Com_traste

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

...



Senta-te
Olha-te no vazio dos olhos fundos desse espelho
Sorri
Ou aprofunda a expressão do rosto que marcam os veios em torno dos lábios
Isso
Agora risca a sombra desse olhar
Lambuza de branco a envolvente das palavras
E no centro o rubro fingimento
Nos lábios que nada expressam de verdade
Coloca a bola no nariz
Perfeito
Nas maçãs podres do rosto
A chapada
Dando aparência ao contraste
Com as mãos
Essas mãos que agarram sem grande convicção as coisas
Penteia a falta de cabelo
Disfarçando brancas com a cor do imaginário
E cobre as ideias de liberdade
Com um chapéu de palha
Da que antes as andorinhas fizeram ninhos
E imagina a primavera
Na única flor que brota
Papoila em ramo de espiga
Dando à tua imagem o ridículo da visão dos outros
Veste-te agora
Esse corpo mais frio ainda
Depois dos remendos
Bocados pouco uniformes
Disforme também no padrão
Que não segues deliberadamente
E nos pés
Os descalços sapatos
Que pisarão o palco em passos pouco aderentes
Mas antes de ires
Olha-te novamente nesse olhar fundo do espelho
Apenas para que não te restem mais reflexos
Que esse
Viver assim
Até que a morte te separe
Do palhaço que há em ti

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