Com_traste

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Claustrofobia




O medo
De estar cá dentro apertada
A criatura fera amansada
Grita emudecida na voz
Em expressões faciais imperceptíveis
Por mais outro medo atroz
Do que quer que faça o seu rosto
Seja quase o oposto
Do próprio rosto que pôs
E nesse faltar de ar por segundos
Respira ofegante pelos olhos
Morde orelhas
Franze as faces
Lambe o nariz
Funga da boca
Quase criatura louca
O ser que liberta de si
E mesmo quase quase por um triz
Que não se liberta de vez
Aguenta só mais esta vez
Aperta o peito
Encolhe os ombros
E num contar até três
Esconde a besta amedrontada
Quando já não faltar quase nada
Fala para dentro baixinho
Aguenta só mais um pouquinho
Diz ela de si para si
E o medo de ser assim
Acaba por lá ficar
E agora abre os olhos
Respira fundo
E sorri
Não sabendo bem o que diz
Deixa a boca falar
E dá conta do sucedido
O medo foi oprimido
E ela já pode gritar





Quase beijo



É na ponta dos dedos que trazes o arrepio
Da pele quente em contraste
E da língua bailarina o fio
Que tece o risco
Em zig zag paranóico
Pelo corpo em demência
Chegas e partes
Sem ausência
E na boca o beijo
Quase
Não fossem as loucas palavras
Donas de tudo o que pensas
Os lábios seriam nascentes
E o beijo quase palavra que inventas






Era noite na Serra



Era noite na serra
Cerrada a noite sem estrelas
Os homens
Os Homens eram lobos com uivo em espera na garganta
A lua ausentara-se para um outro lugar
Mais um pouco
Pediam uns aos outros para esperar
E eles, sempre juntos na serra
Esperavam
O frio congelava as unhas
Pouco a pouco..alguns queixavam-se de um peso no coração
As barrigas colavam como cola o gelo à língua húmida
E os olhos
Os olhos ardiam na escuridão
Uniam corpos na esperança da força dessa união
E faziam fogueiras com os restos do pão
A noite caia ...e caia ...e caia
E No meio da alcateia...a raiva surgia
Escutou-se um uivo em desespero
Cerraram-se os olhos
Cerraram-se os dentes
Cerraram-se os punhos
E na serra em que cerrada era a noite
Corria o sangue mais do que nas veias
Doíam mais que uivos na garganta
Fez-se da noite da serra
A força da esperança
E da guerra de quem não faz a guerra
Dos Homens que se tornaram lobos
Surgiu da noite da serra
O dia que iluminou a escuridão





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Auto-Retrato



Ele era um Homem cheio
De si
De saberes
De duvidas
Preocupações
Cuidados
Tão cheio que não havia cinto que conseguisse apertar aquela pança
E abraços só de uma multidão
Ia a todas as manifestações para além de se sentir abraçado
Tocado
Envolvido
Se sentir compreendido e olhado como igual

Ele era um Homem grande
Cresceu para lá do nível normal de altura
Dali do alto poderia ver o que ficava para lá do horizonte
Um gigante assim tem medo
Medo do que vê
Medo que possam duvidar do que vê
Medo de ver sozinho

Ele era um Homem farto
Farto de saberes
Farto de incertezas
Farto disto
Daquilo
Dos outros
Farto de si
Um homem farto assim, é perigoso
Pode vomitar quando menos se espera
Pode chorar como um menino
Pode perder o tino
Pode gritar
Pode desistir

Ele era um Homem anormal
E de tão diferente
Um dia pensou ser outra coisa qualquer que não um Homem
E...
Emagreceu
Minguou
Desfaleceu
Ele pensou ser um Homem morto
E morreu...

Moral da história...Se te matas, morres!


sábado, 24 de novembro de 2012

Ilibada


A ti sombra
Do que sonho
Penso ser
Projecto
Entrego toda loucura da responsabilidade
De concretizar a imagem
De mim
Tu que não coras
Não temes
Não hesitas
Tu
Que sem palavras não corres o erro de mentires
Assume-me
E tira-me todo o peso da matéria
Consistência opaca da vida
E não receies a noite
Porque me és preciosa
E eu inventarei uma luz que contra mim projecte
Para existir nessa imagem
Que me persegue
Cá dentro
E ouso deixar sair por cobardia
Chamando vitória
A essa troca de papeis
De parede
E assim projectar em ti um eu castrado de alma
Que usa o corpo em movimentos de parto
Fictícios
Como se pudesse ser actriz principal numa peça sem actos
E assumir a representação em pancadas descontroladas antes que suba o pano
De costas para um publico sem piedade
Represento-me
Em ti
Perfeito álibi

