Com_traste

Com_traste

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Caduca



Renascia em folhas soltas das árvores
Querendo ser o Outono onde se escreviam todos os poemas
Naquela terra em que os homens morrem com o tempo
Ninguém vencia a saudade das memorias
Apenas ela e o vento insistiam em não lembrar o antes
Ora brisa
Ora vendaval
Corriam para baixo e para cima despenteando os cabelos dos homens loucos
E sorriam, estes sorriem sempre
E não consta sentirem saudade seja do que for
Ela inventara-se em poema propositadamente para que fosse lida
Letra a letra
Cuidadosamente sentida nos versos mais breves
Apressadamente olhada nos mais longos
Nunca se tem tempo para os poemas maiores
E ela sabia-o
De certa forma esforçava-se a não ser mais do que aguentavam os homens
E com o vento passava as páginas antes que os olhares se movessem para longe
Não sentia saudade nem pressa
Apenas a vontade de ser poema escrito em folhas
Ousadia sua talvez
Mas sempre viveu nas margens da realidade
Como nota em rodapé de uma página em branco, onde tudo ainda pode acontecer
As paginas sem numero ordenavam-se pela lógica das estações
Mudando de cor caso chegassem as andorinhas
E em circulo confundiam a ordem natural da vida
Tocando-se
Misturando
Fecundando a terra e a alma dos homens
Dando ao poema a possibilidade eterna de se transformar


E quando ela chamava o vento, era pre…texto
Para dançar sem tempo na folhas que caem das árvores
Que se desfazem depois no chão
Enrugadas e secas
Mas que ao serem tocadas pela ponta dos dedos
Eram a visão maior dos que viviam às escuras
E tornavam-se terra
A mesma terra onde morrem os homens sem tempo para ler poemas
E onde nascem todas as árvores com folhas que morrem sem memória.

Sem comentários:

Enviar um comentário