Com_traste

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Aqui jaz o tempo morto


Morreram as horas
Algures
Alguém precisa de vir reconhecer o corpo
Antes que seja tarde
Mas desconhece-se que alguma vez as horas tivessem gente que as reconhecesse
Espera-se
Mais um pouco, dizem cientista preocupados
Disfarçam a certeza de ser em vão a espera
E o mundo ausenta-se
Num retiro negro de luto
Não há herdeiros
Não existe testamento
E apenas o vento…parece chorar
Especula-se sobre a possibilidade de existir uma vontade expressa em vida
Doar o corpo para a ciência
Ser cremado e lançado ao mar
Ou apenas talvez sepultado, como os mortos anónimos da vida
Abre-se uma porta da morgue
E entra um dedo inquisidor
E num gesto claramente indicativo da certeza que trazia
Aponta
E culpa
Todos os olhos são postos nas horas
Suicidou-se
Não aguentou a solidão
Falou a palma da mão
E de punho fechado
Todos os presentes contiveram a dor
E com pena
Fingiram escrever a certidão
As horas
Foram-se
E sem tempo para mais preocupação
Fizeram a cova
Enterraram caixão
Escreveram frases de promessas vãs
E horas mais tarde
Ouviu-se um pranto
Lento
Segundos passaram
E só eles choraram
As horas que se foram sem razão.

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