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dar valor ao valor




Aprende-se
Talvez
Por vezes somos um bicho
Negro
Feio
Escorregadio
Matando a fome à bruta
Saciando o monstro interior
Vagueando pelas ruelas
Espreitando as janelas
Gritando merdas sem pudor
Mas o valor
Do que nos é dado sem promessas
Da vontade honesta
Doces cuidados
Mimos em doses milagrosas
Carinhos nas palavras e nas mãos
Faz do bicho imundo
Um ser mais verdadeiro
E dando o valor certo aos actos
Sem precisar de artefacto
As contas são sempre certas
De nada vale fingir que não se vê com o coração
O valor do valor
É tanto...quanto o que te é dado sem razão.

Contas




Ilusórias contas
Que somadas são glórias tantas
Rolando na ponta dos dedos
Tempos partilhados
Desejados segredos
Mas de contas tantas
O fio que as une é ténue
Delicada junção
Antes dava voltas e voltas até mais não
E agora a história desenrola
Como bicho de conta
Que mudou porque aprendeu
E sem fio de união
As contas rolam no chão
Gota a gota prateada

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Basium...






Naquele dia
Era já noite e disseste bom dia
E eu sorri por te pensar acordado
Mas tu
Eras um menino adormecido
Que ainda meio assustado
Crescias
E eu olhei-te com ternura
Vi o amanhã em embrião
Imaginei a cor dos dias tal e qual a cor dos teus olhos
E eles ainda eram um arco-íris
O que faz a vontade de acreditar que é possível
Adivinhar a felicidade que sonhamos
Como se o futuro fosse feito de vontades
Nós cremos e queremos tanto!
Naquele dia
Era já noite e disseste bom dia
E vi que sorrias consciente da hora
E eu
Era ainda uma menina de tranças
E corria atrás das borboletas que trazias no peito
Deixaste que brincasse endiabrada
Sorrias quando caia no leito
Olhavas-me como se olham os amor perfeitos
E eu corava por me saber silvestre
Naquele dia
Era já noite quando os dois nos despertamos
E o sol entrava pelas janelas entreabertas
Deste-me um beijo como quem diz boa noite
E eu abracei-te
Como quem abraça o dia
E nesse encontro de dias trocados
Fez-se a eternidade do que é possível acontecer amanhã

DE(u)S HUMANO




Ele
Era um homem de vícios
Animal amestrado à força
Humanamente criado à própria imagem
Desenhou o pensamento fértil
Numa prostituta
Que usou pagando em maçãs com bicho
Do bicho
Fez de conta
E inventou a cobra
Era esbelto e sedutor
Fez morrer mulheres de amor
E homens que duvidaram do seu ser
E em orgias
Pintava alegorias em pedras
E destas fez a roda dentada
Depois da primeira tentação
Acusou o infiel
Sendo ele o amante da mulher
Violou as regras sangrentas
Matou irmãos herdando tudo
E subiu aos céus
levando cruz como bandeira
Aterrou na lua
De lá viu mares e navegou
Viu caminhos e andou
Viu homens
Amou
Matou
Viu ainda um mundo
E criou fronteiras
Ao descer das nuvens
Contou histórias
Alimentou a fome dos meninos
Com natais
Sonhos
Coisas irreais
E adoçou bocas garganeiras
Do mel fez a abelha com ferrão
E das flores o néctar de outros deuses
Brincou ao policia e inventou o ladrão
Olhou os homens e cansou-se da própria criação
Então, criou o lobo para comer o pastor
E das ovelhas fez o sacrifício da dor
Viu tudo ao longe
Como menino com birra
Chorou mais por sono do que por tristeza
E querendo adormecer
criou o fim do mundo
Numa escritura
E ao longe
Todos os homens de boa vontade
Deixaram-se morrer
Apenas para provarem que Deus existe

