Com_traste

Com_traste

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

TOURADA


Andava cansada
Farta das lides
Ora domesticas
Ora selvagens
Raramente se encontra satisfeita com a sua performance
Nas domesticas
Sabia o sitio de todas as coisas
Mas parece que elas tomavam vida própria
E depois de bem colocadas
Era sempre fora do lugar certo, que ela as voltava a encontrar
Um quadro que é quadro deveria saber estar exposto
Mas parece que não lhe bastava..estar
E ora tombava para a esquerda ora para a direita
Um bibelô
Será sempre um bibelô
Mas os dela não
Eram bibelôs com personalidade bem vincada
Uns partiam-se e ficavam ali a “bibelôsar” na mesma
Orgulhosos de si
Altivos
Acumulando o mesmo pó e indiferença que os outros
Outros
Eram objectos com utilidade
Mas mesmo assim, reafirmavam-se todos os dias
Como que saindo do armário, serviam para o oposto da sua condição
Ou até para nada..inutilizando-se, como quem diz que só vive e serve quem quer
Mas as lides selvagens
Aquelas com que ela nunca aprendera a lidar
Que nascem da selva dos acasos
Das coincidências
Do lugar certo e hora certa, cúmplices
Que de forma audaz, impulsiva, genuína e quiça improvisada, ela enfrentava
Davam-lhe luta
Olhavam-na nos olhos como que a tentando à prova final
Ela não gostava de ver sangue
Não defendia a pena de morte na praça publica
Mas atrevia-se a entrar na lide
Sem capas enroladas
Nem passos de cavaleiro apeado
Muito menos usava montada que lhe facilitasse a festa
Ousava pois enfrentar a fera nos olhos
Nua, debaixo das luzes do traje
Dia a dia descobria afinidades
Paixões com a besta feroz
Conseguia ver sempre o lado bom da “coisa”
Sabia-se aprendiz
Incapaz de se ver levada em ombros
Muito menos que lhe dessem a honra sanguinária
De cortar rabos e orelhas
Cada aplauso ou olé
Entenderiam apenas como um acaso momentâneo
Alguém mais distraído que seguia a lide como os cabrestos
E ouvia sinos em vez de chocalhos
Acusando vida em movimento
Para que não se descuidasse nem um pouco
Era astuta
E dançava ao toque da banda
Alimentando sempre o improviso do passo
Mas cansava-se também…
E sabia impossível manter arrumada toda aquela confusão
Mas em dias de arrumação
Coloca tudo em gavetas
Limpava tecto e chão
E viesse alguém ou não
Estaria tudo guardado
E só pedia em pensamento
Que ninguém ousasse abrir os seus compartimentos
Receberia então os chapéus
E sorria à ovação.

1 comentário: