca
Que na penumbra da sala o torna vulto
Sorri maliciosamente
E o brilho dos olhos ordena que continue
Em volta o vazio
Que em breve ocuparão com todos os sonhos
Enquanto isso
Ele pede que se deixe ficar calçada
Em passos de dança
Unem-se pelo olhar
Que os comanda

Pecados


Em ti me confesso
Dos sete pecados que me matam
Entrego-me sem sacrifício ao castigo
Da Luxúria em que me perco no teu corpo
Pedindo-te mais um pouco e que seja infindo
Da Ira com que me fazes gritar e em ti descarrego em raiva
Possuindo-te sem dó nem arrependimento
Com Gula te saboreio uma e outra vez
Lambendo ainda os dedos…sorrindo
Invejo-te os lábios, querendo sempre em mim teus beijos lânguidos
Não me reparto, confesso a Avareza que me toma quando te tenho
E evito todos os olhares de caridade que me suplicam
Vaidosa fico, cada vez que me fazes sentir mulher
E quando já cansada cedo à Preguiça
Não te minto
Adormeço apenas para renascer em sonhos
E cobiçar-te de novo em orações impostas
Para que não me dês perdão
Mas o castigo.

Ás Voltas


Ora no sentido indicado pelas setas do coração
Ora na oposição
Em velocidades doseadas pela força dos ventos que não sopram de lado nenhum
Cata-vento emocional desorientado, apenas
Começou há muito em círculos
Como se de rotundas fossem feitos os caminhos
E nenhuma saída era como a primeira
Em que a verdade era única
E qualquer voz orientadora no sentido oposto
Não teria razão
Agora
Conduz em contra mão
Resistindo a todas operações de stop
Em velocidade moderada
A pressa sempre foi sua inimiga
Embora a acompanhasse desde sempre
Seguirá caminho…nem sempre em frente
Fará todas as rotundas da vida
Com um sorriso
A sensação de já se ter perdido ali
Dá-lhe confiança
Porque é do conhecimento dos seus erros
Que a sua verdade se alimenta
Sabendo-se capaz de errar
Caso acredite de novo, nem que seja por um segundo

Silêncio


Calem-se!!
Não me gritem
Não me falem
Não me olhem
Com esses olhos faladores
Que a qualquer canto se entregam
Por qualquer preço
Putas línguas
Entre dentes
Que se desfazem em fel
Num gozo promíscuo
De seres menores
Nem pensem sequer
Abomino o pensamento
O vosso pensamento!
Vendam-se e gozem do vosso prazer
Que só do vosso corpo vos sai
Oh santas criaturas impuras
Que virgens só tendes o manto
E o pranto quando vos colocam as notas
Falsificações de preço
Que nunca chegarão a ter
Apetece-me cuspir no prato onde comeis
E ver-vos saborear o pitéu
Dou graças aos céus
Por não existir criador
E assim..só a vós vos poder condenar
Eu!!

A verdade é minha
Porque me a roubam assim?

In..Certezas

(imagem retirada da net)

Há coisas claras, dizem
Eu só vejo a complexidade das coisas
Quero simplificar
E retiro todos os preconceitos
Os sentimentos confusos
Penso que a beleza está em dar a tudo um toque diferente
Para que uma coisa não se confunda com todas as outras coisas
Até numa jarra de lírios (ok podia ser de rosas mas não acredito em milagres)…um lírio pode ser diferente dos outros
Basta que para nós o seja
E que ele saiba
Basta??

PicArdia


Gosta de se deitar nas silvas
Nas tardes calmas de verão
Virar o mundo ao contrário
Iludir a ilusão
De pernas aladas
Corre por ai
Mas finge-se parada
E ri
Gosta dos picos que lhe sangram mais que pele
E na saliva amada ver escorrer o mel
Parece ferir-se propositadamente
Para depois da dor sentir que sara
E respirar fundo para que já não doa
Ela anda
E corre
E para
Para
Corre
E anda
Sempre assim
Ardendo inteira
Dentro e fora de si
Procurando as picardias do coração
para não deixar de Sentir...

