Com_traste

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um café e dois dedos de conversa....


Qualquer coisa se passa no tempo que não passa e não melhora
Se faz sol..é quente e queima
Se faz frio…os ossos doem como se fossem partir ao mais pequeno movimento
E depois o vento…
O vento que me despenteia e leva com ele o que sobra pelo chão
Os trapos, as folhas, as palavras…todos os gestos que ficaram por fazer
Os momento em que se roda a colher na chávena de café quente
É longo…é eterno
E o açúcar sem se dissolver aos meus olhos
Aquele lago castanho em remoinho, hipnotiza-me
E o cheiro de outras terras ..outros lugares, entra-me pelo corpo adentro
E mexo…para que se entranhe em mim
Mas arrefece
E com o frio passa o cheiro do lado de lá da margem
Já não me apetece leva-lo à boca
Perde o sentido agora
Perco a miragem
Perco a vontade
O tempo lá fora continua quente!
Disse a senhora de olhos verdes, cabelo de um loiro “desnatural,” corpo de idade incerta
Olho-a e sorrimos as duas
Ambos com a convicção de que o tempo é nosso aliado nas horas vagas
Sorrisos desses cúmplices, matreiros…quase diria que são sorrisos de piscar de olho…
Talvez ela tenha a minha idade..talvez!
Sem lhe pedir traz-me outro café…bem quente, diz ela ao mesmo tempo que a sorrir retira a chávena de café que jaz frio…
Tenta-me, penso.
Naquele momento resisto a ceder à confirmação dos seus pensamentos sobre mim…levanto-me, pago os dois cafés e digo… até amanhã!
Qualquer coisa se passa com tempo…ou…com o tempo, passa-se qualquer coisa…já nem sei!
Caminho até à esplanada da frente…a sombras das arvores refrescam o espaço ocupado pelas mesas, sento-me, olho o empregado…novo, de estatura mediana, cabelos lisos e negros de um tamanho exagerado mas disfarçado com o elástico que o aperta…aproxima-se, diz boa tarde e eu olho-o…um café bem quente se faz favor, peço!
Com adoçante? Pergunta-me.
Com açúcar!! Respondo de forma firme e orgulhosa…aposto que devo ser das poucas a pedir com açúcar, penso.
Traz-me o café…
Repito os movimentos lentos do abrir o pacote de açúcar..vejo-o entrar na chávena e desaparecer..mexo e apresso-me a leva-lo à boca antes que arrefeça.
Está abafado hoje, digo.
Mas não obtive resposta…
Olho a chávena vazia…e vou embora sem dizer até amanhã!

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