Com_traste

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

ObjectivaMente


Há toda uma vida por detrás das coisas
E ela sabia-o pelo odor que deitam os pressentimentos
Pela sombra que faz a intuição
E essencialmente pela vida que as coisas possuem em cada nosso respirar
Os objectos tornam-se sujeitos na subjectividade do toque
E em cada contacto os tornamos vivos
Aquele isqueiro que agora acariciava…tornava o bater do coração audível
Ao mesmo tempo que iluminava os seu olhos, num receio controlado
Na certeza da chama do acto impróprio
O próprio cigarro sorria-lhe antes de se deixar morrer nos seus lábios
Eram como cúmplices na morte
Apenas o cinzeiro não se tornara intimo…objecto facilmente substituído pela palma da mão
O copo, de vinho translúcido, era o seu alter ego tomando forma
E ela possuía-se assim nas coisas com vida
Não tendo certeza alguma, ou apenas uma
A certeza da loucura da mente que só ela dominava
Deixa por isso o corpo aprisionado
Num toque social de complacência
Não imaginando o quanto se tornariam intimas
Ela e a sua camisa de forças fundiam-se
Objectivamente possuídas
Tornaram-se amantes logo apôs o primeiro contacto
Entrando nas veias uma da outra
Fecundando-se mutuamente com o génio da loucura
Ao ponto de se aceitarem tal como são
Chegando por vezes a pensarem-se gémeas
Não desvendando qual das duas fora antes a primeira
Qual a que vestia quem naquela hora
E ao longe uma gargalhada sonora
Fazia-as recuperar os sentidos
E despiam-se momentaneamente da mente dividida
Para se vestirem da mente social
Nessas alturas um vestido negro saia do roupeiro
E ela sairia à rua como vieram ao mundo
Nua
Completamente nua de si
Como no tempo em que os objectos não tinham vida…normalizada ainda.

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