Com_traste

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sábado, 13 de novembro de 2010

Filhos da...Gente!


Talvez muito mais que nove meses
O tempo é incerto e pessoal
Inventamos semanas sem horas
Meses a fio sem prumo
Anos após anos sem lembrarmos dos dias
E os sintomas óbvios surgem lentamente
Aos pouco ficamos grávida-mente prenhes
Com vómitos não só matinais
Que vamos despejando em bandejas de prata
Ou nas esquinas da vida
Sentimos apetites estranhos e inconstantes
E no arroz doce juntamos os tentáculos do polvo que nos prende
Ou um pouco de pimenta nos cereais matinais
Por vezes sentimos a baixa tensão
Desmaios súbitos
Perdemo-nos sem consciência dos actos
Num encolher de ombros insignificante
Às coisas que nos dizem ser fundamentais
Outras…com força de Golias
Capazes de fazer revoluções nas ruas desertas de cidades perdidas
Erguemo-nos do leito antes do despertar
Alongamos os dias pela noite fora
De dia somos a multidão
Que fingimos manipular
Em empurrões descontrolados no metro
Ou em reuniões “importantíssimas” em que exigimos que conste em acta todas as nossas falas.
De noite acolhemos a solidão do corpo
No copo cheio de alma até ao fio dourado que nos limita
E bebemo-nos
Deliciando-nos com o caviar na ponta dos dedos
E sem quase nunca nos apercebermos
Um dia parimo-nos sem hora marcada
Com dores de parto só nossas e tão naturais
Sem direito a anestesias
Mordendo os lábios dos beijos em sangue
Gritando em respiração descontrolada
E nus nos braços embalamo-nos antes do berço
Afagamos a nova pele sem mácula
Olhamo-nos nos olhos
Sorrimos
Sem parecenças com todos os outros que se dizem familiares
Sabendo-nos nós apenas pela existência do cordão…
Que nunca conseguiremos cortar.
Seremos filhos da Outra
Da puta
Da vida
De um Deus menor
Ou do Diabo que nos tentou
Sem registo seguiremos incógnitos
Até que a morte nos separe …

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