
Se trago as mãos vazias porque me pedem tudo?
Acaso não saberão ver o quanto nada é mesmo coisa nenhuma?
Mas insistem Pedem tudo uma e outra vez.
Olho ainda para elas… não vá eu já nem sentir o peso de tudo
Não vão elas ter algo que vos pertença e eu não sinta
Olho-as mas vejo apenas coisa nenhuma
Cheias de um vazio imenso São duas mãos de nada
E mesmo assim, como um louco que não sabe o porquê das coisas
Num gesto natural de como quem sêmea o trigo em campos ressequidos,
Estendo as mãos e dou tudo o que trago nelas
Um vazio imenso
Um enorme nada
Depois sinto-me mais leve, jogara fora o peso que trazia
O vazio agora é vosso
Fartem-se
Lambuzem-se de gulosa ignorância
Encham-se de tamanha ambição
A ganância que nos olhos vos brilha
Agora satisfeita, incha-vos as bocas
Os estômagos dilatam
Engordam a olhos vistos os egos
Reflectidos nos sorrisos incontidos de vitória
Um ou outro lutam na disputa de um nada maior
E eu simplesmente olho as mãos
Que vos satisfizeram a mesquinha gula do nada
Vejo-as agora cheias
Repletas de pesada culpa
Não me resta nada mais que as mãos
As mesmas mãos que voltarei a encher de nada
Para que vos possa voltar a dar tudo
(Enquanto isso, disfarço a vergonha escondendo as mãos nos bolsos ... )