Cheia


Passo as fronteiras do consciente
E corpo fora
Em queda pelos limites
Escorro mundo adentro
Afogando magoas
Esquecendo dores
Levando na enchente..gente
Que gritem horrores
Que deixem órfãos
Casas
Bens e males
Em queda livre sigo
Não me contenho
Nem muros ou pedras poderão parar
Não é arrogância
Não é maldade
Nem tão pouco insensibilidade
É a incapacidade de me bastar em mim
Sou pouca
Parca em espaço
Em vida
Em morte
Sei lá
Sinto-me excesso
Dose e meia
Ilimitada
Copo a transbordar
E que faço com o que me sobre de mim?
Tentei beber
Engolindo em seco
Calando
Sorvendo
Mas até por a pele me esvazio
Chegando a ter calafrios
Confusos suores
Que me servem de álibi
Mas basta
Agora vou por ai
Se do corpo trespassa
Encarnarei em arvores
Em pedras
Em rios
Mares
E montes
Serei mais além
Agua das fontes
E quando de mim já não souber
Paro um pouco e beberei…
Para poder seguir..consciente da minha Incapacidade

Fora do lugar

Esta cabeça tonta
Enrola os pensamentos
Mastiga ideias
Conclui e manda fora
Para logo depois querer de novo

E volta a pegar na ideia desfeita
Confunde-se com a falta delas
Ou com as ideias feitas
A culpa é desta cabeça sempre fora do lugar
E ando assim com duas orelhas perdidas
Com nada entre
A sorte é quando brinco(s)
Geralmente desiguais
Variando a prata da casa
Para quando olhar ao espelho nada reconhecer
E se afinal aquilo que penso quando a cabeça está longe
For completamente contrário de quando a deito?
Nunca foi de intimidades com a almofada
Mas sossega disfarçada
Quando nos sonhos se embala
E se afinal quem fala não sou eu?
De que me serve pintar os lábios nos teus
Se a marca do batom não é o meu?
E quando pinto os olhos
A sombra que fica me assombra
Como fantasma do que fui ai contigo
E se nada digo
Nada penso
Nada beijo
Ninguém sabe que existo
Sobejo
E é assim que me sinto
Como excedente de mim
E saio por ai em voos
Até que consiga colocar a cabeça no lugar

Desassossego


Quando o cansaço passeia por mim
Antes já demonstrado a cores
Na transparência das minha veias
Há o momento em que se contradiz
E em vez de me adormecer…acorda-me
E em tons campestres
Em pele mais claras
Florescem enraizadas
As flores de mim
Um tudo nada cedo
Sem esperar a estação
Cobrem-me como de hera se cobre o portão
Não há andorinhas
Quem voa são pássaros teimosos sem frio
E eu cansada
Cheia de ausência
Acordo ainda sonâmbula
Passo a transparência
E no lado de cá
Externo ao meu fim
Surjo a medo
Pouco ou quase nada
Assim…desassossegadamente
Não morro sem que todas as estações deixem de ter tempos marcados por mim…

Pronto a comer


No meio da mesa
O banquete oferecido
A carne salgada
O doce do mel
O copo do vinho sem cor
Damos graças ao senhor
Agradecendo antes de ter que pedir perdão
Pela gula dos nossos olhos
Pela luxúria do pão
A luz das velas dança
Pela corrente de ar
Entre rendas e faianças
O consumir da carne
Entre tragos do vinho
Entre pingos de mel
Lambes os dedos
Pedes mais fel
A mesa desfeita
As barrigas fartas
As bocas gulosas
o café com natas
Bebemos o vinho
Que restou nas bocas
Apagam-se as velas
Depois dois cigarros
Corpos sem força
E…lavas tu a loiça?!!

