Com_traste

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Real Ficção




De um lado da trincheira
Um menino de olhos tristes, negras vestes, negros olhos
Atirava pedras aos ninhos dos pássaros com uma fisga imaginária
Dois dedos em V
Uma linha retirada da bainha das calças
De cócoras
Mal lançava uma pedrinha escondia-se ofegante
O coração aos saltos e o rosto a expressar um misto de sensações
Medo e prazer
O alvo, um ninho no mais alto ramo do pinheiro
A um triz de cair
Ele sabia o que era a morte
Ele sabia que ela era feia, velha, má e que vestia de negro
Mas a vontade de ir aos pássaros, como diziam os outros, fazia dele um quase homem...tinha que ser!
Volta a erguer a cabeça por entre a trincheira inventada, um tronco morto como já vira em filmes, era um bom escudo
Esta vai ser a derradeira, pensa, enquanto sem tirar os olhos do ninho que balançava lá no alto, estica a linha entre os dedos, a ao som de um Pazzzzzzzzzzzzz,que deixa sair com raiva por entre os lábios...lança a pedra rumo ao alvo.
Em simultâneo, escuta-se um som mais ao longe...seco mas bem audível...e logo depois o grito da sua mãe, a indicar a hora do recolher obrigatório...
Guarda a fisga no bolso...local onde guarda a realidade e a ficção. Foge ofegante..de coração aos saltos ...e no rosto, dois olhos negros de medo.

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