Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Anestesia


Ela
Adormecia a dor com o garrote apertado no peito
A demência
Com o fumo a ervas doces do chá da avó
Snifava o pó dos móveis
Lambia a própria saliva
E acaso ainda sentisse
Fazia sangrar os pulsos
Só um pouco
Na dose certa
Aquela dose que dava a consciência do acto
Tinha sempre um toque de arte nos pulsos
Ou nas faces
Mesmo nua
Todo o corpo de nódoas negras
Mostrava a ousadia digna de mestre
Desenhava a cor purpura
E a traços bem vincados
Tudo o que em si vivia e doía
Inexplicavelmente excedia
A dose humana para que um ser tão puro fora formado
Quando asfixiada por mordaça
Seus olhos negros cintilantes
Inundados
Falavam do quanto seu corpo desgraçado
Aguentava calado
Um mês inteiro
Um ano
Um tempo infindo
Condenado
À anestesia necessária
Para aguentar a imensidão da dor
É louca
Está possuída
Coitada, o mal dela é ser mal fodida
Diziam os seres andantes do reino
E ela com o pulso aberto pelos sentidos
Auto induzia a dose diária
Da anestesia necessária
Para sorrir como louca
E não deixar que descobrissem a verdade
O mal dela era ser tanto ou tão pouca
Que todo o espaço que tivesse
Era nada mais que um pedacinho
Daquilo, que para ser gente
Precisava
Nem reclamava terra fértil
Chega um espaço
Poderia ser um espaço de céu aberto
Sem amarras
Antes que se acabe a anestesia...
E resolva mesmo enlouquecer

T0 aluga-se
Lia-se nas vitrines da cidade
Mas tinham tecto...paredes
Numero de porta pintado
Se alguém souber
De um espaço
Pode ser um quarto sem mobilia
Com janelas como paredes
Tecto de estrelas
Fechaduras estragadas
Faça o preço
Ela paga a pronto
Em dinheiro vivo
Todo bem contado
1
2
3
4
5
6
7
8
Sôtor...deixei de sentir as pulsações...disse uma voz de branco
Desligue e aponte a hora do óbito
Respondeu outra voz...de um branco sujo.




Sem comentários:

Enviar um comentário