A vergonha envergonhada



Descia a rua envergonhada
A criatura nua
Cabisbaixa
Corava
Falava o zé do tasco
A Maria do 5º esquerdo
Falava o padre
O ardina
A beata
E a puta fina
Falava o mudo
E o mundo inteiro
Descia a rua envergonhada
A criatura nua
Cabisbaixa
Corava
Puxava a saia que não trazia
Tapava o rosto com o cabelo
Dobrava o tronco até ao joelho
E o peito farto cobria
Falava a tia
A prima da outra
O homem velho e o puto
Falava o policia
O ladrão falava
Falava a esquadra
O batalhão
O mal empregado
E o patrão
Falavam todos à boca cheia
E ela nua
Descia a rua já sem pudor
Mostrava a alma cheia de frio
As dores inteiras em manchas no rosto
E um corpo nu..expunha o vazio
Descia a rua entre os cochichos
Ela...a séria
Pura
Casta miséria
Descia a rua envergonhada
Da nudez dos outros que a língua tapava
Um dia e outro
Um ano e mais dias
Uma vida e mais vida e meia
Tanto tempo
Tão nua
E a mesma rua uma vida inteira...tão feia e tão fria!

O melhor dos dias...



O melhor do dia são as noites
E destas, o melhor é o amanhecer
As manhãs são barrigas de aluguer dos dias fecundandos de esperança
E à tardinha olha-se a noite que caminha vagarosa trazendo noticias de um amanhã qualquer

O melhor do dia são as noites
Quando as horas passam em silêncio
As estações são bancos de espera eterna
E escuta-se a queda das folhas de plátanos centenários
Contando histórias de uma realidade paralela

O melhor do dia são as noites
Nela os dias são vagabundos com abrigo
Enrolam-se memórias em novelos gigantes
Queimam-se cartas que um dia pensámos escrever
E damos colo a todos os seres que parimos

O melhor do dia são as noites
No escuro todos os olhos são estrelas
Todos os rostos trazem esperança
os corpos são quartos de lua cheia
E todas as mãos são um possível adeus...

O melhor do dia são as noites
Que trazem sonhos
Como beijos adocicados
A ousadia
Do brilho das estrelas nos nossos olhos
E na pele o negro aroma do café

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Noticia de ultima hora...


Foi apanhada a perigosa senhora que arrancou à dentada a cabeça de um policial..




Depois de passado o perigo, os policiais juntaram-se aos manifestantes num momento de alegre descontracção e convívio...



Houve meninas que não quiseram dançar alegando cansaço...mas agradeceram simpaticamente o convite.




Um senhor amuou e disse: já não brinco!
Parecia que estava fora de jogo mas o arbitro não viu


Brincou-se ao jogo dos potes...




Houve um senhor que teve que ser posto fora da brincadeira por dizer palavrões e fazer gestos impróprios com as mãos, coisa feia!!


Brincou-se ao pé coxinho


E no fim beijinhos e abraços


Ao longe a dona do jogo sorria ...enquanto o Passos lhe relatava a forma como foi alegremente passado o dia em portugal . Disse ainda que os meninos maus que no inicio queriam estragar a brincadeira, foram cuidadosamente identificados e retirados de cena, graças à correcta intervenção das forças de paz no local, devidamente apetrechadas e treinadas e formados para defender e atacar com método!




Ai Moça, pena já não teres estado cá para brincares ca gente, foi tão giroooo pahhhhhhh (disse ele)





segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O meu medo

Antes era pequenino
Do tamanho das minhas mãos quando não conseguia apertar os atacadores
Do tamanho dos meus olhos quando tudo parecia enorme e eu não chegava
O meu medo era um menino verde que vivia numa árvore no meio da floresta
Falava comigo à noite e era ele que procurava o papão do telhado
Gritava ao velho do saco
Espreitava debaixo da cama para que os monstros não me tirassem o sono
Prendia gigantes para que eu pudesse correr na rua ao pé coxinho
Era o companheiro dos soluços das birras
Pegava em cada lágrima gigante dos meus olhos e fazia um rio onde os barcos de papel navegavam
Segurava as estrelas lá no céu, para que eu as contemplasse sem correr riscos
Um dia inventou as cores e desenhou nuvens cor de rosa para servirem de casa aos pássaros azuis..sempre temi o seu cansaço nas longas viagens
O meu menino verde ensinou-me as letras com que se escreviam histórias
Nessas histórias, ele inventava sempre palavras que me tirassem o medo do rosto..."e foram felizes para sempre", dizia...e eu sorria
O meu menino verde tinha voz de fada e cantava todas as canções que adormeciam os corações mais inquietos, alegravam os olhos mais tristes e calavam os choros
O meu menino verde era tão fofo como o colo da minha mãe e doce como os sonhos da minha avó.
Era para ele que eu corria quando nem sabia ainda andar...e levava-me com ele a viver nas árvores...fizemos ninho e eu cresci
Cresci tanto que deixei de ter medos pequeninos...
Queria tanto que ele voltasse...
Porque o mundo voltou a ter monstros debaixo da cama...e eu tenho medo!


