Com_traste

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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Anonimato

Ninguém o conhecia
Costumava parar na esquina do quiosque
Comprava sempre o jornal de letras (aprendera a ler desde muito cedo e nunca teve jeito para desenho)
Um maço de cigarros sem filtro
(Gostava de ter motivos para cuspir em publico)
Uma caixa de chicletes de menta
E seguia até ao café do mercado

Também sem ninguém o conhecer
Serviam-lhe a bica curta com o habitual copo de agua
Até ao final da manhã seria visto por centenas de pessoas que por ali circulavam
Não tinha carro, e era habitual vê-lo fazer grandes caminhadas a pé junto ao rio
Falava com os pescadores...sem nunca ter ido à pesca
E não eram raras as vezes que um cão vadio o seguia até casa
E algumas noites adormecia no tapete velho junto à porta
O nº da porta era o 48
A caixa de correio estava identificada, e todos sabiam que ali não valia a pena colocar publicidade
Não consta que recebesse muitas visitas
Nem o vizinho do lado se lamentava de barulhos estranhos... partilhavam a ligação à Internet
Um dia nunca mais ninguém o viu
E consta que diariamente era lamentada a sua ausência
Bom Homem...disseram alguns quando questionados pela menina da televisão...e em todas as reportagens não costa que alguém fizera referência ao seu nome de baptismo.

E até hoje a caixa do correio identificada ...
Pode ser que volte
Pensa o vizinho
E no tapete ainda dorme o cão
Boby
Que todos continuam a alimentar diariamente...
Bom amigo, o Boby...o melhor amigo do Bom Homem!


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