Com_traste

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Do pé para a mão


Do pé para a mão
Troco a tinta que pinta a unha
A negro
E ouso dizer ser um toque original
Porque não tenho raízes nos sonhos
E eles crescem pelo corpo a cima
A mim adentro
E talvez apenas nos meus olhos
Consigam sair a folhas de um verde tenro
E nos lábios as flores de pétalas macias
Do pé para a mão
Eu cresço e me insinuo
Orgânica
Para só depois dar um toque artificial
De verniz



UmBilical X

Eu escrevo a medo as palavras que não entendo
E solto o significado do que desconheço
Até ao momento que leio
E me identifico
Quase a medo
Dou-me
Mais a vos que a mim
E sei que nunca conseguirão saber o quanto me têm
Apenas e só porque ninguém sabe valorizar o que desconhece
E eu nem existo ainda
Apenas transcrevo o que poderia ser
Acaso eu pudesse ser a louca
Correndo nua pelas linhas de qualquer destino
E pousasse na mão exacta
Na hora em que a dessem a ler
Num acto de coragem único
E fosse identificada com o um sorriso cúmplice e nervoso
Por saber certo o que não crê



UmBilical IX

Aquele ar que respiro
No mesmo espaço onde os outros habitam
Origina a mutação do meu ser
Eu que sou Eu
Sendo os outros
Nunca me encontrarei
Acaso nunca consiga respirar o meu próprio ar
Impuro
100 por cento oxigenado por mim
Sabendo eu da minha incapacidade de ser
Sem vós
Preciso, urgentemente de me aprisionar
Num local onde ninguém me contamine
E depois de vos voltar a desejar
Talvez consiga aceitar o facto
De que não consigo respirar sozinha
Mas
Gostava tanto…
Ou num boca a boca
Aceitar que me retirem a vida
Original

segunda-feira, 25 de junho de 2012

UmBilical VIII

Um dia
Algures escondida no meio da floresta
Encontrarei o lobo a quem despirei a pele
O cordeiro sem Deus para dar em sacrifico
O gigante que me levará no bolso
O duende que me deixará enamorada
A fada a quem pedirei três desejos inconfessáveis
A bruxa que me venderá maçãs que comerei
De todos eles terei medo
De todos eles terei curiosidade
A todos eles amarei
E algures
No meio de um monte de silvas com amoras
Encontrarei o espelho
E no reflexo
Um bicho estranho, feito de todos os seres que lá habitam



Convulsão





Como a espuma da cerveja a entornar do copo
Como as palavras em rodapé que ninguém lê
Como o mar a invadir a praia
Como a ultima gota
A ultima vontade
Como o vento em moinho velho
Como os beijos na distância
Como o cigarro aceso num outro
Como a sombra já sendo noite
Os restos do dia
O que sobra do almoço
O pouco que falta
O muito que se espera
Como a santa que virgem desespera
Em pasmos
Entra e sai de mim
O excesso
Do que talvez nem tenha

UmBilical VII



Eu mato e esfolo o vulto oculto na esquina
Com o olhar imobilizo-lhe o pensamento
Piso-lhe a sombra
Esfaqueio-lhe as palavras
Coloco a nu o seu objectivo
E na hora exacta de o colocar no caixão
Deito à terra o vazio
E nesse mesmo buraco junto a indignação
Abro o livro sagrado que trago dentro
Leio a página marcada a agua e sal
Adoço a prece com sentimento
E guardo o punhado de terra fechado na mão
Nos bolsos interiores
Viro costas
E que alguém enterre a preceito o defunto






terça-feira, 19 de junho de 2012

Íris



Por falar em cores
Lembrei do campo verde na primavera
Era eu menina franzina
E rolava pelo loiro das searas
Quando secavam os campos na rapidez do mundo dos crescidos
Lembrei do escuro da noite
Como fantasma debaixo da cama
E ao mesmo tempo as estrelas douradas cintilavam nos meus sonhos
Lembrei ainda da cor dos insectos
Que saltavam sobre verdes patas
Nas rubras pétalas das papoilas
Enquanto eu desfolhava malmequeres
Desejando o bem de olhos fechados
E agora
Olho os teus olhos
E lembro o tempo até hoje
Cresces vertiginosamente dentro de mim
E dás cor a todos os meus dias
Sinto-me menina de laço no cabelo
E brinco com as cores das bolas de sabão
Sabendo hoje o efeito dos raios do sol
Nego a transparência que o tempo dá às coisas
E sopro
Todas as cores do vento
Para encher os sonhos
Da cor que tu e eu inventámos
Quando a minha íris faz amor com a tua