sábado, 10 de novembro de 2012

Do Umbigo




Há o cordão
Que aperta, nos forma ou deforma
Alimenta ou mata
Há o cotão
Que junto pode encher colchão
Ou em caso de intimidade
Fazer corar de vergonha
Há o piercing
Que dá beleza e graça
Com dor que até disfarça
Por causa maior se impor
Há a tatoo
Que tal como ponto cruz
Desenha em forma de arte
A parte
Com linha
Há o ventre
Que dá ao ponto central
A segurança
Caso não seja pança
Para dança oriental
Há ainda a ideia
Ponto de vista pessoal
O cunho original da criação
Há o universo
Que faz deste ponto o centro
E gira à sua volta como tonto
Há o saliente
Por pura falta de cuidado
Há o disfarçado
Por massa gorda em excesso
Mas entre todos há um elo
Que quer queiram quer não
Salta da barriga para o chão
Até sendo inteligente
É o dono do umbigo
Que mal formado e narciso
Tendo mais olhos que barriga
Faz crescer o orifício
De forma descomunal
E enche como balão
A vazia cicatriz
E um dia...Pummmmmmmmm
E dirá preocupado
Mas que é que foi que eu fiz?
E com arte no disfarçar
Talvez volte a enrolar
Os restos...do ser vaidoso!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Do Humor


Há a gargalhada estridente
E do dente a carie
Há o amarelo sorriso
E o pouco siso
Diz o povo
Do humor há o bolo com frutos secos e passas
O gótico
Há ainda o que origina depressões
Por francas incompreensões
Há o que dá inveja ao Relvas
Por diplomas suados
Há aquele esforçado
Querendo se natural
Como o leite desnatado
Este humor não faz bem nem mal
Há aquele mais bruto
Que até da morte da mãe ri
Há o apaixonado
Que acaba por ser cego
Há ainda o interessado
Que cobra como as putas
Há o humor forçado
Que casa pelas más línguas
Há o de perdição
Mas este só se for iletrado
Há tanto humor como gado
Nas planícies a pastar
Mas não há nenhum como o do pastor
Com a cabra faz amor
E diz estar enamorado
E depois há o alentejano
Que sendo um pouco egocêntrico
é humor bem caçado!



Da Revolução...






É aquela coisa rubra
Que sai pela boca em gritos
Aquela força que puxa os braços ao alto
A dor que se mistura com esperança
A Euforia que na menina dos olhos dança
A revolução é aquela coisa a que temos direito quando já nenhum outro existe
É a liberdade violada exigindo justiça
É uma onda gigante que nos leva na corrente
A salvação quando se não é crente
É risco que se assume por outros
Coragem para matar a cobardia
A carta de alforria na prisão
O pão na boca do petiz
A palavra na folha do jornal
A revolução é o beijo na boca do soldado
A arma do condenado
É solução ao problema armadilhado
É a fogueira das bruxas disfarçadas
É a esperança...
Para ressuscitar os mortos justos
A revolução é fado deste pais
E quando os loucos se levantarem
De nada valerá gritar clemência
Porque não há maior demência
Que a miséria com que nos brindais
E a pouca consciência dos ais
Que de parto programado provocam
Há ainda a pouca vergonha
Seus proxenetas cabrões
De nem saberem ser pais
E se fossem castrados
Nenhum mal viria ao mundo
Porque vossos filhos
Porcos imundos
São filhos sem terem pais

Do tempo...


No beiral
Onde o ninho da andorinha se aconchega
Onde a gota da chuva brinca
E a cal que outrora ardente agora esfria
Enamoram-se os meus olhos
Do tempo
Das memórias
Da beleza caiada
E nesse telhado que nos cobre
Crescemos tantas vezes no escuro
E talvez um trovão ou o vento
Acordem em nós o medo
O medo de ser grande demais para fazer ninho
Ou talvez...olhar como antes as gotas do beiral daquela casa
Terá um nome novo este pássaro
Que aninha agora no peito e ainda nem chegou a primavera
Será algo mais que chuva esta gota
Que cai como goteira interior ritmada
E aquela cor esbranquiçada
Cobre agora a nossa nuca
No beiral
Fazem ninhos
Todos os pássaros encantados
E assim é eterna a primavera

Das coisas...

