Com_traste

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Manipuladora


Manipuladora
A realidade
Olha-a nos olhos e ela mente descarada..mente
É…e já não é
Será?
Foi?
A opinião generalizada manifesta-se no sentido comum das coisas
Nunca encontrou guarida nos sentidos partilhados
Marginal
Esta ideia fixa de se ter que ser, não a deixa ser
Iluminada criatura que vê para além dos outros e de si
Abusadora dos sentidos, é o que é!
Nos dias em que se mistura aos tons cinzentos
Descobre-se na imperfeição perfeita dos outros
Não se deixando ir na maré
Também não nada contra ela
Como quem fica a boiar à superfície
Sabendo profundo aquele mar de gente
Odeia o tubarão e o golfinho
Chegando a amar ambos, nas marés calmas
Indigna-se com os hábitos das algas
Emaranhados seres
Viscosos
E verdes…verdes!!
Qual vómito das sereias depois de prenhes dos pescadores
Gostava do surrealismo do cavalo marinho
Chegava a rir à gargalhada com estúpida forma da criatura
Pura inveja..ela sabia-o
Perdia horas a fazer boquinha de peixe
Apenas para se sentir ridícula…ou ver as bolhas de ar a fazer-lhe lembrar bolas de sabão
As botas velhas que morreram afogadas
Esperavam ser resgatadas em vão
Ela macabramente ficava a contar os pares
Trocando muitas vezes a lógica…fugindo a qualquer possível combinação
Estava sempre ao lado dos náufragos
Insistia em lhes continuar a escrever o diário de bordo
Sentava-se na margem e registava a força da vida cada vez que algum morria…
Trazia sempre uma bússola no bolso …para a qual nunca olhara
E sem binóculo, via a ilha que diziam existir a Norte
Fez-se ancora sem quase dar por isso
Continha a respiração e deixava-se ficar no fundo para que ninguém fosse levado pela corrente
Muitas vezes era a própria corrente…detestava águas paradas
Olhava os iates e via jangadas
Ria-se da hipócrita ilusão da ganância
E fazia colares de conchas apanhadas na única praia deserta
Onde nem lugar havia para colocar a toalha
Matava as horas…sacrificando dias
Sem esperar nada…queria o mundo inteiro
Lembrou-se da possibilidade de colocar uma mensagem dentro de uma garrafa…
Sorrindo escreveu na areia…que juntou grão a grão..enchendo uma garrafa que deitou ao mar…
Nada lhe dava mais prazer que deixar aos outros a liberdade…de a encontrar ou não…o facto de ter uma letra pouco legível era um pequeno pormenor.
E deixou-se ficar à espera…

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