true color



A cor do sangue que nos corre nas veias
Serve de pigmento ao mundo que nos ilude
E nós quase sempre cegos
Quase sempre confusos
Quase sempre perdidos
O quadro que te pinto
É cama onde te deito
E o corpo despido
Cálice
Do vinho que bebo
Trago a boca manchada
Da cor que te corre dentro
E nos meus olhos
A cor do vento
E quero-te branco e negro
Quando te mordo
A cor dos meus olhos muda
Quando te sorvo
E do leito faço nuvem branca em azul céu
Tu voas dentro de mim
E eu sou o corpo do arco-íris
Confusa e alucinada
Vertendo aguas
translucidas

sábado, 16 de junho de 2012

Realejo





Dando à manivela
As palavras recontam o passado
Soavam como música predefinida pelo tempo ido
E foi assim
Diziam elas
Em dó grave e si menor
A mão que fazia girar o cilindro do tempo
Mexia-se a uma velocidade inconstante
Tornando variável a musica aos meus ouvidos
Como se fosse possível contrariar a pauta original
Ali e agora o que já foi é novamente tudo
Memórias
Sentimentos
Sorrisos
Saudade sem ir embora
E nesse movimento mutuo
Rolaram mais que pensamentos
Lágrimas
Em dó menor
Gargalhadas
Em si agudo
Um tempo dentro de outro tempo
Um corpo num outro corpo
Reinventando o presente
Num rodar de passos sintonizados
E de olhares seguros

Mesmo que o amanhã seja apenas 3 dias e duas noites
Algures…soara o realejo
Mesmo depois de amanhã













Umbilical VI




Como ousar ser eu sem vos deixar rubros?
Há momentos em que me excedo
E mesmo sem me ultrapassar, sei que vos choco
A minha casta pura
Na vossa ilusão
Na minha optica
Alcança o cume do prazer
No momento em que não me controlo
E por entre bafos alcoolizados
Palavras e gargalhadas exageradas
Ouso ver-vos tão mortais como Deus
E vós a mim
Amanhã, quando o sol ousar também nascer
Depois de ter morrido mais um dia
Eu sou capaz de vos olhar nos olhos
Através dos óculos escuros com que vos protegeis
O prazer maior
Está no conhecimento da vossa/nossa incapacidade
De nos aceitarmos
Ou nos negarmos
E esperar pelo dia prometido
Para ousar sair de olhos nus à rua

o Bem e o Mal



Eu
Quantas vezes sou os dois
Na confusão que se instala no turbilhão de emoções
Com vermes que se alimenta de vísceras
Sente-se um rastejar que causas náuseas
Tonturas
Um mau estar geral injustificado clinicamente
Os olhos rubros
Cuspindo ódio
Rancor
Quantas vezes só dor interior que não sabe por onde sair
E cospe-se fel
Inconscientes
Dói a dor exterior
Por saber que nós estamos algures lá no fundo
Boiando entre excrementos
Momentaneamente ausentes
Até que num respirar fundo
Nos cobrimos de vómito
Num processo de auto exorcismo
Retiramos de nós todo o mal a que um Deus qualquer nos condenou
Por sermos Humanamente Divinos
E nos sabermos
Conhecermos
Bons
Num orgasmo individual
Depois de nos masturbámos até à exaustão
Entramos no reino dos céus
Entre anjos com sexo
A quem demos asas apenas porque amamos
Reconhecemo-nos
Tão bons e tão maus quantos outros
Mas especiais
Por sermos nós
Pecadores assumidos
Mas conscientes do nosso lado maior
Que nos faz andar de frente e sorrir ao espelho...em cada novo acordar..e depois do copo completamente vazio.

aCorda



No sono audaz
Sonho o possível de mim
Mesmo com venda e atada
Vou tão longe quanto iria de olhos bem abertos e livre de movimentos
Acaso ninguém me ouse acordar
E mesmo que o façam
Eu queira continuar no sono em que vivo

Click



Preciso de uma palavra que desencadei em mim todas as outras
A chave mestra da caixa forte
Onde se guardam todas as possibilidades das letras
A formulação de coisas com significado
Para que faça sentido o que penso
Mas só encontro o desencontro do eu
Meu e dos outros
Não encaixo
E o puzzle fica sempre incompleto
Houvesse uma outra forma de eu dizer
Em concreto todo o silencio que me toma
Que talvez eu pudesse descrever esta coisa
Vazia
Ausente
Sempre presente
Que me faz sentir a falta da formula certa
Para me diluir em letras repletas de significado aos vossos olhos

Umbilical V



Não percebo as pessoas
Entendo os Deuses em quem não acredito
Subir a um palco
Não é subir ao céu
Mas babam-se como Baco
E afogam-se no próprio vinho
Lambem-se arrastando os corpos decapitados
E fazem de Zeus, caso não se sintam amados
E Afrodite, dengosa criatura
Ousa amar a própria figura
Idolatram-se
Prometem-se eternos
Mas ai de quem não lhes retribua o beijo
Perdem o pejo
E rogam pragas até ao salvador
E aqui D’el rei
Como podem não lhes beijar os pés?
E vestem e despem-se da nudez
Que o Rei vai nu e ninguém vê
Passeiam-se orgulhos no andor
E o espelho já quebrado
De narciso enfeitiçado
Nada sabe
Nada ouve
Nada vê