Visões


Gosto dos teus olhos rasgados em mim
Da expressão de fera quando ataca
Gosto da faca com que me abres inteira
E me cortas ao meio
Cada vez que me olhas
Não sangra
Mas dói quando retiras essa arma de mim
E peço que me entres de novo
Agora
Olha
Faz-me em partes
Que inteira sou assim
Carne possuída pelos teus olhos
Fera domada
Animal feroz
Olhos dos teus olhos
Pele quente
Olha
Agora
E sente-me

Borda d'água (ou quando muda a lua?)


A noite encaixava no céu como se fosse lá o seu lugar de sempre
O escuro nítido de fundo
Criava a lúcida certeza de que nada mais existia naquele lugar
Havia quem falasse da existência de um sol
Mas para quem tivesse duvidas
Bastaria olhar a noite hoje e saberia que tal era impossível
O céu é da noite…claramente da noite!
E a lua parecia crescer de esperança
Balançando como berço
Lentamente
Tão lentamente que embalava os corpos
Nus, numa dança ainda por ensaiar
Passo a passo
Ele com um braço firme na cintura dela
Comandava
Olhos nos olhos
Os braços livres caídos mostrando um desapego contrariado
Os corpos completavam-se nos movimentos
Quem visse julgaria ser a ultima cena do filme
Só eles saberiam o tempo de espera ainda pela frente
O 1º acto ainda por ensaiar
E a lua continuava em crescente
Balançando na mesma cadência que os corpos
Até que chegue a hora em que se beijam como nos filmes
Ao mesmo tempo que a lua…cheia, explode na noite
Perdeu-se a noção do tempo
E só com a mudança da lua se consegue adivinhar
O tempo que leva um beijo a nascer
Quando está por ensaiar

Cio(sa)


Quando me atiças
E nos deixamos ir sem pensar
Somo monstros decapitados
Ou anjos alados
Carne da carne viva
Sangrando sem dor
Expostos odores
Gatos no cio
Em pelo arrepiado
Subindo ao telhado
Onde ninguém nos poderá salvar

Cansaço


Sinto em mim todas as veias
O sangue que me dá cor à transparência
Batidas
Que embalam num fechar de pálpebras
Uma expressão ausente
Não penso
Não sinto
Não falo
E nessa animação interior
Mantenho-me
Não me importo
Não quero saber
Quem sabe consiga hibernar
Ou então criar raízes
Até que chegue a primavera

In..Lógica


Não te encaixas na norma
E essa diferença torna-nos semelhantes
Ninguém é de ninguém
Mas nascemos um do outro
Fecundados em actos de revolta
Unidos pela loucura
Que gritamos pelas ruas vazias
Crentes e convictos
Na nossa capacidade de mudar as coisas
E felizes, mesmo quando tudo fica igual
Porque nos basta a certeza
De que nunca seremos os outros
Que na ignorância nos olham
A solidão do parto em que nos demos à luz
Juntou-nos
Resta-nos deixar crescer selvagem
A nossa essência
E seremos grandes
Se eu te escolho
E tu me escolhes
Será amor para sempre
Aquele que só é possível entre dois animais

Olhos nos olhos


Agora dormes
E eu queria saber dos teus sonhos
Ausentas-te de mim e nessa ausência perco-me um pouco
Agora dormes e já não consigo imaginar-te acordado
Evito esta imagem presa nos olhos como menina
Olho o que resta do mundo fora de nós
Surgem tantos outros sonhos
Mas apenas durmo agora
Cansaço
É a palavra usada para que entendam a minha metade ausente
E sei que não tarda me completo de novo
O mundo é tão grande para lá de mim
Só preciso de descansar mais um pouco
Ter forças para me prender nesse sorriso
Que agora me tenta
Numa espiral de sensações
Eu fico a pairar ainda
Apenas porque preciso de mais tempo
Para que a menina dos meus olhos te chame para brincar