As coisas boas nascem nas árvores
Como as maçãs
As tâmaras
Os figos
O chá com o nome da minha avó
O verde dos olhos e da esperança
O arco íris
E os pássaros
As coisas boas são doces
Puras
Amorosas
Verdadeiras
e voam...


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Da loucura


Dizem desconhecer a causa
Falam da desordem mental que agita os cabelos
Dos olhos abertos escandalosamente inquisidores
Ou fechados num "não quero saber" ilegal
Dizem escutar uns sons estranhos
Como quem uiva ou quem aguenta dor
Fingem não saber seu paradeiro
Recusam assumir a culpa
É sempre um desgosto de amor
Uma história mal contada
Uma morte dolorosa
Uma qualquer origem pouco original
Mas o que escondem afinal
É o reflexo
Do espelho quebrado pelo horror
Da disforme descendência de Deus


Est (R) anho


A matéria semime(n)tal maleável
Que nos forma
Resistente ao mar dos olhos ou ao vento das palavras
Molda-se ao sentimento
Sucumbe ao corrosivo do produto exterior com que nos banham
Que quando aquecido transporta mais do que a si mesmo para o lado de lá
Em caixa preciosa adorna a jóia natural que guarda a pureza do sujeito
E apenas se deforma pelo calor das mãos cuidadosas
Est(r)anhaMente pensa-se menos puro
Pela pouca luz que emana aos olhos dos outros
E por vezes deseja ser um outro mais valioso
Até à hora em que um est(R)anho igual o ama.
E nessa liga apertada se unem num só


O parecer torna-nos putas




Nas esquinas ilusórias
Em sociais contratos orais
Passam de boca em boca como os vírus
As formas dos corpos animais
Que domesticam em circos coloridos
E, caso te iludas e com elas vais
O amor prometido em vaginas colectivas
Não são mais que doenças fatais
E entre o que és e o que pareces
Há um cais de um amor em porto sentido
De onde podes apenas partir em sonhos
Porque a realidade não é tua
Vendeste o amor no momento que dele duvidaste
Fica então nesse cais
Num aceno eterno de adeus

Arritmia



A noite e o dia
Em batidas aceleradas
Da língua que lambe a palavra do desejo
Tocando constantemente a mesma silaba apaixonada
Lambe o dia vagaroso
Morde a noite apressada
E na boca a língua salivada
Inunda o corpo inteiro de amor perfeito
lambuzada, a vontade pudica rende-se
Os nós dos dedos em pancada
No chão de cama que sem mãos fizeram e desfizeram
Batem quase em desespero
Na hora em que unos os corpos se renderam
Ao grito do prazer em cavalgada
E o ritmo do silêncio foi quebrado
Pela consciente voz em queda livre
Beijo que fala
Palavra que ri
E uma dor no peito descontrolada
Fez-se noite mordendo os lábios
E de novo o dia em ponta de língua serpenteada
O sangue em corrida desenfreada
Rumo ao epicentro
Do furacão em sabores de sexo degustado
Que em ritmo acelerado
Teimoso bate no peito

Quebra noZes




Grão a grão
Bago a bago
O rubro sabor da romã em açucarada calda
Delicia-me o palato da imaginação
E nessa cama que de folhas secas me deito
Aconchego a alma almofadada de outono
Ao corpo quente da castanha
Nas tardes que anoitecem mais cedo
E a aguá pé enlouquece a memória
Das estações onde viajamos
Sempre carregando passados que sonhámos diferentes
E presentes sem laços de cetim
Talvez o destino seja mesmo um futuro que nunca alcançamos
Embora ano após anos se abra apetitosa a romã
Nos meus lábios infantis
E nos meus olhos se passeiem os teus enamorados
Só nos cabelos se escreve a história
Como se nada disto fosse verdade
Contamos e recontamos
Todas as épocas
Em frutos
De árvores de um paraíso inventado para nos salvar...de nós!

Gostaria ainda de me surpreender com bondade, a alegria, a suposta humanidade do humano...porque já não me conseguem surpreender com a maldade!

in.. .frases na sopa by me

domingo, 4 de novembro de 2012

Quantas são?

Quantas são?
Se algo me definisse era um turbilhão
De vento nos cabelos a agitar ideias
De sentires na pele a arrepiar o corpo
De emoções baralhadas ao segundo
De sabores agri-doces na ponta da língua
De quereres
Tantos quereres
Que de tanto querer me desengano
E num rodopiar volto ao inicio
Em espiral eufórica
Qual cordão umbilical que me dá de novo a vida