Umbilical IV



Tem dias que a palavra amor enche o meu peito.
Pequenina, singela e cheia de força
E eu, rendo-me
Há coisas pequeninas que sei que existem
O teu olhar acusador
Menor que o dedo que escondes a medo na minha presença
A tua língua
Cheia de fel, que usas em grupo e sem pudor
Hoje até a ti beijaria
E é tão bom sentir assim...
Encher o peito de um ar puro e raro
Dizer ao mundo que se é feliz...mesmo assim
Porque nada sois
Nada me atinge
E eu sinto-me completamente consciente
Do que sou e desejo para mim
Para ti
Se fosse crente hoje pedira perdão
Já te julguei
Já te acusei
Já te odiei
Já te chamei todos os nomes impróprios
A ti que serás Maria ou João
Mas não peço
Acho que o que o que sinto hoje chega
Encho o peito e respiro fundo
E todos entram e saem como ar puro
Sinto-me grande
Tão grande que em mim só existe espaço para algumas letras
Sorrio
Por ousar chegar ao limite da minha humanidade e ir ainda mais além..

pré_Conceito



Nos, os monstros
Que criamos com posse
Que amamos com poder
Que fazemos dos outros coisas
Que temos os outros
Que nunca somos os outros
Que enlouquecemos em segundos
Que nos idolatramos
Que nos fo.demos só plo prazer pessoal
Que usamos
Que sofremos por nós mesmos
Que desumanamente somos humanos
Que comemos sem fome
Que não nos conhecemos
Que não confiamos
Que não amamos
Que não damos
Que queremos
Que exigimos
Que condenamos
Que cegamos de raiva e poucas vezes de amor
Que fecundamos sem pudor
Que dizemos É MEU
Que choramos por nós
Que nos confessamos apenas para poder continuar a pecar
Que amamos a um Deus umbilical
Que nos ignoramos
Que desconfiamos
Que maltratamos
Para quando os direitos dos animais?
Que de humanos têm mais
Cuspo na sopa que como
Lambo o cu ao dono
Cago na rua que moro
Rio do homem que cai
Choro só quando me doí
Ladro ao bêbedo
Canto ao ladrão
Sou mais cão que o cão
Deito-me feito cabrão
E aponto o dedo ao leal
Conto histórias sem moral
E a culpa é sempre do outro
Sei leis
Sei matérias
Sou douto em coisas etéreas
Alquimista
Mágico
Sou tão capaz quanto louco
Haja a porra de um Deus maior
Que acabe com esta dor
E acabe com este monstro

Umbilical III



Dizia eu
Que quero ir por ai
No caminho nunca trilhado
Na descoberta constante de limites que sabemos ultrapassáveis
Viver é tão pouco se nos bastarmos com o aceitável..com que é imposto
O único limite somos nós e a aceitação do outro
Havendo um outro que nos entenda
Que nos siga ou nos ajude a não enlouquecer sozinho
Então nós poderemos saber ao certo quem somos
Até onde poderá ir a nossa capacidade de viver
Até que ponto ousamos ser nós mesmos
E todas as coisas pequenas passam a ser tão grandes
Os dias terão todas as horas que quisermos
Comer é um acto divino
E nós os Deuses
Passear nu pela casa ou apenas sair à rua de mão na mão
É a felicidade plena
Como plena é a sensação de que ousar ir mais alem..faz sentido
Faz todo o sentido
O amor dito em palavras obscenas
O acto quase animal cheio de ternura
E doer o corpo por não conseguir acompanhar a mente
Quente
Que se refresca num banho ou num copo de vinho

Dia Santo



É domingo
É domingo como poderia ser um outro dia qualquer
Haja Deus que nos oriente os dias.. inúteis somos nós!
Os domingos acontecem sempre da mesma maneira
Acordam, ora com sol ora com chuva
Ora com frio na pele ora com carnes a destilar
E dizem sonolentos: Bom dia!
E o meu corpo não entende a felicidade das palavras madrugadoras
Estica-se preguiçoso nos lençóis e tenta manter-se enroscado no vazio do impasse
A esta hora haverá gente a ir para à missa, pecadores, aposto.
Outro a correr alegremente em parques verdes..eternas crianças.
Outros a preparar almoços de mesas cheias..colos e cordões umbilicais, castradores mas amantes verdadeiros.
Outros vagueando por ai...os ausentes, os sem cama, sem tecto, sem nº de contribuinte
E eu...estendo-me preguiçosa no leito
Penso-me rio..e abraço as margens de algo irreal
E imagino-me a acordar num outro dia qualquer...sorrio, por saber que se não fosse domingo eu não acordaria assim...
Completamente à margem...do tempo e dos outros
Fosse eu crente e daria graças...
Preparo o banho e enrosco-me novamente em mim