Com_traste

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Era uma vez...ainda!


Há um lago ao fundo do caminho
Era de uma cor incerta, uns dias ao olha-lo parecia azul, de um azul que só existe nos teus olhos quando te ris ( quando te ris, os teus olhos possuem todas as cores do arco-íris)
Outros, era levemente verde, como a brisa da tarde de primavera e nadavam nele as almas nuas das sereias, só podendo ser vistas pelos pescadores de sonhos.
Nos dias em que negro ficava, a chuva caia no sentido das nuvens de tal forma que seria impossível andar com os pés no chão. E era lodo, limos imundos, a tornar o lago num pântano de onde saiam todos os monstros das histórias em que não se é feliz, nem mesmo no fim.
À volta do lago os malmequeres desfilavam vaidosos, mostrando as pétalas coloridas às borboletas sem asas que se arrastavam por ali. Todas elas saberiam que um dia teriam asas das cores dos malmequeres que as cativaram antes.
O caminho que levava ao lago era de terra vermelha, daquele barro com que se fizeram todas as coisas e os homens.
Era raro encontrar pegadas recentes, todas as marcas eram antigas, umas levemente visíveis e outras bem marcadas e exageradamente grandes…havia quem dissesse que dava azar pisar numa pegada de antes, e cada vez que por lá passavam era vê-los saltitar como tolos, apenas para não correr o risco de constatar a mentira.
As pegadas recentes, por não existirem, não tornavam os homens tão tolos como as pegadas antigas..mas havia quem as conseguisse sentir pelo tacto…e só quem andasse descalço saberia ao certo se passara por ali alguém recentemente. Este facto dava aos homens pobres um poder especial e nunca mais quiseram andar calçados, mesmo se o pudessem fazer.
Este caminho que levava ao lago tinha curvas apenas nas subidas, havia quem levasse dias a conseguir chegar ao lago, principalmente se fossem homens calçados.
Nas bermas, as árvores tinham os troncos desproporcionais às copas, levando a crer a quem passava, que não se aguentariam muito na primavera quando chegasse a altura de terem frutos. Mas nessa altura, curvavam-se no sentido oposto a quem passava , como que a abrir caminho ou a evitar dar cuidados desnecessários. E não consta que alguma delas tenha cedido ao peso da vida…desde ai se diz que elas morrem de pé, mas é apenas a ignorância dos homens calçados que o diz, porque os homens descalços, tal como sentem o presente, também sabem que há coisas imortais.
Quando alguém chega ao lago, e dependendo da altura do ano em causa, é quando acontecem os milagres.
Se estiveres a rir, os homens que nadarem nus no lago sentirão o valor do esforço do caminho e morrerão como as árvores..
Se chover na direcção do céu, só os homens descalços saberão que existem sereias e transformam-se em peixes voadores. Os calçados apenas podem ouvir os cânticos mas nunca o dirão a ninguém.
Se houver lodo, dependerá da escolha de cada um a possibilidade de encontrar o caminho de volta.
Contam que desde que o lago é lago, e desde que o barro da estrada deu origem às coisas e aos homens, que nestes dias poucos foram os que conseguiram regressar…mas todos os que o conseguiram vinha mais fortes, caminhavam juntos e cada um trazia apenas um sapato nos pés.
Há um lago no fim do caminho…








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