Com_traste

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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mari_prosa II


Em estado Mari-pRosa...mais um pouco e voa...entre palavra e palavra...
No espaço vazio do nada dito, nada escrito, nada sequer pensado...
o espaço do tamanho exacto das asas...e num bater quase nada, num esvoaçar incorpóreo o movimento perfeito surge...e nada ali mais ficou, sem rasto do nada que ali existia...voa o espaço vazio entre as palavras, nos lábios ausentes da prosa, do som, dos beijos...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tédio


Olhar mais longe projectando na visão algo mais que a vista
E o horizonte poderia ser muito mais do que vejo
Sendo sempre infinita a possibilidade das coisas
Nem sempre me revejo ali ao longe…infinda
Projecto-me
Pela íris colorida
E o branco de fundo apenas é violado pelo ponto negro
É da lonjura…dizem
Mas eu nego, por me saber pequena, seja qual for a distância em que me olho
Não me choro, não!
Não me agrada o facto de poder encher o fundo branco de negro total e absoluto
E ficar-me apenas por um ponto
Redondinho
Perfeito
Ponto final, no meio de nada ou da ausência
Poderia ser imortal que não me faria diferença alguma
Apenas se multiplicariam os quadros
Infinitamente iguais
Ao longe cada vez mais pequenos
Mas igualmente pouco…
Igualmente monótono
Chato
Repetitivo
Concluo portanto que a eternidade me aborreceria de morte
Mas apenas por viver nesta certeza da visão limitada de mim… ao longe
Caso conseguisse encher-me
Ficar grande
Enorme
Um monstruoso ponto negro
Tão monstruoso que tapasse completamente o fundo branco
Talvez ai me fizesse sentido o olhar na distância
E os meus olhos tivessem Íris tão negras como o fundo do cenário onde me posso projectar
Em contraste com todos os filmes que dependem da imaginação do Homem

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Crónicas Marcianas



O bicho homem acomodado à sua condição natural de imortal
Fia-se na memória dos bichos bichos
Que fazem de conta que se lembram da criação do mundo
Falando entre si da arca de Noé
Contando histórias absurdas de um dilúvio
E o macaco que ri, quando nada (h)ouve, nada vê e nada fala
Lembra-se de ter sido qualquer coisa antes de ser macaco
E macaqueando imita o bicho homem na perfeição
Confundido o publico, que paga bilhete de sombra e exigindo o lugar ao sol
Para que lhe suba automaticamente o status
À medida que lhe sobe a temperatura do rosto.. pálido
Vendo na arena a fera amansada a contorcer-se de prazer sádico
Com os olés vindos de bocas pintadas de senhoras insufláveis
Que trazem no regaço o milagre da transformação… depois de bem pagas
Lançam flores aos molhos, em queda pelas campas imaginadas no solo
E choram os crocodilos dos sapatos e das malas plastificadas
Para que impermeabilizem a inveja dos outros
Miseráveis criaturas que voam como melgas em seu redor
Um papagaio fala no megafone colocado na torre de Babel
Difundido a mensagem dos bichos de espécies superior
Que se repete em eco …no vazio interior de cada bicho homem
Vindo directamente dos Deuses
Um ecrã gigante mostra a imagem de um robot
Imitando o desenho (in)animado em velocidade TGV
Dando a ilusão de óptica da evolução da espécie
E ao longe o bicho bicho luta pela posse do comando que perdeu
Enquanto o bicho homem reza o terço de cócoras
Pandora esconde a vergonha numa caixa sem fundoS
E ninguém assume a culpa de Herodes
Os fieis aos Homens são todos gays
E o rei da selva pede extradição
O povo bicho bicho respira silenciosamente
O povo bicho homem pede para ser ligado à máquina..por amor de Deus!
Em Marte decidem abortar a missão de invasão terrestre
E discutem a possibilidade do homem ter ido à lua…

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SonoLentos




Acordai agora
Antes que vos tirem o sono
O sonho
A cama
O chão
Porque já não há mais pão
Não há mais terra
Não há mais nada
Acordai agora cambada de gente
Que a hora e tardia
É noite de todos os dias
É madrugada sem cravos nas espingardas
Sem cantigas de outrora cantadas
Sem lembrança do que sangramos em silêncio
Sem memória das dores amordaçadas
Acordai agora
Gente sem força
Sem vontade
Para que descansais tanto e até tão tarde?
Esperarão a morte dos dias?
As ruas desertas?
Dormirão também as sestas para que depois não vos culpem do ocorrido?
Ou apenas dormem os sentidos para que não vos culpem de ter visão?
De ter palavra e voz activa?
De ter na pele o tacto e sentir que vos tiram o suor?
E o prazer de ser… humanamente ser?
Oh gente adormecida!
Esperam que passe a vida e depois nada mais resta para poder viver
Canta o galo
Toca o relógio
Chamam as mães
Toca o sino
E nem assim vós acordais?
Oh gente sem pais nem país que vos desperte!
Mas que esperais?
Que vos doa as costas?
A consciência?
Depois de ser tarde…nunca mais chegarão as horas certas!