Com_traste

Com_traste

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O sentimento


Morreu na praia
Quando a onda mais ousada dele se enamorou
Já era aquela hora em que se deita o amor com o sol
E se levanta a luxúria com a lua
Na areia as conchas fechavam-se por saber ser tarde
Os búzios já não guardavam o som do mar
E as pessoas, essas fugiam à pressa para não sei onde
Para fazer não sei o quê
Porque tinha que ser
Mas ele ficara
Não temia a solidão
E ter aquela imensidão de mar apenas para si dava-lhe a sensação de ser realmente importante
O seu lugar não era a toalha
Nem junto à rocha
O seu lugar era o todo
A existência
Natureza pura
Agua
Luz
Sal
Terra
Fogo
E ele sabia-o, mas nem por isso se julgava capaz de abraçar tanto
E isso deixava-lhe um vazio no peito aberto
A sensação de poder, mas não ser capaz
O limite
Que não era dele…
De que serve então ser-se tanto
Se nos ficamos reféns ?
Naquele dia, especialmente naquele dia
Naquela hora
Naquele sitio
Sentou-se
Olhou o horizonte
Sentiu os grãos de areia a bater no rosto
Voando com o vento pareciam setas
A sensação de punição de um Deus qualquer
Fê-lo aceitar a dor de bom grado
E quando a onda mais ousada chegou
Deixou-se morrer na praia
E desde ai…ele vai e vem
Ao sabor da maré
Entre o sol e a lua

Sem comentários:

Enviar um comentário