Com_traste

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sábado, 26 de maio de 2012

Les Uns et les Autres


Afasto os cabelos do rosto
E espreito o dia que teima em correr à minha volta
Gosto da sensação de liberdade que me dá a existência despenteada
A partida, rumo ao destino escolhido
Numa rota fora dos mapas
Numa bússola cardíaca desorientada
Eufórica
Origina uma ventania localizada
Em remoinhos capilares
Sento-me numa esplanada familiar
Como se estivesse ali pela primeira vez
Nada existe como pensei antes
Nada nem ninguém existe do mesmo modo
E continuam todos iguais
Ajeito a madeixa teimosa
E deixo entrar uma outra visão das coisas
Eles falam, mexem-se, sorriem e ficam sozinhos em olhares igualmente encobertos
Como serão os olhos deles agora?
Aquela pedra está fora do lugar e parece que ninguém vê
Ninguém vê!
Sentirão?
Riem…sentem!
Fixando um individuo
Isolando-o da massa envolvente
E parece-me um ET
O vento abranda
O cabelo liso e penteado expõe-me
Gosto de ser temporariamente normal
E sorrio pedindo mais uma cerveja
A ideia de enrolar os próprios cigarros faz-me sentir mais útil, ocupada e segura
Uso os dedos com mestria
Lambo mais que lábios e sonhos
Faço a minha liberdade de viver em risco
E fumo-a
Com filtro
Sempre com filtro
Dá uma certa ilusão de consciência
A morte sempre usou mortalha
E eu vou nua neste caixão
Que passeio nos próprios ombros
A sorte é que volto a ficar despenteada
E eles…não vêem as pedras fora do lugar
E sentem
Sentem muito
Em estridentes gargalhadas
O que torna inaudível o meu silencio
Gosto deles!

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