Com_traste

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terça-feira, 22 de março de 2011

Assombrações


Adormecia a sombra na sesta da tarde
No mesmo colo em que acordava depois
Era sempre assim
Todos os dias se cansava de me seguir um passo atrás
E merecidamente adormecia
E nesse único momento do dia
Em podia ser sozinha
Corria as ruas
Os becos
E as ruelas
Trazendo na mão um balão em forma de lua
Procurava à pressa a luz do dia
Nos bolsos onde a escondia sempre
E antes que fosse aquela hora, em que os sonos acordam em sobressalto
Soltava os sonhos pela terra seca
Rolando de cova em cova
Abafando a descrença
Eram redondos e perfeitos
Coloridos
De tamanho certo
Cabiam na mão fechada num momento de medo
Era sempre pouco o tempo a sós
Logo depois a sombra acordaria
Meio contrariada
Negando o facto da sua ausência
Chamando-me insana
Por lhe dizer que adormecera
E eu ria
Não a querendo contrariar
Seria por pouco tempo
Muito pouco
À mesma hora
Na próxima tarde
Voltaria a se cansar
E eu sorria
Em cantigas de embalar
Para que o próximo sono
Me trouxesse a liberdade da infância
Em que a sombra é pequena
Quase invisível
E nós somos do tamanho de um mundo cheio de esperança
Nessa noite
Antes da ultima hora a que chamam tarde
Adormeci
Enquanto a sombra me velava…de olhos bem abertos

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