Com_traste

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Aguas furtadas


Em segredo
Subo as escadas devagar
E junto com as tuas memórias
Aguardo por ti
Chegarás à mesma hora
Como no dia em que não vieste
E eu ficarei sentada na mesma janela
De onde nada se avista
E vejo-te chegar por fim
Caminhando apressado
Olhas meio envergonhado
Receias saber-se de mim
Sobes as escadas com cuidado
Abres a porta sem barulho
E entre a luz e o escuro
Despes a roupa e sorris
Esqueces o mundo lá fora
E eu
Esqueço quem sou assim
Somos roupas do baú
Passado bem fechado
Fantasmas com correntes
Relíquias sentimentais
Juntos uma vez mais
Como quem ama a ilusão
Do sótão somos o chão
Que cobrimos de jornais
E na noticia recortada
Lê-se a morte dos amantes
Aqueles que fomos antes
E hoje uma vez mais
Damos a alma que pena
À carne que se consome
Morremos nos velhos beijos
Como só morre quem já morreu
O tempo não acontece
Ali nada nos julga
E nos teus braços me sumo
Na minha boca te afundas
E quando se abrir a porta
O mundo volte a nascer
Estarei na mesma janela
À espera de te ver
Chegarás à mesma hora
Como no dia em que não vieste
E nada disto aconteceu

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