Com_traste

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Filhos da Loucura



Não fora ao acaso
O corpo que lhe deram à nascença foi escolhido cuidadosamente
Todos os Deuses concordaram na eleição
Seria ela
A virgem de formas robustas
Curvas sensuais
Pele de seda
E uns seios volumosos que fariam inveja às fontes ressequidas
Teriam um rosto normalíssimo
Apenas adornado com um olhar profundamente misterioso
E ela cresceu
Fez-se mulher na terra como foi desenhada nos céus
E à medida que crescia
Naquele corpo criado à medida dos Deuses
Todos os homens iam morrendo
Cada um que a amara não mais voltaria
Nem dela fariam cama de parto
Mesmo tendo ela dado à luz centenas de amores
Era infértil, diziam
E como a terra que não gera vida
É abandonada à sua sorte
Ficando apenas ali…a ser torrão que se pisa
E nesse abandono ela pariu-se em múltiplos seres
Amamentando cada um como se fosse fonte de vida
E todos eles a olharam no rosto
Perdendo-se em seus olhos de mistério
Ainda hoje embala no colo descarnado
Em cantilenas celestiais
Todos os filhos que deu à luz
De todos os amores que inventou, cada vez que com um homem se deitara
Em todas as terras há uma louca
Apenas porque os Deus pactuaram no acto da sua criação

(pintura de Amando Reis)

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