Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Entrançada


Nunca encontrava guarida nos sentidos partilhados
Mexe, remexe, arranha, esgravata
Na tentativa vã de provar a sua não existência
Cansa-se
Por vezes encontra-se exausta de tanto se questionar
Exageradamente concreta a realidade
E ela sentia-se incapaz de pensar antes de agir sobre ela
Contradizia-se, era um numero dos censos como qualquer outro
Sabia-se contar para o caos comum dos números desvalorizados
Teimava em se inventar em nomes próprios
Nunca perdendo os impróprios
Sabendo-se amiga de infância..não lembrava de quem
Recordava-se num tempo ido, em fotografias cinzentas
Em molduras de casa do campo
Lembrava um jogo de escondidas onde descobrira os figos da índia…sentira prazer no desprazer ao saber que não eram comestíveis…sorrira mesmo com fome.
Cortaram-lhe as tranças de uma forma anormal
Um corte único de forma dolorosa, as lágrimas saíram da mesma maneira que aquela grossa trança…uma queda sem nada a amparar…lembrava-se ainda da ausência de cabelo no seu pescoço e de como odiara a mão, a tesoura e o poder dos outros que lhe diziam querer bem.
Jaz num saco de plástico a prova, já cadáver…da sua alma castrada
Uma vez foi num copo vazio de iogurte, que nunca soubera a que sabia, que lhe voltaram a cortar a alma…mas pouco a pouco descobrira a formula do ódio…que surge em gotas pequeninas na humilhação, no abuso de poder, nos olhos distantes de quem não sabe ver ao longe…e quando perto, olham-se apenas ao espelho.
Anestesiava o pensamento com ausência da lógica social
Sentia-se bem nesse vácuo em que a realidade dos outros não existia..talvez a primeira vez que vira o mar tenha sido uma ilusão..gostava de pensar que fora miragem aqueles dias em que a levaram até ele…e ela vira a imensidão que a formava.
Saber-se real naquelas ondas, naquele ir e vir, ora em fúria, ora em calmaria..e de uma profundidade incalculável…era doloroso demais…para ter que regressar depois e continuar dormente.
Vagueava entre o antes e o depois
Tantas vezes!!
Como num carrossel em alta velocidade
Circulava em viagens pré pagas
Mantendo os cabelos ao vento e as ideias soltas
Gostava daquela sensação alucinante
Em que se misturava o tempo do que já fora com o que ela sabia vir a ser…entrançando o cabelo e a mente.
As imagens do presente nunca surgiam…impossível reter a visão de algo em mutação constante
E sendo figo da índia, disfarçada de mar revolto…recordava-se menina de tranças que um dia voltaria a ser…sem que houvesse arma capaz de as matar!

Sem comentários:

Enviar um comentário