Com..Versas


Entre os dois
Verso e reverso
Da mesma prosa
Cresce a vontade de trincar as palavras antes de serem ditas
As doces
Salgadas
Amargas
Mal e bem ditas
Nessa troca
Ousas criar poemas
Em dois dedos de conversa
Na arte que se expõe nua
Em corpos salpicados
E o click na hora exacta
Prende para sempre o momento
Mesmo que fiquemos sem memoria
Sorris de forma natural
E sem nada dizeres
Apanho o fio da prosa
Que se enrola em nós
Tornando indecifrável aos outros
O que só nós sabemos que dizemos
Quando juntamos as nossas bocas

Euforia II


Ela vestia como habitualmente, de negro
Naquela noite sentia-se especialmente bem
Embora apenas se vislumbrasse um sorriso nos seus olhos
Seguira com os restantes para um daqueles lugares em que não se sabe porque se teima em ir
Musica num volume que dificulta a conversação
Dificuldade em chegar ao balcão para pedir a bebida de sempre
Mistura de corpos e cheiros desconhecidos
Encontrou um canto em que dali conseguia ver quase toda a sala
E dedicou-se a observar em silencio
A sua bebida, de nome que desconhecia
Sabia a menta e laranja
Tirou um cigarro e sentia-se a gosto, mesmo parecendo estar longe dali
Ao longe por duas vezes um olhar se prendeu no seu
E por duas vezes tentou disfarçar a aflição que sentira
Olhando noutra qualquer direcção
Não tardou muito e umas mãos seguras tocaram-lhe a cintura
Antes que se pudesse mexer
Sente por trás de si uma respiração bem junto ao seu pescoço
Um copo que surge à sua frente como oferta
E uma voz que lhe sussurra ao ouvido
“Não sei o nome
Chamemos-lhe Euforia
Como o teu perfume”
Beberam do mesmo copo
Sempre naquela posição
Olhou para o lugar dos olhos que a prenderam e…confirmou a ausência
Algo mais já a prendia agora…

MuDanças

Necessitava de retirar tudo do lugar de sempre
O espaço ficara subitamente enorme
Os moveis nadavam de uma divisão para a outra
Naquele inundar de memorias
Afinal o lugar certo era qualquer um
Os objectos de decoração
Andavam em voltas ao som dos batimentos cardíacos
Aparentavam cansaço
Desejavam pousar de vez sobre qualquer coisa
As roupas eram um monte de trapos fora de moda
E os fatos antigos pendurados pelo pescoço
Assemelhavam-se a um enforcado vestido a rigor
Nunca se sabe ao certo quando a ocasião surge
Os livros espalhavam o tempo pela casa
E no chão do quarto adormeciam
Os mais usados
Mantinham-se abertos nas paginas com marcaDor
E aguardavam revisões
Tudo poderia ser outra coisa agora
Bastaria trocar a cama
O resto trocava apenas de posição
Até o corpo dormitava agora de costas
E olhando o tecto, os sonhos já não esperavam muito para se realizarem
Havia um pisa papeis que se mantinha a fazer peso
O monte de folhas, pouco importantes, não ousariam voar
Tudo ficaria bem
Bastaria trocar o lugar da porta e da janela
E entrar pela primeira vez na casa onde sempre morara


saltimbancos


Não me reconheço
Não te reconheço
Ecoam frases no pensamento
Que circulam livres neste labirinto
Só por sorte encontrarão a saída
Imagino as vezes que fizemos palavras cruzadas
E encaixavam na solução dos espaços em branco
De forma lógica e perfeita
Mas se eu não tiver razão?
E foi tudo um erro de casting
O papel que representas é confuso
Eu improviso
E cobrindo a cara com as mãos
Encobre-se o enigma
Que representara todos os papeis sem necessitar de ponto
Eu sei
Eu improviso
E por isso a “deixa” não fará sentido algum
Mas irei fazer do 1º acto, o único
Terminando de vez o drama
E parto com o circo para a cidade mais próxima