Com_traste

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crime Calado


Crime calado
Cansam-me as palavras repetidas
No eco que fazem ao cair em mim
Necessitaria reinventar significados
Como forma de não me cansar de ouvir
Mas elas são redondos seixos de praia
Saltando pé ante pé mar adentro
Provando a existência do milagre…
Impossível matar palavras por afogamento
Nem que vos mateis a chorar sobre elas
Será em vão…
E decapitar palavras é tontice
Todas elas há muito que andam perdidas na lua
Ok, matar a catatua não seria a mesma coisa!
Pensei dar-lhes outro tratamento
Mata-las por falta de sustento…
À fome e sede sucumbiam
Mas que bebem as palavras?
Bebem o sangue das nossas veias
Em cocktails decorados com rodelas de limão
Em copos habilmente polvilhados de sal
E que comem as palavras?
Pensamentos acabados de pensar
Ou até as pequenas tenras e frágeis ideias a germinar
Comem também sentimentos
Mastigados ou roídos
Come-nos todos os sentidos
E é vê-las engordar
Que desilusão…
Matar assim as palavras seria a nossa condenação
E se as prendêssemos entretanto
Atadas ao canto
Na sala de espera?
Para não morrer de tédio
Falariam entre si
E alguma coisa me diz
Que a morte surgiria
Como quem decide morrer assim…
Suicídio em cadeia
Lenta e indolor
A palavra morre de amor…

E eu sem crime me puni

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