Com_traste

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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A vergonha envergonhada



Descia a rua envergonhada
A criatura nua
Cabisbaixa
Corava
Falava o zé do tasco
A Maria do 5º esquerdo
Falava o padre
O ardina
A beata
E a puta fina
Falava o mudo
E o mundo inteiro
Descia a rua envergonhada
A criatura nua
Cabisbaixa
Corava
Puxava a saia que não trazia
Tapava o rosto com o cabelo
Dobrava o tronco até ao joelho
E o peito farto cobria
Falava a tia
A prima da outra
O homem velho e o puto
Falava o policia
O ladrão falava
Falava a esquadra
O batalhão
O mal empregado
E o patrão
Falavam todos à boca cheia
E ela nua
Descia a rua já sem pudor
Mostrava a alma cheia de frio
As dores inteiras em manchas no rosto
E um corpo nu..expunha o vazio
Descia a rua entre os cochichos
Ela...a séria
Pura
Casta miséria
Descia a rua envergonhada
Da nudez dos outros que a língua tapava
Um dia e outro
Um ano e mais dias
Uma vida e mais vida e meia
Tanto tempo
Tão nua
E a mesma rua uma vida inteira...tão feia e tão fria!

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